Para que outros pais não passem pela dor do luto, Jac Fressatto desenvolveu o Robô Laura, primeiro algoritmo que prevê a morte usando inteligência artificial para emissão de alertas em hospitais
Foi uma saga de 18 dias. Em 2010, a bebê Laura nasceu prematura e foi internada na UTI Neonatal de um hospital em Curitiba. Foi quando a sepse – mais conhecida como infecção hospitalar – mudou para sempre o rumo da vida de Laura, de seu pai e de muitas outras pessoas que viriam a se internar. Impiedosa, a doença fez Laura partir com apenas 18 dias de vida. Como é de se esperar dos pais, o dela, Jacson Fressatto, sofreu um misto de revolta, angústia e impotência típicos de quem passa pela dor do luto.
O primeiro impulso era encontrar culpados. Para tanto, o pai angustiado fez uma maratona pelos hospitais da cidade buscando compreender como os processos funcionavam. “No fundo tudo que eu queria era uma resposta para entender o que exatamente tinha acontecido com minha filha”, relata. Mas não foi só isso. Mesmo sabendo que não poderia reverter sua própria história, o amor de pai foi capaz de transformar dor em propósito de vida: evitar que outras pessoas morressem da mesma forma que Laura. “Minha missão hoje é evitar que outros pais passem pela dor que eu passei e sei que a inteligência artificial pode ser nossa aliada para isso”, explica.
Oito anos depois, promessa cumprida. Em homenagem à filha e sob a missão de impedir mortes semelhantes, o arquiteto de sistemas curitibano criou o primeiro robô cognitivo gerenciador de risco do mundo. O Robô Laura salva uma vida por dia e atualmente opera em cinco hospitais. O software lê as informações dos pacientes e emite alertas que são enviados a cada 3,8 segundos à equipe médica com o objetivo de sinalizar o quadro de pacientes com riscos de infecção generalizada, além de alertar com antecedência outros casos de deterioração.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as infecções hospitalares atingem cerca de 14% dos pacientes internados e são responsáveis por mais de 100 mil mortes no Brasil todos os anos. As estatísticas do Robô Laura indicam queda de 9% nos casos de infecção nos hospitais que usam o recurso. Assim, a tecnologia pode salvar até 10 mil brasileiros por ano. “Já sabemos que o robô funciona e é eficiente, com potencial gigante para ser implantado em outras regiões do país”, completa Jac.
A Laura também mudou a vida da Francielli Colle Santana e do bebê dela que ainda vai nascer. Depois de ser internada duas vezes passando mal durante a gestação em outro hospital, somente quando foi atendida no Hospital Nossa Senhora das Graças em Curitiba ela recebeu o diagnóstico de endocardite que estava causando a septicemia. Francielli foi direto para a UTI e precisou passar por uma cirurgia cardíaca. “Foi muito rápido e lá no hospital mesmo eles me explicaram que nós dois sobrevivemos graças ao Robô Laura”, diz.
Enquanto cuidava do desenvolvimento da Laura, Jac teve outros dois filhos: Léo e Maya. Hoje, é convidado para dar palestras em todo o Brasil sobre a tecnologia que criou e sua história de superação. Em maio deste ano, participou do TEDx Talks em São Paulo.