Livro reflete sobre as artes na elaboração do CUIRexílio, o exílio por conta de gênero, orientação sexual e de outros marcadores de opressão

Sentimento de não pertencimento nos deslocamentos geográficos e subjetivos de pessoas LGBTQIA+ são foco de “CUIRexílios, uma fantasmografia artística na transfronteira mexicanobrasileira”, livro de Cleber Braga que está em pré-venda pela Editora Devires

Entre pessoas forçadas a deixar o lugar em que vivem por sofrer perseguição, conflito, violência, violação de direitos humanos ou eventos gravemente perturbadores – no final de 2022, foram 108,4 milhões (fonte: Acnur – Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) – estão inúmeras pessoas LGBTQIA+. Pessoas que sofreram o CUIRexílio: conceito criado pelo artista, pesquisador e professor Cleber Braga para abordar questões relativas às subjetividades do exílio de quem tem de deixar o país de origem por conta não apenas da orientação sexual e de gênero, mas de outros marcadores de opressão, como racismo, pobreza, gordofobia, capacitismo  etc. A contribuição da arte na elaboração do sentimento de exclusão e não pertencimento causado por esse tipo de exílio é tema do livro de Braga, CUIRexílios, uma fantasmografia artística na transfronteira mexicanobrasileira, que está em pré-venda pela Editora Devires (https://www.queerlivros.com.br/cuirexilios-uma-fantasmografia-artistica-na-transfronteira-mexicanobrasileira). O professor e pesquisador das Universidades Federais do Amapá, da Bahia, do Sul da Bahia e de São João Del-Rei (MG), levou seis anos entre pesquisa e escrita.

Braga explica que o CUIRexílio vai além da geografia. “Tais pessoas experimentam muito cedo e reiteradamente a expulsão, antes mesmo do cruzamento de qualquer fronteira geopolítica: já entre a família, na escola, na cidade onde nascem etc. Uma modalidade de exílio gênero-sexual que antecede mesmo a consciência sobre a própria dissidência”, afirma. O autor se concentrou em como a arte LGBTQIA+ produzida no Brasil e no México contribui para a elaboração do CUIRexílio. Para tanto, ele criou uma transfronteira, não no sentido geográfico mas, por pontos de conexão entre os dois países, que é onde mais se reportam assassinatos de pessoas transexuais no mundo, com o Brasil em primeiro lugar. A ideia de uma transfronteira entre México e Brasil remete também aos processos históricos que conduzem à subalternização reencenada constantemente pelos dois países, em distintos níveis, desde suas constituições pelo projeto colonial”.

Apesar dessas análises contundentes, é principalmente uma transfronteira de esperança que o livro CUIRexílios, uma fantasmografia artística na transfronteira mexicanobrasileira traz, incluindo variadas expressões artísticas como ensaios, poemas e entrevistas com artistas. Entre elas estão Sayak Valência, Nádia Granados e Pêdra Costa, que compartilharam com Cleber Braga o que ele chama de tecnologias de renúncia ao pacto da cisheteronorma, ressaltando a capacidade da arte de contribuir com a elaboração da ferida colonial, do desterro identitário consequente da sensação de não-pertencimento.

Queers, Cuirs e fantasmas

Braga explica que o CUIR, do título do livro, é um desdobramento da expressão em inglês queer, que poderia ser traduzida como “esquisito” ou “esquisita”, e já foi muito usada de forma pejorativa contra pessoas LGBTQIA+ antes de ser ressignificada e adotada pelas mesmas pessoas numa atitude afirmativa. “O termo CUIRexílio ressalta também o deslocamento subjetivo empreendido na luta pela sobrevivência”, diz, “além de demarcar aspectos geopolíticos próprios das dissidências gênero-sexuais no contexto latinoamericano.”

Pessoas CUIRexiladas são forçadas a exílios subjetivos, deslocamentos para alcançar aceitação social, dignidade e até amor-próprio, amor pela própria diferença. A fantasmografia a que o texto se refere diz respeito a esse lugar de deslocamento, pois, afirma Braga, “o deslocado não pertence mais àquilo que deixa, tampouco se enraíza no que encontra: ele é marcado pela extrema singularidade da estrangeirice. Este/a fantasma sem pertencimento, que ‘assusta’ esta sociedade cisheteronormativa colonialista, patriarcal e eurocêntrica, é um feitiço contra o desencanto, um fantasma que também assombra pelo que não é”.

SERVIÇO:
Pré-venda on-line do livro CUIRexílios, uma fantasmografia artística na transfronteira mexicanobrasileira
Autor: Cleber Braga
Editora: Devires
Onde: https://www.queerlivros.com.br/cuirexilios-uma-fantasmografia-artistica-na-transfronteira-mexicanobrasileira
Preço: R$ 49,90 (preço promocional de lançamento)