A audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a c até a 12ª semana de gravidez mobilizou 821 mil tuítes desde a 0h da última quarta-feira (1) até as 8h desta terça (7). Só na sexta, data de início da audiência, foram registrados 696 tuítes por minuto por volta das 16h, quando houve um pico de publicações sobre o tema.
Foram três as hashtags principais sobre a descriminalização. A primeira, #abortoécrime, esteve presente em mais de 246 mil menções (30% do total), e figurou nos Trending Topics (TTs) de diversos países para além do Brasil. A hashtag foi prioritariamente utilizada por usuários contrários ao aborto, mas também esteve presente em menções favoráveis ao procedimento, sobretudo através de ironias em relação aos altos índices de abandono paterno no país. A segunda hashtag mais mencionada, #nempresanemmorta (9%), e a terceira, #legalizeoaborto (6%), mobilizaram juntas cerca de 123 mil menções.
Apesar da predominância da hashtag contrária ao aborto, todos os dez tuítes de maior repercussão do período, com número de curtidas e compartilhamentos mais significativos, foram favoráveis à descriminalização da interrupção da gravidez.
Os usuários favoráveis à descriminalização do aborto concentraram-se nos grupos vermelho e verde, responsáveis, respectivamente, por 68% e 13% do total de perfis que se engajaram no tema. Tanto perfis ligados à imprensa e à pesquisa acadêmica (verde) quanto perfis de usuários comuns e de organizações de defesa dos direitos da mulher (vermelho) reivindicam o direito de escolha da mulher, em contraposição à hashtag #AbortoÉcrime, e criticam o abandono parental, identificado como um “aborto” praticado por homens. Além disso, houve críticas à massiva manifestação de homens sobre a questão que, segundo internautas, diz respeito prioritariamente às mulheres.
Já os usuários contrários ao aborto (grupo azul, 14% dos perfis) defenderam a humanidade de fetos e embriões e questionaram a interrupção da gravidez, comparando-a à descriminalização de outras questões, como o homicídio, e às penas impostas a outros crimes. Também julgaram incoerente a despenalização do aborto se comparada à restrição da venda de armas para a população. Por fim, defenderam ainda que a prática do sexo sem proteção pressupõe a gravidez como consequência, sendo o aborto uma irresponsabilidade.
A figura política de maior relevância para o grupo azul foi o presidenciável Jair Bolsonaro, em virtude da repercussão de entrevista realizada na sexta-feira em que o candidato afirma que vetaria eventual lei descriminalizando o aborto, caso eleito. A mobilização dos seus filhos ao redor do tema também repercutiu, com tuíte do deputado federal Eduardo Bolsonaro (@BolsonaroSP) figurando como quarto mais compartilhado do grupo, com mais de 2,2 mil retuítes.
Apesar da quantidade de perfis dos grupos favoráveis ao aborto (vermelho e verde) ter correspondido a 81% do total, o grupo contrário (azul) gerou uma quantidade de compartilhamentos proporcionalmente maior (24%), o que indica mais interação entre os usuários desse grupo.
A presença de robôs no debate
De um total de 348.731 contas presentes nos três grupos analisados, 631 (0,18%) foram classificadas como automatizadas de acordo com a Metodologia DAPP de identificação de robôs, ou seja, por criarem mais de uma publicação com intervalo inferior a um segundo pelo menos duas vezes, ou por utilizarem plataformas de automatização para produzir seus tuítes.
No grupo azul, 228 contas automatizadas foram responsáveis por 3% das interações. No grupo vermelho, 246 perfis automatizados geraram 0.17% das interações. O que mostra que os robôs presentes no grupo azul (contra a legalização do aborto) foram mais ativos no debate.
rafael.massadar@insightnet.com.br