Início Geral Meio-ambiente Cultivares de banana-maçã demandam menos água e defensivos químicos

Cultivares de banana-maçã demandam menos água e defensivos químicos

Experimentos da BRS Princesa na Fazenda Oriente, norte de Minas Gerais. Foto: Fernando Haddad

Pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) desenvolveram um sistema de produção on-line específico para as cultivares de banana-maçã BRS Princesa e BRS Tropical e obtiveram economia significativa no consumo de água. O desempenho as torna ideais para cultivos em regiões como o Semiárido. Desenvolvidos pela Embrapa, ambos os materiais são resistentes às principais doenças que atacam a cultura, como as sigatokas negra e amarela, o que também reduz o consumo de defensivos agrícolas.O consumo de água das cultivares atingiu patamares 25% menores em comparação às variedades de banana-prata, as mais cultivadas no País. A BRS Princesa e a BRS Tropical são resultado do programa de melhoramento genético da Embrapa Mandioca e Fruticultura, voltado à busca de novas variedades resistentes a doenças e mais produtivas.

Recomendações

Um sistema de produção reúne todas as recomendações para atender às exigências de cultivo, desde o preparo do solo, passando pelos tratos culturais na lavoura, até as práticas pré e pós-colheita. Em relação à banana, os sistemas não eram específicos para cultivares (a especificidade era para regiões ou estados). A elaboração de sistemas de produção voltados para cultivares adotadas pela Embrapa visa melhorar o desempenho do material ao indicar ao produtor a melhor maneira de cultivá-lo.

“Com o sistema de produção trazendo todas as orientações específicas para cada uma das cultivares, a chance de sucesso no plantio é muito maior, pois as cultivares podem produzir com qualidade e produtividade que expressem todo o seu potencial genético”, explica a pesquisadora Ana Lúcia Borges, editora técnica do documento, que tem ainda como editor o pesquisador Zilton Cordeiro e, ao todo, 19 autores.

Superioridade da BRS Princesa

O sistema é recomendado também para a BRS Tropical, mas os esforços de experimentação estão concentrados na BRS Princesa, considerada um material superior pela qualidade do fruto e resistência à murcha de fusarium, também conhecida como mal-do-Panamá, outra doença importante da cultura. “A BRS Princesa começa a ocupar o seu nicho de mercado no segmento de bananas do tipo Maçã, que praticamente não se consegue produzir mais e estão fadadas à extinção por sua alta susceptibilidade ao fungo causador da murcha de fusarium,” conta o pesquisador Edson Perito Amorim, líder do programa de melhoramento genético de bananas e plátanos da Embrapa.

O pesquisador da Embrapa Eugênio Coelho explica que a banana-maçã Princesa alcança sua produtividade máxima com 80% da lâmina de água aplicada para outras cultivares, como a Grande Naine (banana d’água), do tipo Cavendish, e a Prata Anã. “Enquanto que com essas cultivares, as mais consumidas no País, você precisa de 30 a 35 litros de água por planta ao dia, na BRS Princesa você vai precisar de 24 a 25 litros para chegar ao seu máximo de produção. Ou seja, se o produtor colocar mais do que isso, vai desperdiçar água, pois não há necessidade,” declara Coelho, ressaltando que com o mesmo volume de água que o produtor utiliza em um hectare de banana-prata, ele pode usar em 1,2 hectare da BRS Princesa. “Com isso, ele ganha dois mil metros quadrados de área”, frisa o cientista.

Ideal para regiões com escassez hídrica

As duas bananeiras do tipo Maçã demonstram ser possível boa produtividade com lâminas de 800 a 1.200 mm de água no ciclo. Enquanto a Prata Anã, por exemplo, requer pelo menos 1.100 mm, dependendo das condições climáticas. “Se o clima é mais seco e quente, como no Semiárido, pode requerer bem mais que 1.100 mm”, afirma Coelho. Em sua avaliação, a BRS Princesa é excelente alternativa para os produtores em áreas com escassez hídrica, já que, em geral, os rios que suprem os projetos de irrigação dessas regiões, como o São Francisco, têm tido suas vazões reduzidas a ponto de comprometer o abastecimento para os projetos de irrigação. “Já há uma migração de áreas de bananeira do norte de Minas, por exemplo, para a parte mais central do estado, onde chove mais,” conta.

O pesquisador Sérgio Donato, do Instituto Federal (IF) Baiano – campus Guanambi, parceiro da Embrapa nesses estudos, diz que, atualmente, a água é o maior fator limitante da agricultura, o que não é mais exclusividade do Semiárido. “Esse é um desafio atual em vários ecossistemas por conta do quadro de variabilidade climática. Há o problema do déficit hídrico no solo, mas também a seca da atmosfera. Muitas variedades tradicionais não resistem a essa situação. Se permanecer esse quadro, é preciso ter dados que suportem o uso de outras cultivares que tolerem mais o déficit hídrico, não só do solo, mas também as ondas de calor e a baixa umidade do ar que estressam as plantas”, afirma Donato, que atua com a Embrapa em experimentos do programa de melhoramento genético de banana desde 1997.

