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Peça teatral PENéLOPE ganha segunda temporada após sucesso de público

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Peça teatral PENéLOPE ganha segunda temporada após sucesso de público
Foto de Elenize Dezgeniski.

Discutindo as relações familiares, com forte e sutil subversão do papel da mulher na sociedade, a peça da la lettre criação abre 8 novas apresentações de 10 a 20 de agosto, no Teatro da Caixa Cultural em Curitiba

Peça teatral PENéLOPE ganha segunda temporada após sucesso de público
Foto de Elenize Dezgeniski.

A estreia nacional e presencial do espetáculo teatral PENéLOPE, em abril de 2023, lotou todas as sessões da mini temporada apresentada no Teatro José Maria Santos, em Curitiba. Mais de mil pessoas passaram pelo teatro nas primeiras apresentações deste trabalho que reflete e debate as relações familiares entre homens e mulheres na atualidade. Agora, o público poderá assistir novamente, desta vez na Caixa Cultural, de 10 a 20 de agosto, a jornada que inspira-se no clássico da Odisseia, de Homero. O espetáculo dirigido por Nadja Naira e interpretado por Uyara Torrente e Pablito Kucarz, através de um roteiro emocional e questionador, escrito por Lígia Souza, subverte os papéis convencionais da mulher e do homem. “Nesta PENéLOPE, tudo é ressignificado. Não falamos mais de um casal, mas sim de irmãos”, revela a autora.

Lígia inspirou-se na personagem Penélope, que, na Odisseia de Homero, fica 20 anos esperando o retorno do marido Ulisses, que lutava na Guerra de Tróia. “Esse estado de espera, que confina mulheres no espaço doméstico aguardando a volta da figura masculina, parece ter perseguido Elas por anos. Revisitando a história de Penélope, surge a montagem da la lettre criação”, afirma. Nesta nova versão, contudo, a dinâmica do texto para o palco foi repensada e baseada nas relações familiares, alterando o lugar estruturado e construído socialmente.

O público acompanha os encontros e reencontros de dois irmãos ao longo de dez anos. Nesta relação, é ele quem permanece cuidando dos pais e da casa em que cresceram, enquanto ela, uma mulher desprendida e viajante, segue e ganha o mundo. Ligia Souza aquece o debate da presença da mulher na contemporaneidade já que “faz parte da arte repensar e problematizar as condições atuais, desmistificando o papel Delas na manutenção e no cuidado da família, assunto que ainda é um tabu e merece a discussão em novo olhar”.

A peça cria marcas na equipe que trabalha nesse projeto independente desde a pandemia, quando em 2020 o grupo se encontrou virtualmente e criou uma maneira de entender o espaço digital. Na versão web-peça, que era realizada em lives do Instagram, o elenco, direção e produção fizeram apresentações para mais de 2.000 pessoas.

PENéLOPE marca também a volta de Uyara Torrente aos palcos do teatro. “São mais de 10 anos dedicada somente à música nos vocais da Banda Mais Bonita da Cidade, o teatro é minha formação original”, conta a atriz. Ao lado de Pablito Kucarz, ator curitibano muito ativo na cena, eles são dirigidos por Nadja Naira, que imprime nos artistas a vida dos irmãos, seus afetos, dilemas e desamores. Em PENéLOPE, o histórico de contracena que os dois atores já haviam construído em outros trabalhos trouxe uma camada e um vínculo importante para a relação dos personagens, que pode ser claramente observada em cena.

 Projeto independente da la lettre criação e produção da Pomeiro Gestão Cultural, a montagem é viabilizada sem recursos, apenas com investimento da companhia. Em contrapartida à gratuidade do acesso, a companhia oferece ao público a proposta de aquisição da dramaturgia em livro editado pela própria la lettre, além de cartões postais exclusivos com frases do texto, nos valores R$35,00 e R$5,00, respectivamente. Estes produtos estarão disponíveis antes e após as apresentações, na lojinha montada no hall do teatro.

SINOPSE

Dois irmãos se encontram depois de muitos anos sem contato. O que essa escolha vai gerar? Eles possuem um passado em comum, algumas lembranças que surgem de um passado compartilhado. Eu conheço você! Mas, ao mesmo tempo, o luto, a distância e o silêncio mantido por anos faz surgir uma culpa e um ódio pela ausência.

Quais são as ficções possíveis de quem fica e de quem parte?

SERVIÇO

PENéLOPE – Teatro adulto

De 10 a 20 de agosto I Quinta a sábado às 20h e domingo às 19h.

Teatro Caixa Cultural – Curitiba –  R: Conselheiro Laurindo, 280 – Centro

Entrada Franca. Retirada de ingressos a partir de 1 hora antes no local. Sujeito à lotação.

Classificação: 14 Anos I Duração: 60 Minutos

FICHA TÉCNICA

Texto: Ligia Souza

Direção: Nadja Naira

Assistente de Direção: Paulo Rosa

Elenco: Pablito Kucarz e Uyara Torrente

Desenho de Som: Álvaro Antônio

Iluminação: Paulo Rosa

Cenografia e Identidade Visual: Pablito Kucarz

Direção de Produção: Igor Augustho

Produção Executiva: Bruna Bazzo e Rebeca Forbeck

Cenotécnico: Fabiano Hoffmann

Fotografias: Elenize Dezgeniski

Assessoria de Imprensa e Redes Sociais: Bruna Bazzo

Realização e Produção: Pomeiro Gestão Cultural

Realização e Criação: la lettre criação

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

MULHERIDADES

Dando sequência à pesquisa de Lígia Souza em dramaturgia criada por mulheres, PENéLOPE parte de diversos debates sobre mulheridades em voga nos dias de hoje. Porque é ela, sempre a mulher, quem espera? A peça rompe com essa estagnação, acreditando que a importância do trabalho está em criar novos imaginários e novas narrativas para as mulheres. O público poderá identificar uma situação muito comum, cotidiana, na relação entre irmãos, mas a peça propõe construir novos estigmas para as convivências entre homens e mulheres, mesmo que num contexto familiar.

