Plateias especiais no Auditório Regina Casillo

Com sessões lotadas e grande repercussão de público, a temporada 2024 de apresentações da orquestra Ladies Ensemble no Auditório Regina Casillo também conta com uma programação de atividades que levam música e informação para pessoas que têm pouco acesso à cultura. Estas programações fazem parte das contrapartidas sociais previstas no projeto, que é realizado pelo Solar do Rosário e Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet.

Na última terça-feira (9/4), por exemplo, 280 crianças que são alunas da rede pública municipal de ensino, com idades entre 6 e 11 anos, assistiram um concerto didático exclusivamente pensado para elas, numa ação em parceria com as Linhas do Conhecimento, da Prefeitura Municipal de Curitiba. Dois dias depois, 75 idosos que integram grupos de convivência mantidos pela FAS (Fundação de Ação Social) puderam assistir ao último ensaio da orquestra antes da estreia.

O projeto realiza ainda outros dois tipos de contrapartidas sociais, fora do Auditório Regina Casillo, que é a “casa” da orquestra. Uma delas são apresentações no Hospital Pequeno Príncipe, nas quais integrantes das Ladies Ensemble tocam na biblioteca da instituição de saúde para pequenos grupos de pacientes e seus pais. A outra tem foco didático e ocorre no Colégio Estadual do Paraná: se dá por meio de aulas teóricas sobre história da música e, também, práticas de instrumentos como violino, viola e violoncelo. O conteúdo histórico é ministrado pela professora Clarice Miranda, enquanto as aulas contam com a musicista Fabiola Bach Akel, fundadora da orquestra, e outras integrantes.

Para a coordenadora geral da temporada das Ladies Ensemble, Lucia Casillo Malucelli, as ações de contrapartida são parte fundamental do projeto. “Com elas, conseguimos expandir o alcance do trabalho da orquestra e também colaborar para que pessoas que não têm condições ou não tem o hábito de ouvir, conhecer e estudar música clássica possam ter acesso a este tipo de conteúdo cultural”, conta Lucia.

“Pela primeira vez entrei num teatro e vi uma orquestra”

A iniciativa permitiu que pessoas fossem pela primeira vez ao teatro. Santina Pires, de 83 anos, é uma delas. “Eu só tinha estado em teatros antes para formaturas. E orquestra, havia visto apenas pela televisão. Foi uma maravilha poder assistir ao vivo, é muito melhor, e ainda mais num Auditório tão lindo”, conta a dona de casa aposentada, que é mãe de quatro filhos e tem nove netos e um bisneto. Viúva, ela participa das atividades do CATI (Centro Atividades Pessoa Idosa) do Boa Vista, mantido por uma parceria da Prefeitura de Curitiba e Fundação de Ação Social. “Eu nunca havia me interessado em ir ao teatro, e sozinha não tem graça. Mas agora que fui, gostei muito e quero ir de novo quando tiver. Achei lindo o trabalho das moças tocando e tirei fotos com elas e os cantores”.

A coordenadora do CATI Boa Vista, Patrícia Galvão, acompanhou o grupo do qual Santina faz parte e conta que esta é a realidade da maioria dos idosos que assistiram às Ladies tocando. “Quase todos nunca tinham estado num teatro ou assistido uma orquestra ao vivo. Como entre as atividades fixas do CATI temos o canto coral, eles ficaram lisonjeados com o convite e gostaram muito”, lembra Patrícia. “Pela situação financeira e social, eles não têm acesso a oportunidades culturais como esta. Por isso saíram do teatro muito empolgados e felizes”.

A emoção das crianças

As crianças também aproveitaram muito, como conta o professor Jean Carvalho da Silva, que trabalha no núcleo da Cidade Industrial de Curitiba do projeto Linhas do Conhecimento, da Prefeitura de Curitiba. Ele acompanhou um dos grupos de 250 alunos no Auditório Regina Casillo. “Principalmente nas regiões periféricas, o acesso à cultura é difícil, pois são raros os teatros. E de forma geral a música clássica ainda é pouco apreciada no Brasil. Por isso iniciativas como esta encantam as crianças”, relata. “A maioria dos alunos comentou que só tinham escutado este tipo de música em filmes ou desenhos animados. Mais de 90% da turma também nunca tinha sequer entrado num teatro”.

Um dos momentos que as crianças mais se divertiram foi quando a orquestra apresentou um por um os instrumentos que a compõe. Para mostrar o som de cada um, uma musicista tocava de forma isolada um trecho de uma canção infantil. “São instrumentos incomuns para eles, que não escutam numa rádio, na TV ou internet. Alguns alunos contaram que chegaram até a chorar, de tanta emoção”. Entre lágrimas de alegria, sorrisos e aplausos, o projeto segue espalhando música pela cidade.

 

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