Um estudo conduzido pelos oncologistas Gustavo Fernandes e Rafael Correa e pela geneticista Cinthya Sternberg, integrantes da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, analisou a correlação entre o uso indiscriminado e prolongado de hormônios e anabolizantes e o desenvolvimento de hepatocarcinomas, uma forma de câncer de fígado que corresponde a 90% de todos os tumores originários no órgão e é responsável por cerca de 15% de todas as mortes por falência hepática no mundo.
O levantamento, feito a partir da análise de estudos clínicos, revisões de literatura e relatos de caso, traz indícios de que o desenvolvimento do subtipo da doença é mais comum em decorrência de abuso de anabolizantes por um tempo considerável (entre dois e sete anos), mas é amplificado pela questão da idade precoce. “Isso se deve especialmente porque dois terços das pessoas que acabam abusando dos esteroides anabolizantes começam a consumi-los a partir dos 16 anos”, afirma o Dr. Gustavo Fernandes, Diretor da SBOC.
“Tradicionalmente, hepatocarcinomas são agressivos e difíceis de serem diagnosticados. Já sabíamos que a doença pode ter como origem casos de hepatite B, alimentação inadequada e consumo de álcool. Ainda que não seja possível afirmar cientificamente que o abuso de anabolizantes possa resultar neste tipo de câncer, o levantamento mostra que é necessário desde já alertar a população, especialmente jovem, para este risco”, afirma Fernandes.
Um dos principais problemas, segundo os pesquisadores, é que, tradicionalmente, os brasileiros não costumam se preocupar com doenças sérias, como o câncer, nessa idade. Segundo dados de uma recente pesquisa da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, mais de um terço das pessoas de 18 a 29 anos não realizam qualquer exame preventivo contra câncer no Brasil. “A equação desconhecimento mais falta de medidas preventivas costuma ter resultados desastrosos. O fato de os jovens começarem o uso de hormônios sintéticos tão cedo, aliado ao cuidado precário que eles dedicam à sua saúde, como indicado pelo levantamento da SBOC, cria uma situação de risco onde o diagnóstico do tumor supostamente advindo do abuso de esteroides pode ser tardio, com a doença já avançada”, alerta a Dra. Cinthya Sternberg, Diretora da SBOC.
Comprometida com a promoção da saúde no Brasil, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica recomenda que o uso de anabolizantes e hormônios seja condicionado à prescrição e acompanhamento de especialistas, como um endocrinologista ou ginecologista.
“Os efeitos dos esteroides anabolizantes para a dependência psicológica, problemas cardiovasculares, elevação do colesterol, aumento da pressão arterial, perda óssea e impotência sexual já são bem conhecidos e documentados. Com os resultados obtidos a partir de nossa análise mostrando também uma possível ligação com o câncer de fígado, a implementação de políticas públicas que alertem sobre os perigos do uso incorreto e sem supervisão de esteroides anabolizantes se torna ainda mais importante”, afirma Sternberg.
SOBRE A SBOC – SOCIEDADE BRASILEIRA DE ONCOLOGIA CLÍNICA
A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) é a entidade nacional que representa mais de 1,5 mil especialistas em oncologia clínica distribuídos pelos 26 Estados brasileiros e o Distrito Federal. Fundada em 1981, a SBOC tem como objetivo fortalecer a prática médica da Oncologia Clínica no Brasil, de modo a contribuir afirmativamente para a saúde da população brasileira. Desde novembro de 2017, é presidida pelo médico oncologista Sergio D. Simon, eleito para o biênio 2017/2019.
guilherme.scarabelin