Já faz mais de 200 anos que o médico inglês James Parkinson publicou um artigo pioneiro sobre a doença que leva seu nome. Foi a primeira vez que alguém descreveu detalhadamente o mecanismo da enfermidade. Sua obra, An essay on the shaking palsy, é um marco tão importante que o Dia Mundial da Doença de Parkinson é comemorado todo 11 de abril, em homenagem ao seu aniversário.
A Doença de Parkinson (DP) é neurodegenerativa e não tem cura. É causada pela falta de dopamina, neurotransmissor responsável, entre outras funções, pelo controle dos movimentos, pela memória e pela “sensação de prazer”. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, 1% da população acima de 65 anos de idade tem a doença. No Brasil, a estimativa é de que ela acometa 200 mil pessoas. Apesar de começar a se manifestar majoritariamente por volta dos 50 anos, há casos raríssimos de pacientes diagnosticados antes dos 20.
Segundo Henrique Ballalai Ferraz, médico com doutorado em Neurologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), os principais sintomas da doença são “tremor, rigidez muscular, lentidão de movimentos, alteração de postura ereta e dificuldade para caminhar”.
Apesar de estar sempre associada a esses sinais, a Doença de Parkinson também apresenta manifestações não motoras que perturbam tanto ou mais o dia –a – dia dos pacientes. Estas características podem estar presentes em qualquer estágio da doença, inclusive precedendo o aparecimento dos sinais motores[i]. “Redução do olfato, distúrbio do sono, prisão de ventre, alterações de humor e depressão, entre outros, também incomodam as pessoas que sofrem com DP”, cita o especialista.
Neste sentido, Ferraz destaca que é muito importante a avaliação médica em 360 graus. “O profissional deve acompanhar o paciente de perto e tentar mapear o máximo possível todos os sintomas, mesmo aqueles não motores, para que o tratamento seja o mais assertivo”.
De acordo com um estudo publicado em julho de 2006 por um grupo multidisciplinar[ii], os sintomas não motores não são bem identificados na prática clínica e frequentemente não entram para o prontuário do pacientes. Para avaliar o impacto deles, os profissionais projetaram um questionário com o objetivo de realizar uma investigação mais aprofundada. A maioria dos participantes apresentou sintomas não motores mais problemáticos e incapacitantes que os motores e as discinesias, ou seja, os movimentos repetitivos involuntários que a reposição de dopamina pode causar.
Os pacientes relataram depressão, distúrbio do sono, dor, apatia, problemas de memória e de equilíbrio como os principais sintomas que afetam sua vida, acima dos sintomas motores. Ainda segundo a publicação, em mais de 50% das consultas os sintomas não motores não são reconhecidos pelos neurologistas. Ferraz alerta que os médicos precisam estar muito atentos, pois a maioria dos sintomas da fase inicial são difíceis de perceber porque são vinculados a várias outras doenças.
Outro estudo[iii], que avaliou 92 pacientes com Doença de Parkinson inicial e 173 com DP avançada, os distúrbios do sono foram eleitos como um dos sintomas que mais incomodam em ambos os grupos. As queixas mais frequentes foram noctúria –aumento do volume de urina durante a noite – (79%), dificuldades de se virar na cama (65%), cãibras musculares (55%) e pesadelos.
Quanto ao diagnóstico, muitas pessoas relutam em aceitá-lo logo na primeira consulta, o que atrasa o início do tratamento e contribui para a progressão da enfermidade. “De um modo geral, os pacientes sempre têm dificuldade de receber a notícia de que foram acometidos por uma doença crônica e com o Parkinson não é diferente”, afirma Ferraz.
Ainda assim, o médico aponta que é possível ter qualidade de vida, mesmo com DP. “Atualmente existem medicamentos que melhoram o desempenho das funções que o paciente necessita desenvolver, apesar de não impedirem a evolução da doença. Além disso, seguir a orientação do médico e manter uma rotina enérgica, tanto física quanto intelectualmente, favorecerá o sucesso do tratamento”, conclui.
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