O músico Marcelo Teixeira apresenta o concerto Bach em Sete Cordas, nesta quarta-feira, 25, às 13h, na Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba. O concerto reúne um repertório envolvendo obras do grande compositor alemão Johann Sebastian Bach, adaptadas para o violão de sete cordas. A entrada é franca.
O trabalho foi viabilizado através do Programa de Fomento e Incentivo à Cultura (PROFICE) do governo do Paraná, com o apoio máster da Copel e da Beaulieu do Brasil. É resultado de um amplo estudo sobre a música no século XVIII realizada por Marcelo Teixeira, que é mestre em Música pela Universidade Estadual do Paraná
(UFPR) onde desenvolveu sua dissertação e a pesquisa que originou as transcrições e, posteriormente o registro fonográfico dessas obras. Marcelo também é camerista e professor da Academia de Música Contemporânea.
A pesquisa teve como motivação o desafio de transpor a música atemporal e ‘monolítica’ de Bach, originalmente escritas para instrumentos como alaúde, violoncelo ou cravo para o moderno violão de sete cordas. Para isso foram analisadas diversas versões realizadas pelo próprio compositor que costumava rearranjar peças entre diferentes formações, desde um simples violino a uma orquestra completa sem mudar o conteúdo musical das obras nos diferentes meios.
Nas transcrições a sonoridade também foi cuidadosamente trabalhada através de recursos empregados tradicionalmente entre os alaudistas e outros instrumentistas de cordas dedilhadas da época de Bach. “Técnicas interpretativas tais como o stile briseé, campanellas e diferentes afinações são incorporadas à sonoridade do violão de sete cordas de forma natural e idiossincrática, trazendo também um pouco da atmosfera presente no contexto musical em que foram criadas”, explica Teixeira. O instrumentista reconhece que nas transcrições presentes no concerto as peças do compositor alemão parecem ter sido compostas para o violão de sete cordas, que é similar ao alaúde barroco no que diz respeito à extensão.
Repetório
O repertório foi escolhido seja por se encaixar perfeitamente ao violão de sete cordas, como no caso da música para alaúde e cravo ou ainda, em outra ponta, músicas que requerem uma maior intervenção do arranjador, oferecendo amplo espaço para adicionar vozes, complementar acordes num processo em grande medida composicional.
O concerto o violonista traz ao público um repertório que envolve várias fases da produção musical de Bach. A Suite em Sol menor BWV995 para alaúde é para muitos uma versão mais completa que sua equivalente no Violoncelo (quinta suíte) já que comporta harmonias mais complexas, contraponto elaborado e outras características que se acomodam perfeitamente nos instrumentos de cordas dedilhadas como no caso do violão de sete cordas. Notoriamente o maior alaudista da época, Silvius Leopold Weiss, tinha laços de amizade com Bach e com seu filho Friedman e pode ter incentivado o compositor a escrever para o instrumento.
Já no Prelude Fuga e Allegro tem-se um exemplar raro de uma obra em três movimentos – um ‘tríptico’ cuja Fuga é o quadro central é envolvido simetricamente pelos outros dois movimentos o Prelúdio e o Allegro. É uma das peças mais interessantes e refinadas da produção de Bach para alaúde, embora o próprio compositor tenha proposto que pode ser tocada nos instrumentos de teclado, tanto que tem integrado o repertório de pianistas e cravistas como nas históricas interpretações de Sviatoslav Richter e Wanda Landowska. De fato, Bach possuía um instrumento de teclado com cordas de tripa com sonoridade muito parecida com o alaúde – o lautenwerk – onde possivelmente essas obras foram compostas e executadas.
Nas transcrições das danças provenientes das Suites para violoncelo solo são apresentadas versões muito originais que exploram aspectos apenas sugeridos nas peças originais, os quais são desenvolvidos numa profusão harmônica e polifônica nas transcrições que enfatizam os padrões rítmicos de dança barroca em Bourrées, Menuets e Gavottes, ganhando uma nova vida ao violão de sete cordas.
Complementam o repertório duas transcrições praticamente inéditas: um movimento da Suite Francesa em ré menor para cravo e finalmente o complexo e genial Kontrapunctus I, uma fuga a quatro vozes presente no grande ciclo intitulado “A arte da Fuga”, a obra prima derradeira de J. S. Bach.