Na peça o irmão afirma para a irmã: “Você é a filha, é mulher, teria mais jeito com nossos pais”. E a personagem feminina responde com uma provocação: “Não te incomoda a vida assim, tão previsível?”. Essa pergunta irá ecoar em todos na plateia, como um convite a repensar as relações de gênero principalmente nas construções familiares.

FAMÍLIA

Sobretudo, o espetáculo aborda as relações familiares. De um modo ou de outro, todos temos alguma relação com pais e mães, estejam eles ausentes ou presentes. É justamente por esta razão que esta nova criação se faz tão universal. Falar sobre relações familiares é, também, falar sobre o envelhecimento e, portanto, sobre a juventude. Aparentemente, durante toda a vida, cabe ao pai/mãe a responsabilidade pelo cuidado. Ao filho/filha, o ato de ser cuidado, protegido. Em que momento da vida de um ser humano estes papéis se invertem? Como lidar com a altura do percurso em que são os filhos quem precisam cuidar de seus pais?

Na peça, os dois personagens discursam também sobre isso. O personagem de Pablito diz: “Eu escovei dentes, os cabelos. Eu cortei a barba e os pelos todos. Eu paguei as contas. Dei remédio, muitos remédios. Cortei as unhas da mão e do pé. Eu limpei a bunda.” Já a personagem de Uyara conta: “Você, em algum momento da vida, já pensou que ficar, permanecer no mesmo lugar, seguir as regras como esperam que você o faça, seja talvez só esperar que a morte chegue?”

CRÍTICAS

Em sua versão online, o texto de Lígia Souza foi amplamente aclamado pela crítica e repercutiu nacionalmente. Dentre os críticos e portais dirigidos à crítica em dramaturgia e teatro que promoveram o trabalho, citam-se:

Amilton de Azevedo, Ruína Acesa

“O que há é aquele momento de diálogo, conflito, confronto, pensamentos em fluxo. Um instante que perpassa anos e a dúvida do tamanho do agora. Sobre ele mesmo, sobre o ontem, sobre o amanhã. Nosso tempo é especialista em produzir ausências, escreve Ailton Krenak, do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Ausências, partidas e expectativas. Penélope carrega esses temas nas suas diversas camadas.”

Ivana Moura, Satisfeita Yolanda?

“Penélope inspira, respira, transpira. Mas como é longo o caminho e incerto o destino. Desta vez, ela não espera pelo retorno de Ulisses, como condenou Homero. Essa mulher foi à luta, mesmo fraturando sentimentos. Ela não é vítima, é senhora de si. Os riscos são enormes. Mas o benefício é estar viva e bulindo.”

Natasha Centenaro, Agora Crítica Teatral

“O acontecimento de quem parte, como fuga ou plano, e de quem fica, como resignação ou escolha, movimenta as engrenagens narrativas e os arranjos familiares. […] Ela não retorna porque precisa se encontrar e reviver nas graças da família, Ela se achou quando resolveu partir e se perder no mundo. Ela retorna porque assim decidiu. E não é, para Ela, uma verdade incontestável as mudanças de rotas, os erros, as vacilações, tampouco o retorno.”

Helena Carnieri, Bem Paraná

“É verdade que relacionamento dá trabalho. Por isso em “Penélope” surge a acusação da fuga, algo que todo mundo que emigra escuta em um ou outro momento. Descobrir-se e conquistar o mundo pode requerer alguns abandonos. Mas quem pode dizer o que é certo? Existe uma lei onde esteja escrito que é necessário ou proibido partir? Aqui entra também o tema do que é exigido das mulheres.”

Luciana  Nogueira Melo, Jornal Plural

“Cheio de sacadas inteligentes. Pra quem fica, está o baú, dele saem lembranças e mágoas, para quem volta (mas é livre) estão as rodas, o carrinho de bagagem que leva tudo o que a personagem considera essencial para a vida. O cabo do microfone (que traz um quê do ruído da vida real para a cena pois não é apenas cenográfico) vira o fio que amarra você ao lugar em que está e ainda vira símbolo do emaranhado de sentimentos e pensamentos que podem habitar dentro de cada um de nós”.

LIVRO

A la lettre espaço de criação (assim mesmo, em minúsculas) surgiu, inicialmente, como um selo de publicação de textos teatrais. Isto porque, no Brasil, muito pouco se fala sobre a leitura de dramaturgias. Atualmente, a la lettre é um espaço que também produz espetáculos, mas, seguindo suas origens, não poderia deixar de lançar o livro com o texto da peça. Assim, o público presente poderá adquirir uma versão inédita e original do livro com o texto integral do espetáculo. Por R$35,00, as pessoas que comparecerem durante a temporada terão a oportunidade não apenas de assistir ao espetáculo, mas também de levar para casa a dramaturgia de Ligia Souza, para ler e reler quantas vezes desejarem.

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