A Ética e o Roubo de Cargas

por Frederico Augusto Lanzoni
Inteligência de Mercado do Grupo Tracker
e
Jésus de Lisboa Gomes
Professor e Pesquisador da FECAP

O roubo e furto de caminhões sempre motivou o crime organizado. Para se ter uma ideia, um veículo de porte médio pode custar em torno de R$ 130 mil, um veículo maior, por sua vez, ultrapassa a casa dos R$ 650 mil, cifras que costumavam chamar a atenção dos empresários do crime a cometer este tipo de delito. Porém, nos últimos tempos, o interesse do crime organizado por bens e valores transportados por caminhões, carretas, motos e utilitários tem aumentado substancialmente.
Os criminosos identificaram nas cargas, uma oportunidade de obtenção de retorno ainda mais substancial. Um carregamento de produtos eletrônicos pode superar os R$ 2 milhões. Cargas contendo produtos de higiene ou perecíveis são escoadas em mercados clandestinos, verdadeiras feiras livres oriundas de atividades ilícitas. Hoje em dia, são muitas as possibilidades e receptadores de sobra, ávidos para adquirir mercadorias ao menor preço possível, independente da procedência.
Muitos centros de pesquisa e empresas têm estudado esse novo funding, (“financiamento”), do crime organizado para identificar comportamentos e traçar as melhores estratégias a fim de frear a atuação criminosa.
Muitos podem ser os fatores que levam o mundo do crime a ingressar em operações relacionadas ao Roubo de Cargas: o retorno financeiro proporcionado e a relação oferta e demanda em um país cuja aceitação por produtos sem procedência é relativamente alta. É um poderoso mercado de itens roubados, com inúmeras ramificações, passando por receptadores e culminando no cliente final.
O tema não se resume a isso e é bastante complexo à medida que estudos são realizados. Ainda assim, alguns pontos são muito claros, como por exemplo, a necessidade eminente de capacitação e qualificação técnica para a execução de roubos desta natureza. Em diversos casos, há cargas que demandam alta perícia por parte das organizações criminosas, que passam a dedicar seus esforços em especialização. Os criminosos estudam e se aprimoram cada vez mais em estratégias, equipamentos e pessoal qualificado a fim de ter êxito em suas arriscadas empreitadas neste segmento.
Acredita-se que há muitas situações em que informações privilegiadas sobre carregamentos, valores, trajetos, recursos de segurança, entre outros dados, transitam de empresas para organizações criminosas, facilitando a atuação dos bandidos.
Essas verdadeiras fraudes precisam ser combatidas com muito rigor pelas empresas. Enquanto vazamentos desta magnitude acontecerem, menores são as chances de qualquer operação logística ser bem sucedida nesta verdadeira batalha entre empresas e criminosos, cada vez mais comum no cenário brasileiro do transporte rodoviário de cargas.
E onde entra a Ética nesse contexto? Não desrespeitar o conjunto de normas, ideologias e valores que torna possível viver em uma sociedade de forma razoavelmente equilibrada. Não fraudar e chegar na hora marcada aos compromissos agendados, apenas como um simples exemplo, situam-se no campo da ética. Comportamentos oportunistas levam à construção da desconfiança, pois na memória de longa duração da sociedade restará a lembrança de que, diante de uma vulnerabilidade qualquer, seremos abusados. Então, é preciso dar um ‘jeito’ para sobreviver, às vezes burlando as regras cotidianas. A prática repetida se converte em hábito; o hábito em cultura.
Em um contexto no qual todo mundo tenta dar um ‘jeitinho de levar vantagem’, todos perdem. O comportamento ético inspira confiança nas pessoas, nas instituições e nas organizações, facilita as relações, estimula os negócios e torna os mercados mais eficientes.

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