A edição 2018 da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), acontece nos dias 13, 14 e 15 de março, na Universidade de São Paulo (USP), e recebe projetos de jovens cientistas de todo o país. Entre os finalistas estão as curitibanas Isadora Penkal Franco e Laura Silva Schaffrath, do 9º ano do Colégio Positivo, autoras do projeto “Biorremediação de óleo vegetal por meio de microesferas bacterianas”.
O estudo demonstra a eficácia da utilização de consórcios bacterianos para a degradação do óleo vegetal. No Brasil, mais de 200 milhões de litros de óleo vegetal são descartados mensalmente nas pias das cozinhas domésticas, tendo como destino rios e lagos, provocando sérios prejuízos para o meio ambiente. Um litro de óleo, por exemplo, pode poluir cerca de um milhão de litros de água, o equivalente ao que uma pessoa consome, em média, em 14 anos de vida.
O projeto
Sob a orientação das professoras Flávia Amend Gabardo, do Colégio Positivo, e Leila Maranho, da Universidade Positivo (UP), as estudantes pesquisaram sobre produtos biológicos que tivessem a propriedade de degradar, de forma rápida e simples, resíduos líquidos provenientes das residências. A ideia de elaborar esse projeto surgiu após visitas dos alunos do Clube de Ciências do Colégio Positivo aos laboratórios de Biotecnologia da UP. Nestes encontros, Isadora e Laura se encantaram com o trabalho de mestrado da professora Suellyn Homan, também do Colégio Positivo, sobre a utilização de microcápsulas de bactéria para descontaminação ambiental por petróleo, por meio do processo de biorremediação. E decidiram experimentar a mesma técnica para a degradação do óleo vegetal.
A professora Leila explica que a biorremediação é uma tecnologia que trata ambientes contaminados utilizando agentes biológicos com capacidade de modificar ou decompor poluentes alvos. Essa técnica é considerada barata, limpa e ecológica, já que não deixa resíduos e nem causa nenhuma alteração no equilíbrio ambiental. A organização dos microrganismos em microesferas facilita sua aplicação, evitando o risco de haver algum tipo de contaminação e permitindo que haja a liberação controlada, potencializando a biorremediação do resíduo. Os microrganismos degradadores ficam envolvidos por duas camadas, que além de protegê-los, irão manter o formato da microesfera. Ao entrar em contato com um meio aquoso, a microesfera é reidratada e iniciará o processo de liberação dos microrganismos degradadores.
Nos experimentos que foram realizados no laboratório da Universidade Positivo e Colégio Positivo, as alunas selecionaram quatro consórcios de microrganismos (bactérias) que seriam possivelmente capazes de degradar óleo vegetal, visando reduzir os prejuízos sociais e ambientais causados pelo descarte incorreto deste resíduo. Um dos consórcios demonstrou alto potencial de degradação do óleo, podendo gerar um produto que pode ser facilmente comercializado. Isadora e Laura estão muito satisfeitas com o resultado dos experimentos e também porque o projeto será apresentado numa feira de visibilidade internacional, como a Febrace. “No momento que recebi a notícia foi um pouco difícil acreditar que nosso estudo foi selecionado. A nossa aprovação foi uma surpresa. Estou extremamente feliz e a oportunidade que nós temos de representar o Clube de Ciências e o Colégio Positivo é muito gratificante”, orgulha-se Laura. “Este projeto representa um aprendizado que, com certeza levarei para vida toda”, conta.
Para Isadora, estar na Febrace representa uma grande troca de conhecimento, que contribuirá muito para o projeto, pois a feira deve abrir muitas portas em relação ao futuro no campo da pesquisa científica. “Acredito que o trabalho ajudará muito o meio ambiente e a sociedade, pois o óleo de cozinha causa diversos danos como, por exemplo, a morte de seres aquáticos”, adverte. “Atualmente, não existe nenhuma forma correta para o descarte do óleo e, por meio do nosso projeto, o resíduo pode ser facilmente tratado, evitando problemas na natureza”, observa.
Potencial reforçado
A professora Flávia afirma que sempre acreditou no potencial das meninas, mas confessou que foi uma surpresa a participação na Febrace. “Fomos avisadas da dificuldade que seria estar numa banca com 15 projetos muito importantes, dos quais nossa equipe era composta pelas alunas mais novas – as únicas que não entram no Ensino Médio em 2018. Assim que recebi a notícia, fiquei realmente emocionada, pois sei de todo o nosso esforço para que o trabalho fosse concluído com sucesso”. Da concepção da ideia ao resultado foram seis meses de trabalho.
Flávia afirma que os alunos do Clube de Ciências normalmente já possuem o diferencial de serem mais questionadores e interessados em estudos científicos, mas que Isadora e Laura são alunas com um enorme potencial. “O que fiz foi somente ajudá-las a conduzir essa capacidade para um feito maior. Elas são muito estudiosas e focadas – o que faz toda a diferença quando estamos falando em pesquisa”, ressalta a professora.
Central Press