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Tempo de plantar, tempo de colher

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Eclesiastes, terceiro livro da Biblia Hebraica e pertencente tambem ao Antigo Testamento cristão, é tido como um dos textos mais sábios da literatura mundial. O livro data do período entre 450 e 180 A.C. e trata das experiências e lições de um homem, possivelmente o rei Salomão, discutindo o sentido da vida e a melhor forma de viver, proclamando a sabedoria como meio para uma boa vida terrena, e aconselhando os seres humanos a aproveitar os prazeres simples da vida diária, como comer, beber e se orgulhar de seu trabalho, pois são presentes de Deus. Em um de seus trechos, diz: “Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou”.

Um dos grandes impasses do processo educativo hoje é a questão do tempo que se deve dedicar às atividades escolares. Cada vez mais as crianças e jovens estão envolvidos nos chamados cursos livres, de inglês, de informática, de futebol, de tênis, além das horas de escola e, em princípio, visando qualifica-los melhor tanto no aspecto pessoal quanto para um futuro mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo.

Com isso, deixamos de apreciar o potencial também educativo que tem a vida cotidiana, como se apenas valorizássemos a instrução, esquecendo que a aprendizagem não é resultante apenas dela, um universo de maravilhosas descobertas é feito no dia-a-dia; as lições da vida podem ser lentas, mas costumam ser profundas.

Quando pais e familiares amorosos reservam um espaço de suas vidas para viver – brincar, conversar, passear, assistir filmes, jogar – com seus garotos e garotas, quando as demandas do trabalho e do restante de suas próprias vidas não impedem este contato, professores tem nas mãos um educando mais equilibrado, capaz de aprender e se relacionar, apto a partilhar, a desenvolver relações de confiança, que influenciam positivamente os processos cognitivos.

Apoiar a curiosidade, as iniciativas, explicando eventualmente o porquê de algumas não serem adequadas, com certeza é fundamental para o pleno desenvolvimento da autoestima, aquela verdadeira, que aumenta a confiança em nós mesmos, porém não nos torna arrogantes ou temerários. Da mesma forma, boa parte do que sabemos e nos fez adultos interessantes na convivência, veio de forma assistemática e completamente sem a mediação de algum adulto, pois autonomia e tempo livre para brincar, exercendo a imaginação, expandindo a motivação individual, inter-relacionando as histórias pessoais, personalizando seu próprio grupo familiar, as estruturas e caracteres de cada um com quem se convive e se planeja um futuro, é essencial para ampliar o conhecimento.

Ouvir com real interesse o que crianças e jovens tem a contar, entrar em seus jogos de faz-de-conta, são auxiliares na elaboração de conceitos e aumento da resiliência, sem o que não podemos realizar o enfrentamento das dificuldades do dia-a-dia. Mesmo que nossa cultura valorize certas platitudes, que são verdadeiras lições de vida: “não existe almoço grátis”, “colhe-se aquilo que se plantou”, e muitas outras que, mais do que um formulário supostamente materialista, expressam o fato incontestável de que é necessário esforço, trabalho e determinação para obter o que queremos, é preciso também considerar que o tempo aparentemente dedicado ao “ócio criativo” nos ensina muito. Dosar tempo de escola e tempo de lazer produz seres mais saudáveis e tranquilos.

Da área de psicologia, sabemos que há possibilidade de aprender a brincar, mas não de ensinar a brincar. Assim, cabe ao adulto criar ambiente favorável à brincadeira, quer participe ou não dela, por saber o quanto a imaginação é terreno fértil para a criatividade e inovação, qualidades indispensáveis à vida.

 

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.

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