Pesquisas mundiais com novas tecnologias para “edição do genoma” conferem um novo fôlego ao tratamento do câncer de pele e de doenças crônicas de pele, como psoríase, vitiligo, lúpus, entre outras. “O Congresso Anual do AAD, realizados nos Estados Unidos, mostrou que estamos muito próximos de ‘tratar o DNA’. Através da técnica de edição CRISPR-Cas9, há uma esperança em retirar as sequências defeituosas do DNA, fazendo uma espécie de reparo, que seria um importante avanço no tratamento dermatológico de doenças crônicas de pele”, afirma a dermatologista Dra. Thais Pepe, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia. O estudo foi apresentado por Jennifer A. Doudna, PhD, professora de química, molecular e biologia celular na Universidade da Califórnia. A especialista tem um extenso trabalho de pesquisa de câncer.
De acordo com a dermatologista Dra Thais Pepe, o CRISPR é uma sigla em inglês para “grupos de repetições palindrômicas curtas regularmente espaçadas”. “Ele é um mecanismo natural do qual as bactérias se protegem de infecções virais. Ela incorpora uma cópia do DNA estranho e cria um registro de todos que tentam invadi-la. Cada vez que um novo micro-organismo intruso é identificado, a bactéria recorre a esse registro e usa isso para destruí-lo”, explica. Nos últimos anos, houve uma tentativa de adaptação do mecanismo para a edição do genoma humano, o que traria um potencial de curar doenças e aperfeiçoar organismos. “Isso é possível por meio da ‘imunidade adaptativa’, com ação semelhante à das bactérias.”
Além das configurações clínicas, a ferramenta CRISPR abre as portas para outras aplicações. “Atualmente, ela está sendo usada em ensaios em animais para fornecer benefícios para a saúde humana, especificamente em fazer órgãos de crianças doadoras apropriados para adultos, e mudança de DNA na edição germinal de células de vida para transmitir às gerações futuras. Embora esta aplicação possa ter impactos significativos no tratamento de doenças crônicas, ela enfrenta um desafio com relação às questões éticas”, explica.
Entenda algumas doenças de pele
Psoríase – doença autoimune, não transmissível e que causa lesão na pele com descamações e vermelhidão. Estima-se que cerca de 2% da população mundial sofra com a doença. “A psoríase é uma inflamação — onde os anticorpos começam a bombardear (agredir) os queratinócitos (célula produtora de queratina – proteína morta que reveste e forma o estrato córneo). Em resposta a essa agressão, os queratinócitos começam a se proliferar, multiplicando-se de maneira muito mais rápida e não ocorre o processo natural de descamação, por isso existe a formação das crostas”, explica a dermatologista. Então, acontece inicialmente a lesão inflamatória, pela dilatação dos vasos sanguíneos levando a uma mácula, uma mancha vermelha. “Existe o processo inflamatório, que leva à formação das crostas, que na verdade são escamas prateadas. E posteriormente, ainda em uma fase mais importante, há o orvalho sangrento que ocorre com a remoção das crostas, as escamas, e ocorre um processo de micropontos de sangramento no local”, comenta. Segundo a médica, não há cura, e sim controle das manifestações clínicas. As opções terapêuticas são variadas, dependendo do grau da doença, podendo ser só local com hidratação, uso de corticoides, biológicos injetáveis, medicações via oral, fototerapia, terapia sistêmica convencional ou terapia biológica.
Vitiligo – doença caracterizada pela perda da coloração da pele. “As lesões formam-se devido à diminuição ou à ausência de melanócitos (células responsáveis pela formação da melanina, pigmento que dá cor à pele) nos locais afetados. As causas da doença ainda não estão claramente estabelecidas, mas fenômenos autoimunes parecem estar associados ao vitiligo”, afirma a médica. O tratamento tem por objetivo estabilizar o quadro, freando o aumento das lesões, e também a repigmentação da pele. “Existem medicamentos que induzem à repigmentação das regiões afetadas como tacrolimus derivados de vitamina D e corticosteroides.”
Lúpus – doença crônica potencialmente grave que atinge qualquer parte do corpo, no momento em que o sistema imunológico começa a ver as células do próprio corpo como inimigas. Uma vez que qualquer órgão ou tecido pode ser afetado, os sintomas são inúmeros e os mais comuns são manchas avermelhadas na face, orelhas, decote e braços, e até queda de cabelo.
Dra Thais Pepe: Dermatologista especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, membro da Sociedade de Cirurgia Dermatológica e da Academia Americana de Dermatologia. Diretora técnica da clínica Thais Pepe, tem publicações em revistas científicas e livros, além de ser palestrante nos principais Congressos de Dermatologia.
maria.claudia