Quem tem diabetes sabe que os cuidados com a saúde precisam ser redobrados, principalmente quando se fala da saúde dos pés. O controle inadequado dos níveis de glicose no sangue é o principal fator para que eles fiquem mais sensíveis à doença. Estima-se que uma em cada quatro pessoas com diabetes possa ter pé diabético ao longo da vida.
Camila Luhm, endocrinologista da Neoclinical e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), explicou que existem duas condições que fazem com que seja mais fácil sofrer com úlceras e infecções nos pés, e que podem acabar levando à amputação.
“A neuropatia diabética, lesão dos nervos ocasionada pela glicemia elevada, é uma complicação que afeta 50% dos pacientes e o fator causal mais importante para as úlceras nos pés dos pacientes diabéticos. A neuropatia leva à perda de sensibilidade, e nos estágios mais avançados, a deformidades. Outra condição são os problemas circulatórios (doença arterial obstrutiva periférica), que reduzem o fluxo de sangue para os pés”, lembrou a especialista.
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Sintomas do pé diabético
Existem alguns sintomas característicos do pé diabético e que merecem atenção. São eles:
– Dor, que pode aparecer em forma de ardência ou pontada, que pode ser desproporcional a um estímulo pequeno, e em alguns casos até mesmo causada por um simples toque;
– Queimação;
– Formigamentos e dormência;
– Fraqueza nas pernas;
– Câimbras.
De acordo com a especialista, esses sintomas tendem a piorar à noite, ao deitar, e melhoram com as atividades.
“Se a neuropatia progredir, pode ocorrer a perda de sensibilidade no pé, dificultando a percepção de calor, frio e mesmo de algum machucado. Por exemplo: o paciente pode não perceber que pisou em uma tachinha ou que está com uma bolha porque andou muito naquele dia. Quando notar, a lesão poderá estar bem pior e infeccionada”, exemplificou.
Todo diabético terá problema nos pés?
Essa é uma dúvida muito frequentes, mas segundo Camila, pacientes que mantêm um bom controle glicêmico (nível de açúcar no sangue) têm menor risco de desenvolver qualquer complicação relacionada ao diabetes.
“Sabe-se que o diabetes pode prejudicar a circulação, mas esse problema se agrava ainda mais com o uso de cigarro, pressão alta e desequilíbrio nos níveis de colesterol. A duração do diabetes (tempo que a pessoa convive com a doença) e a presença de retinopatia e doença renal também são fatores que favorecem a progressão da neuropatia. Portanto, não necessariamente o diabético vai ter problema nos pés”, esclareceu a endócrino.
Para quem fuma, fica outro alerta: o tabagismo tem sério impacto nos pequenos vasos sanguíneos que compõem o sistema circulatório, piorando a má circulação. Com isso, as feridas cicatrizam mais lentamente.
Amputações e o diabetes
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), cerca de 60% de todas as amputações das extremidades inferiores estão relacionadas ao diabetes mellitus. Mas há como prevenir esse quadro, conforme explica Camila.
“A principal forma de se evitar o pé diabético é manter as taxas glicêmicas sob controle e fazer exames anuais para o diagnóstico precoce da neuropatia. O exame clínico dos pés deve ser realizado anualmente para o diagnóstico precoce do pé diabético, antes que venham as complicações. Esta avaliação é importante porque metade das pessoas com diabetes pode ter neuropatia e não apresentar sintomas. Nesses casos a pessoa só se dá conta quando está num estágio avançado e quase sempre com uma úlcera ou uma infecção, o que já torna o tratamento mais difícil”, alerta a especialista.
Quem já tem diagnóstico de neuropatia diabética, má circulação ou pé diabético deve tomar alguns cuidados para prevenir ulcerações, pois 85% das amputações são precedidas por úlceras nos pés e pernas.
Cuidados com pé diabético
Para prevenir que a ulceração se instale é necessário que a pessoa com diabetes fique atenta a cuidados básicos diários, principalmente em relação à higiene e a utilização de calçados adequados. A endocrinologista listou 6 dicas importantes:
1 – Faça o autoexame: o paciente deve examinar os pés diariamente em um lugar bem iluminado. Quem não tiver condições de fazê-lo, precisa pedir a ajuda de alguém. Vale verificar a existência de frieiras, cortes, calos, rachaduras, feridas, alterações de cor da pele (se está arroxeada), das unhas (demoram a crescer) e ausência de pelos. Uma dica é usar um espelho para uma visão completa. Nas consultas, pedir ao médico que examine os pés;
2 – Mantenha os pés limpos: lave sempre com água morna, e nunca quente, para evitar queimaduras. Após lavá-los, enxugue-os bem com uma toalha macia, sobretudo entre os dedos, para evitar frieiras. A pele precisa ser hidratada com cremes hidratantes, exceto entre os dedos, para evitar proliferação de fungos;
3 – Use meias sem costura: o tecido deve ser algodão ou lã; evite sintéticos, como nylon;
4 – Corte as unhas corretamente: use alicate adequado ou tesoura de ponta arredondada. O corte deve ser quadrado, com as laterais levemente arredondadas, e sem tirar a cutícula. Prefira um profissional treinado, e sempre o avise sobre o diabetes. O ideal é não cortar os calos nem usar abrasivos. É melhor conversar com o médico sobre a possível causa do aparecimento dos calos;
5 – Não caminhe descalço: traumas ocorrem em qualquer lugar se há insensibilidade. Os calçados ideais são os fechados, macios, confortáveis e com solados rígidos, que ofereçam firmeza. As mulheres devem dar preferência a saltos quadrados que tenham, no máximo, 3cm de altura.
É melhor evitar sapatos apertados, duros, de plástico, de produto sintético, com ponta fina, saltos muito altos e sandálias que deixam os pés desprotegidos. Além disso, recomenda-se a não utilização de calçados novos por mais de 1h por dia, até que estejam macios;
6 – Não fume: um grande número de pessoas com diabetes que necessitam de amputações são fumantes, porque o cigarro ocasiona má circulação.
Sobre Camila Luhm
Camila Luhm é graduada em Medicina pela Faculdade Evangélica do Paraná (FEPAR), com residência em Clínica Médica pelo Hospital de Clínicas – Universidade Federal do Paraná (UFPR) e residência em Endocrinologia pelo Hospital de Clínicas – Universidade Federal do Paraná (UFPR). Tem mestrado em Medicina Interna pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e possui título de especialista em Endocrinologia e Metabologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Também é membro da Sociedade Latino-Americana de Tireoide (LATS).
Serviço:
Dra. Camila Luhm – Neoclinical
Endereço: Rua Carneiro Lobo, nº 468, 12º andar / Centro Empresarial Champs Elysees
Bairro: Batel / Curitiba – PR
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