Coelho informa que, como a cultivar necessita de menos água, é possível utilizar o sistema por gotejamento, cuja irrigação é localizada — a água é aplicada em pequenas vazões diretamente nas raízes das plantas, utilizando pedaços de mangueira com pequenos furos e gotejador na ponta. Isso sem perda de produtividade ou vigor vegetativo, como pontua o pesquisador.

“Com a banana-maçã Princesa podemos aumentar a densidade de plantio, o que significa ter mais plantas por hectare. Nos experimentos do norte de Minas, a cultivar obteve rendimentos de até 40 toneladas por hectare enquanto que a produtividade média convencional de banana-prata na região é de 25 t/ha,” relata o pesquisador da Embrapa Fernando Haddad, que conduz os experimentos em Minas com o analista Leandro Rocha. As lavouras experimentais têm densidade de plantio entre duas mil a 2,8 mil plantas por hectare — a média das outras cultivares, como as do tipo Prata Anã, é de 1,6 mil plantas por hectare.

Opção para o cultivo orgânico

Resistentes às principais doenças da cultura, as BRS Princesa e BRS Tropical são ideais para o cultivo orgânico, pois dispensam o uso de fungicidas e outros defensivos. Isso no caso das sigatokas, já que em relação ao fusarium não há nem a possibilidade de controle químico, físico ou biológico. Ser resistente a essa doença, então, é uma das grandes vantagens responsáveis pelo sucesso que a banana-maçã Princesa vem alcançando com os produtores.

O único controle necessário é o voltado à praga conhecida como broca-do-rizoma ou moleque da bananeira, que pode ser biológico. Haddad anuncia que até agosto a empresa Brasnica Frutas Tropicais, parceira da Embrapa nos experimentos em Minas, deve realizar a primeira colheita em cultivo orgânico de frutos da BRS Princesa.

Economia de nutrientes

A BRS Princesa também apresentou menos exigências nutricionais em comparação a outros materiais, tanto do tipo Cavendish quanto Prata. “Nos trabalhos desenvolvidos no norte de Minas, reduzimos em aproximadamente 50% a adubação da banana-maçã Princesa em relação ao tipo Prata Anã, e a cultivar produziu muito bem. Quanto à quantidade exata da redução na utilização dos nutrientes depende muito da composição química do solo e das condições locais. Cada local vai ter que fazer seus testes. Mas que a banana-maçã Princesa é menos exigente do que cultivares dos tipos Prata e Cavendish não há dúvida, principalmente em relação ao potássio e ao nitrogênio, os nutrientes mais absorvidos pela cultura”, informa Haddad.

Esses aspectos reunidos, menor exigência de água e a redução do uso de agrotóxico e de nutrientes, resultam em um sistema mais sustentável e na consequente redução dos custos de produção, conforme ressalta o cientista da Embrapa.

 

Tolerância ao frio

Nos experimentos, identificou-se ainda que a BRS Princesa possui maior tolerância ao frio, o que permite produzir frutos de qualidade também em ambientes de baixa temperatura. Essa observação de campo foi feita pelo produtor Orivaldo Dan, de Jacupiranga (SP), no Vale do Ribeira, onde as atividades são desenvolvidas pelo campo avançado da Embrapa Mandioca e Fruticultura na região. “Estamos com mais de um ano de produção da banana-maçã Princesa. Uma área pequena, com 12 mil pés. Em julho passado, tivemos dois dias de temperatura em 1oC e não se observou chilling [injúrias causadas por baixas temperaturas] nos frutos”, afirma Dan. Ele salienta também a resistência à Sigatoka-negra. “Estamos em uma região com muita Sigatoka-negra. Faço dez pulverizações por ano na Cavendish. E nessa área da banana-maçã Princesa não está sendo aplicado nenhum fungicida para Sigatoka”, conta o produtor.

A tolerância a baixas temperaturas, identificada em experimentos das regiões Sul e Sudeste, ainda não foi incluída no sistema de produção. “Essa é a vantagem de o sistema ser on-line, pois podemos atualizá-lo constantemente. Temos a preocupação de fazer com que as informações com os resultados de pesquisa cheguem ao produtor. Inserir as informações possíveis no sistema de produção é uma forma de se fazer isso”, completa Ana Lúcia.

 

Parceiros

As pesquisas que levaram aos resultados que compõem o sistema de produção vêm sendo conduzidas, nos últimos cinco anos, no norte de Minas, em áreas experimentais da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais (Epamig), e com os grupos Borborema e Brasnica; na região de Cruz das Almas (BA), onde se localiza a Embrapa Mandioca e Fruticultura; e no Vale do Ribeira (SP), em parceria com a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), Instituto Agronômico (IAC) e produtores.

Alessandra Vale (MTb 21.215/RJ)
Embrapa Mandioca e Fruticultura

secom.imprensa@embrapa.br

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