Não é só o corpo que sofre com os quilos a mais. A obesidade, doença que afeta 18,9% da população brasileira, é um fator de risco importante para a saúde mental, podendo levar à depressão, ansiedade, estresse e problemas de autoestima, principalmente quando ela surge na infância e na adolescência.
No Brasil, segundo dados do IBGE, 15% das crianças entre 5 e 9 anos e 25% dos adolescentes, têm sobrepeso ou obesidade. Sendo que em 95% dos casos, a origem da obesidade está ligada ao desmame precoce, sedentarismo, alimentação inadequada e problemas familiares.
Impactos na saúde mental
Segundo a psicóloga Ghina Machado, da Estar Saúde Mental, vivenciar a obesidade em idade tão precoce traz diversos impactos, tanto sociais como psicológicos. “A obesidade afeta a autoestima devido ao estigma de ser obeso. Frases como “só é gordo quem quer”, “falta força de vontade”, “come demais porque não tem vergonha na cara”, são alguns exemplos que reforçam o estigma da obesidade. O preconceito em relação aos obesos é muito comum e pode deixar marcas para a vida toda quando acontece na infância ou adolescência”.
Outro fator importante é a aceitação da autoimagem. “A aceitação da imagem corporal é essencial para o adolescente se sentir seguro no convívio entre seus amigos e na sociedade em geral. Quando isso não acontece, pode gerar problemas nas relações sociais, no processo de formação da identidade e, claro, na autoestima. O adolescente obeso também pode sofrer por se sentir “fracassado”, seja em relação à perda de peso ou pelo fato de ser obeso, o que também leva a um sentimento de inferioridade constante”, comenta Ghina.
Bullying: um capítulo à parte
Um estudo mostrou que no Brasil cerca de 50% dos adolescentes obesos sofrem bullying. “Este tipo de agressão sempre existiu, apesar da nomenclatura ser relativamente nova. O que ficou mais claro nos últimos anos é que as agressões durante a vida escolar ou adolescência, a dor carregada dentro si, as humilhações e os constrangimentos podem levar ao isolamento social, depressão, entre outros problemas que são levados para a vida adulta”, explica a especialista.
A origem da obesidade
Apenas 5% dos casos de obesidade tem relação com alguma outra doença. A maioria das pessoas desenvolve a obesidade devido aos maus hábitos de vida, principalmente comer demais e praticar atividade física de menos. Entretanto, há um componente emocional muito importante na comida: o conforto emocional. E é justamente por isso que a maioria das dietas fracassa, ou seja, para perder peso e mantê-lo, muitas vezes, é preciso entender, com a ajuda da psicoterapia, porque se come tanto, quais sentimentos e pensamentos estão envolvidos e como melhorar a relação com a comida.
Padrão familiar
“Há casos em que os pais têm maus hábitos e, por isso, são obesos e perpetuam este padrão. Os pais podem ter dificuldade de aceitar a própria obesidade. Isso quer dizer que se não conseguem olhar para si próprios, não poderão olhar para a obesidade dos filhos e buscar tratamento”, reflete a psicóloga.
Para Ghina, há também os pais que não conseguem negar o alimento para os filhos, sabotando a dieta. Além disso, há crianças e adolescentes que recorrem à comida para enfrentar problemas que não sabem solucionar ou ainda para se autoconfortar, principalmente quando há pouca atenção ou afeto dos pais.
Psicoterapia é fundamental
A obesidade tem um componente emocional muito importante. Por isso, seu tratamento deve envolver, além de nutricionista e\ou endocrinologista, o acompanhamento com um psicólogo, principalmente para crianças e adolescentes. Os pais também precisam se envolver no tratamento, pois muitas vezes a causa da obesidade está na dinâmica familiar e todos precisam se engajar para alcançar o sucesso.
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