*Por Dรฉbora Morales
Muitas cidades se definem inteligentes quando identificam caracterรญsticas de conectividade, inclusรฃo digital, forรงa de trabalho e conhecimento. Por meio de aplicaรงรตes inovadoras e de tecnologias, elas apoiam a partilha comunitรกria envolvendo elementos cumulativos, como governanรงa, mobilidade, uso inteligente de recursos naturais, cidadรฃos e economia. Devido ร dinรขmica de restriรงรฃo de espaรงos e alta densidade populacional, as cidades sรฃo naturalmente concebidas para compartilhar economias com consumo. Porรฉm, se suas melhorias sรฃo setoriais ou limitadas, elas nรฃo podem ser chamadas de inteligentes.
A transformaรงรฃo de cidades em inteligentes beneficia o uso de recursos urbanos como espaรงo, transporte, serviรงos, alimentos, bens e dinheiro. E a economia compartilhada permite o emprego desses recursos de forma colaborativa, definindo um modelo socioeconรดmico que permite o uso de ativos subutilizados, num sistema em que a oferta e demanda interagem para uma melhor oferta de produtos e serviรงos.
Do lado da oferta, os indivรญduos podem oferecer coisas como aluguel de curto prazo de seus veรญculos ociosos ou salas extras em seus apartamentos ou casas. Do lado da demanda, os consumidores podem se beneficiar em alugar bens a um preรงo menor ou com gastos transacionais mais baixos do que comprar ou alugar por meio de um provedor tradicional. E esse compartilhamento, facilitado pela tecnologia e pela internet, jรก รฉ uma realidade: Airbnb, Snap-Goods, Uber e RealyRides sรฃo exemplos de conexรตes que desbloqueiam o valor inerente ao compartilhamento de recursos sobressalentes em plataformas e oferecem muitas vantagens para atrair os dois grupos por meio de efeitos de rede.
Por meio da tecnologia, compartilhar economia fornece a base dessas inovaรงรตes de maneira imediata, contribuindo para que uma cidade se torne inteligente. Com uma infraestrutura tecnolรณgica significativa, a forma como os recursos sรฃo compartilhados รฉ transformada, sendo o capital humano destacado nesse cenรกrio, uma vez que a inteligรชncia das cidades leva em consideraรงรฃo, acima de tudo, o bem-estar da sociedade. Assim, os cidadรฃos podem liderar vidas criativas, embora ainda encontrem uma barreira para a tรฃo esperada revoluรงรฃo: a confianรงa.
Apesar de uma cidade inteligente ser feita para o cidadรฃo, sua inovaรงรฃo esbarra exatamente nele. Dentre todos os outros fatores humanos, confiar รฉ o mais importante desafio da economia compartilhada, uma vez que se trata de um sistema dependente de outros usuรกrios.
Para atingir com sucesso essa ideia, uma alternativa seria o uso da tecnologiaย blockchain, pois ser โlivre de confianรงaโ รฉ uma caracterรญstica central dos relacionamentos dos indivรญduos na abordagem baseada em blocos. Com a eliminaรงรฃo de intermediรกrios, reduรงรฃo dos custos operacionais e aumento da eficiรชncia de um serviรงo de compartilhamento, os indivรญduos tรชm autonomia sobre os registros de cada transaรงรฃo realizada, que sรฃo inseridos na rede.
Nos serviรงos de compartilhamento, a confianรงa nรฃo รฉ colocada em um indivรญduo, mas sim distribuรญda em toda a populaรงรฃo. O uso das autoridades centrais รฉ substituรญdo por uma comunidade de pares na forma de uma redeย peer-to-peer.ย Sendo assim, ninguรฉm pode tomar aรงรตes unilateralmente em nome da comunidade e os serviรงos de compartilhamento acabam sendo democratizados e livres de confianรงa. Nessa hipรณtese, o software pode automatizar grande parte do processo de transaรงรฃo, permitindo que as promessas contratuais sejam aplicadas sem envolvimento humano. Simples. Prรกtico. Seguro. E, assim, cidades realmente inteligentes.
*Dรฉbora Morales รฉ mestra em Engenharia de Produรงรฃo (UFPR) na รกrea de Pesquisa Operacional com รชnfase a mรฉtodos estatรญsticos aplicados ร engenharia e inovaรงรฃo e tecnologia, especialista em Engenharia de Confiabilidade (UTFPR), graduada em Estatรญstica e em Economia. Atua como Estatรญstica no Instituto das Cidades Inteligentes (ICI).