Talvez nada seja tão aguardado no ramo da Dermatologia como a utilização de células-tronco em tratamentos para a pele. Estudos recentes vêm demonstrando uma série de atuações desse tipo de células no rejuvenescimento e regeneração do tecido cutâneo, com excelentes perspectivas para uso cosmético ou injetável. Além disso, conforme acrescenta a dermatologista Dra. Thais Pepe, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia, as células-tronco podem ser usadas como substitutos de animais no desenvolvimento de cosméticos. “As células-tronco embrionárias humanas são apresentadas na União Europeia como alternativa ao uso de animais em testes de toxicidade. Esses testes baseados em células humanas evitariam as variações entre espécies e, como tal, preveem efeitos adversos mais precisos para o corpo humano. Mas ainda há uma questão ética que precisa ser debatida”, acrescenta.
Mas além da esperança na substituição dos animais em testes cosméticos, um artigo científico (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28919421), publicado em novembro do ano passado no Biochemical and Biophysical Research Communications, corrobora a aplicação desse tipo de tecnologia na pele. “O estudo afirma que exossomos derivados das células-tronco mesenquimais do sangue do cordão umbilical humano estimulam o rejuvenescimento da pele humana. Elas desempenham um papel importante na cicatrização de feridas cutâneas e ativam várias vias de sinalização, que são favoráveis na cicatrização de feridas e no crescimento celular. O estudo detectou que, assim que absorvido na pele humana, as células-tronco promovem a síntese de colágeno I e elastina na pele, que são essenciais para o rejuvenescimento da pele”, afirma a médica.
Outro importante periódico, o Journal of Drugs In Dermatology, publicou em 2016 um estudo (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27168267) que destaca uma glicoproteína, apelidada de Alpha 2-HS (Fetuína), é produzida por células-tronco humanas e demonstra ser um ingrediente cosmético revolucionário. “As secreções celulares derivadas das células-tronco foram incorporadas em duas formulações cosméticas simples (soro e loção), sem adição de outros ingredientes, e investigadas em um ensaio humano de 12 semanas que incluiu 25 indivíduos em cada grupo. As análises de proteínas nas secreções celulares revelaram uma alta concentração da glicoproteína multifuncional alfa 2-HS (fetuína), juntamente com uma multiplicidade de fatores proteicos envolvidos em desenvolvimento e manutenção de pele humana saudável”, diz a médica. A investigação clínica, segundo o artigo, demonstrou melhora significativa dos sinais clínicos do envelhecimento cutâneo intrínseco e extrínseco, achados que foram confirmados por mudanças significativas na morfologia da pele, em proteínas de hidratação da pele como filagrina, aquaporina e conteúdo de colágeno I. “Os dados apoiam fortemente a hipótese de aplicação cosmética de secreções precursoras de linhagem de pele derivada de células-tronco, contendo fetuína e fatores de crescimento benéficos para o desenvolvimento e manutenção da pele humana, para influenciar positivamente o envelhecimento intrínseco e extrínseco”, concluiu o estudo.
A aplicação injetável de células-tronco na pele também vem sendo estudada. Um trabalho da Malásia (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23171323) concluiu que as células-tronco mantiveram suas propriedades celulares após serem injetadas na pele em injeções únicas e múltiplas, comprovando que podem ser usadas com segurança para fins clínicos e terapêuticos.
Células-tronco vegetais
Se o desenvolvimento cosmético com células-tronco humanas demanda uma questão ética importante que precisa ser debatida, uma realidade pode ser obtida das células-tronco derivadas de plantas.
Em 2014, foi publicado na Dermatologic Clinics, o estudo Next Generation Cosmeceuticals – The Latest in Peptides, Growth Factors, Cytokines and Stem Cells (https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0733863513000892?via%3Dihub) que destacou: as células-tronco xenogênicas derivadas de plantas possuem propriedades antisenescentes, diminuindo o processo de envelhecimento celular.
No mesmo ano, artigo publicado (https://journals.lww.com/psnjournalonline/Citation/2014/07000/Overview_of_Plant_Stem_Cells_in_Cosmeceuticals.14.aspx) no Plastic Surgical Nursing apontou vantagens das células-tronco vegetais ao afirmar que as células-tronco humanas têm a capacidade de se diferenciar em apenas um outro tipo de célula, enquanto as células-tronco derivadas de plantas são totipotentes, o que significa que elas têm a capacidade de criar uma planta totalmente nova. “O papel da maioria desses extratos de células-tronco derivados da planta é proteger as células-tronco humanas, existentes que residem na camada basal da pele humana, de danos causados ao DNA e induzidos por radicais livres. O artigo afirma que pesquisas recentes identificaram que extratos de células-tronco da planta apresentam atividade antioxidante substancial comprovada para proteger as células-tronco da pele desse estresse oxidativo induzido pelo ultravioleta, além de inibir a inflamação, neutralizar os radicais livres e reverter os danos de fotoenvelhecimento”, diz a médica. Como resultado, prossegue o estudo, os produtos cosmecêuticos agora estão incorporando esses extratos derivados de células-tronco da planta para promover a proliferação celular saudável e proteger contra danos celulares induzidos pelos ultravioletas em seres humanos. “Embora existam potencialmente muitas células-tronco botânicas que poderiam proporcionar benefícios à pele, a maior parte da pesquisa tem sido focada em três: a planta lilás, a uva e a maçã suíça”, finaliza.
Dra Thais Pepe: Dermatologista especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, membro da Sociedade de Cirurgia Dermatológica e da Academia Americana de Dermatologia. Diretora técnica da clínica Thais Pepe, tem publicações em revistas científicas e livros, além de ser palestrante nos principais Congressos de Dermatologia.
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