Embora uma casa ou apartamento à beira-mar seja a promessa de um refúgio sereno, é importante trabalhar com uma seleção certeira de materiais resistentes para amenizar os efeitos da maresia, da umidade alta e da pouca ventilação
À beira-mar, onde a brisa salgada e o sol escaldante reinam soberanos, erguer um imóvel de praia é um convite às noites de luar, tardes relaxantes e manhãs tranquilas. Por outro lado, os desafios que envolvem a escolha dos materiais e as soluções construtivas podem ser tão vastos quanto o horizonte marítimo. “As casas de praia, constantemente expostas aos efeitos corrosivos da maresia, à intensidade dos raios solares e aos ventos fortes, característicos do litoral, demandam escolhas e soluções arquitetônicas e decorativas que envolvam durabilidade e estética”, avisam as arquitetas Ieda e Carina Korman, à frente do escritório Korman Arquitetos.
Conheça as adversidades
Construir uma casa de praia é um exercício de equilíbrio entre estilo e funcionalidade, estética e obstinação. Para Carina Korman, com uma especificação cuidadosa é possível conceber uma morada que não apenas encantará aos olhos, mas que também enfrentará os desafios impostos pelo ambiente marítimo. Entre eles, ela pontua alguns:
- Raios solares:
Sob o calor implacável do sol, a exposição prolongada pode causar danos aos materiais de construção como descoloração, deterioração prematura e até mesmo comprometimento estrutural. Carina reforça que pinturas e revestimentos da superfície externa são especialmente os mais vulneráveis à ação dos raios UV. “Com o passar do tempo, as cores perdem seu brilho original, da mesma forma que a madeira não tratada pode rachar e deformar”. Além disso, o impacto dos raios solares resulta no ressecamento e possível quebra de materiais plásticos e móveis externos – quando não apresentam os atributos certos.
Para tanto, a profissional da Korman Arquitetos completa que para minimizar os efeitos é importante selecionar materiais com propriedades UV resistentes e aplicar revestimentos protetores que ajudem a preservar a integridade estética dos elementos construtivos. Quando houver madeira, é preferível comprar do tipo tratada e coberturas protetoras como vernizes e selantes. “Essas são medidas preventivas essenciais para prolongar a vida útil”, diz Carina. Ela também recomenda evitar o uso de vidro comum, materiais não oxidáveis como latão e cobre, e materiais plásticos baratos, como PVC e polímeros.
- Superaquecimento interno:
Outra preocupação está relacionada ao aumento da temperatura interna da casa. “Superfícies escuras, como telhados e pavimentos de concreto, tendem a absorver mais calor solar, ocasionando ambientes internos desconfortavelmente quentes”, alerta a arquiteta Carina, que logo em seguida dá como solução a instalação de telhados refletivos e o emprego de materiais de pavimentação de cor clara.
- Maresia:
Definitivamente, um dos maiores problemas de quem vive em casa de praia. À mercê da proximidade com o mar, a corrosão e a umidade viram inimigos constantes e Carina explica que ambos são processos naturais decorrentes da água salgada do mar. Na corrosão, ela atua como agente oxidante nos metais e resulta em ferrugem, corrosão galvânica e outros tipos de deterioração que comprometam a integridade dos materiais, sendo o ferro e aço os mais atingidos. No caso da umidade, pode levar ao crescimento de mofo, bolor e fungos, além de provocar danos estruturais em paredes, pisos e tetos por meio de rachaduras e fissuras.
Para combater esses efeitos, a arquiteta recomenda a aquisição de materiais resistentes como aço inoxidável, alumínio e ligas de bronze, que são menos suscetíveis à oxidação, além de técnicas de impermeabilização eficazes durante a construção e a manutenção da casa, como selantes de silicone, tintas impermeabilizantes e sistemas de drenagem para direcionar o escoamento da água.
