Em um futuro próximo, o desaparecimento da Araucária (Araucaria angustifolia), árvore símbolo do Sul do Brasil, pode se tornar uma realidade. Desde 2004, dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) já indicavam que restavam menos de 0,8% de fragmentos em estágio avançado de regeneração do ecossistema Floresta com Araucárias, principalmente devido ao histórico de exploração econômica de bens da floresta – como madeira e erva-mate – e sua supressão para atividades agrícolas, expansão de urbanização, reflorestamentos com espécies exóticas, etc.
Pesquisas atuais também mostram que a Floresta com Araucárias perdeu aproximadamente 97% de sua área original e, por conta disso, o ecossistema é um dos mais ameaçados do Bioma Mata Atlântica – atualmente o status da araucária é ‘criticamente em perigo’ na lista de espécies ameaçadas de extinção da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza, na sigla em inglês) e na Lista Vermelha da flora brasileira do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora).
Essas listas, além de mostrarem as condições de ocorrência e ameaças, fornecem subsídios para ações de conservação de espécies consideradas ameaçadas e proporcionam o relacionamento entre pesquisadores e tomadores de decisão. Nesse contexto, iniciativas têm concentrado esforços para a conservação da flora como um todo. Um exemplo é o projeto desenvolvido pela Sociedade Chauá, no Paraná, com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, que iniciou a elaboração de listas de espécies ameaçadas de extinção da Floresta com Araucária, com o objetivo de identificar o atual estado de conservação da biodiversidade e fornecer subsídios para proteção de espécies ameaçadas.
“Tendo em vista que até 2050 a estimativa de extinção de espécies da flora é de 7 a 24%, e que ainda não avaliamos o estado de conservação de aproximadamente 90% da flora nacional, as avaliações de risco de extinção constituem importantes ferramentas para a conservação”, explica o responsável técnico, Pablo Melo Hoffmann. Segundo ele, esse projeto descreve o processo de avaliação do risco de extinção de dez espécies da flora da Floresta com Araucária, e apresenta perspectivas e recomendações para a conservação delas.
O projeto, realizado em parceria com o CNCFlora, mostra a necessidade do incentivo à elaboração e revisão de “listas vermelhas” em nível regional e estadual, assim como a necessidade do incremento de informações de qualidade, como forma de garantir avaliações mais consistentes. “Esperamos que as espécies classificadas como ameaçadas nesse projeto sejam alvo de futuras ações de conservação, e que iniciativas públicas e privadas sejam tomadas diretamente para a conservação das mesmas, assim como a elaboração de Planos de Ação Nacional (PANs), com o objetivo de identificar e orientar as ações prioritárias para reduzir as ameaças que colocam em risco as populações e os ambientes naturais”, avalia Hoffmann.
Dentre as dez espécies estudadas, o pesquisador destaca duas espécies de Palmeiras, a Trithrinax acanthocoma(Carandaí ou Buriti- palito) e Butia exilata (Butiá). A primeira foi classificada como vulnerável e a segunda como criticamente em perigo, ambas com um grande risco de desaparecerem do ambiente natural. “A Floresta com Araucárias possui hoje aproximadamente mil espécies de plantas que dependem umas das outras, entre elas a própria Araucária. Por isso, para que os serviços ecossistêmicos funcionem adequadamente, é necessário preservar todo o ecossistema”, alerta.
Esforço conjunto pode garantir futuro da espécie
Segundo o Coordenador de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário, Emerson Oliveira, também é necessário que a sociedade e o poder público se unam para estabelecer estratégias de conservação, principalmente com foco no aumento de áreas protegidas que envolvam a Floresta com Araucárias, bem como na implementação das unidades de conservação já existentes. “Na nossa visão o desafio é fazer com que a conservação da natureza ganhe relevância. Uma saída tem sido a criação e ampliação de Unidades de Conservação por meio de atuação em políticas públicas e convencimento da sociedade sobre a importância destas áreas”, conta.
Pablo Hoffmann salienta que além da preservação das árvores existentes é preciso também incentivar o plantio de novas árvores. “As plantas estão desaparecendo e não estão sendo reintroduzidas. Dentro do nosso projeto contamos com um viveiro de mais de 160 espécies nativas da Floresta com Araucária, dessas, pegamos três mil mudas para serem reintroduzidas por nós, da Sociedade Chauá, em unidades de conservação”, conta o pesquisador.
A Araucária é uma espécie única, que possui ciclo de vida lento e limitante. A planta atinge a fase adulta após 15 ou 20 anos e depende do vento como agente polinizador ou de animais, como a gralha-azul – que se alimenta do pinhão – para dispersar suas sementes. Ou seja, com o número de árvores diminuindo, o ideal é que a espécie não dependa somente de fatores naturais para aumentar a população, mas que haja também uma política de incentivo para conservar o ecossistema onde ela ocorre.
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