Banquetas na cor verde-água, feitas de cordas náuticas e madeira tratada, complementam a ilha e servem de apoio para refeições rápidas da varanda gourmet | Projeto de Korman Arquitetos | Foto: Eduardo Pozella
Móveis planejados também exigem atenção especial. Para a composição dos armários, a melhor opção é o MDF náutico, que suporta a umidade, ou madeira maciça. “Já desenhamos um armário aberto em uma espécie de mini closet com prateleira para os sapatos, gavetas, cabideiro e até um maleiro superior. É uma solução prática, principalmente para quem tem medo de perder móveis em razão disso. Além do mais, recomendamos deixar os planejados afastados do piso e que sejam suspensos ou sobre bases de alvenaria”, orienta a arquiteta.
- Ventania:
Outro problema são os ventos fortes e tempestades tropicais. Dependendo da região, a profissional sugere o reforço da estrutura com concreto armado e madeira tratada. “Gosto de investir em janelas grandes para permitir a circulação de ar, trazer a luz natural e a beleza externa.”, compartilha Carina.
Por dentro das soluções
Pensando nas melhorias e investimentos que uma residência litorânea pode ter, a arquiteta Ieda Korman listou dicas em arquitetura e decoração:
- Revestimentos:
Para quem busca um visual rústico e acolhedor, a madeira é a escolha mais popular. Encontradas no mercado, Ieda destaca as madeiras sintéticas e as certificadas como a melhor opção. “A certificação é tratada e vem de fontes sustentáveis que não apenas preservam o meio ambiente, como garantem maior resistência e durabilidade. A sintética é natural, mais calorosa e com resistência aprimorada para decks e varandas”, comenta.
Para um visual moderno e elegante, cerâmicas e porcelanatos são os mais indicados para o piso, pois são laváveis e aguentam bem a umidade e a maresia do litoral. Mas a arquiteta Ieda sugere o emprego de pedras naturais para conquistar um espaço ainda mais charmoso e durável. “Além de serem duráveis e fáceis de limpar, contamos com uma variedade que se adapta perfeitamente ao ambiente praiano”.
- Telhados verdes:
Ótima escolha para fugir do calor no interior da residência, esses tipos de telhado proporcionam isolamento térmico e acústico e são uma alternativa eco-friendly para casas de praia. Além de reduzirem o impacto ambiental, propiciam conforto durante todo o ano. Para tanto, é preciso considerar o clima local, a exposição ao sol, a disponibilidade de água e as condições do solo.
Em geral, as plantas que se adaptam às condições de alta salinidade são a grama-sal e junco marítimo; plantas de beira-mar, com: agerato e crista-de-galo; plantas resistentes à seca, como agave, lavanda, suculentas e cactos; e plantas ornamentais tropicais, como hibiscos, palmeiras, buganvílias e dracenas.
- Drenagem planejada:
Para lidar com as águas pluviais e prevenir a erosão costeira, a incorporação de sistemas de drenagem integrados ao projeto arquitetônico é fundamental. Estes sistemas canalizam eficientemente a água longe da casa, preservando não apenas a integridade da estrutura, mas também o ambiente ao redor.
- Cores:
Em casas de praia, a paleta de cores transmite o frescor e a leveza litorânea. Então, as clássicas apostas estão: o azul, branco, verde, amarelo e tons de areia. “O azul marinho ou oceano, o branco para refletir luz e a sensação clean, o verde-água para lembrar a natureza, amarelo suave para lembrar o pôr do sol, são opções perfeitas”, reflete Ieda Korman. Tons suaves são a chave para um ambiente convidativo à beira-mar.
- Casas de temporada:
Em casas de férias, que acabam ficando fechadas durante grande parte do ano, a dupla alerta sobre a relevância de pensar em soluções para amenizar a pouca ventilação e o excesso de umidade. Armários com portas de veneziana, por exemplo, podem ser uma boa opção, além de desumidificadores e a atenção de cobrir aparelhos eletrônicos como a TV.