[OPINIÃO] Da proibição do álcool às políticas de segurança

Ricardo Vélez*

A Câmara Municipal de Londrina aprovou a lei do prefeito Marcelo Belinati que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas nas ruas da cidade. O texto sofreu modificação no Legislativo, proibindo a ingestão de álcool apenas no período noturno.

A notícia é positiva. Vai de encontro à busca do sossego. Chega de consumo indiscriminado de álcool à noite nas ruas, o que traz riscos à segurança dos cidadãos, à tranquilidade dos lares e à formação dos nossos jovens. Considero, contudo, que os vereadores, o prefeito, os empresários e a sociedade deveriam pensar em políticas públicas mais arrojadas, para trazer redução verdadeira da violência. Por que não adotar uma política de incentivo à cultura para afastar os jovens e adolescentes do consumo das drogas e do álcool? O remédio seria, como se faz hoje na Finlândia, fomentar o lazer sadio das famílias e a educação básica de qualidade, a fim de combater, na sua raiz, o consumo de drogas.

Em Medellín, Bogotá e outras cidades que, na década de 80, apareciam como os lugares mais violentos do mundo em decorrência do narcotráfico e da violência dele decorrente, os prefeitos adotaram a criação de parques / bibliotecas nas áreas mais perigosas da cidade, onde imperavam os traficantes e os membros das milícias. O ponto de partida foi a identificação dos lugares onde os marginais mandavam. Foram identificados, inicialmente, três lugares em cada uma dessas cidades, onde a polícia não entrava. Comandos da Polícia e das Forças Armadas, sob a liderança do prefeito, entravam nesses lugares, após a inteligência policial ter identificado os meliantes e os prendiam. Cento e vinte dias após a intervenção, o prefeito entregava à comunidade um conjunto de obras denominado de parque / biblioteca que constava de: escola municipal com creche, quadra de esportes com campo de futebol, posto de saúde, delegacia policial, agência bancária e acesso ao transporte de massa (metrô em Medellín e “Transmilênio”, ou corredor de ônibus expressos em Bogotá).

O resultado da intervenção foi que, em um ano, a violência despencou: em Medellín chegou a cair 90%. Em Bogotá caiu 60% no mesmo lapso de tempo. Um verdadeiro milagre, que levou os prefeitos a expandir essa iniciativa para outros bairros das suas respectivas cidades. Hoje, os parques / bibliotecas estão por todo lado, chegando a mais de dez regiões que se espalham nessas duas cidades. Estive em Medellín e Bogotá em 2007, com uma comitiva da Confederação Nacional do Comércio (que contava com 38 empresários), verificando os surpreendentes resultados obtidos. Era necessário ver para acreditar.

Pergunta que todo mundo faz: quem financiou essas obras? Resposta: foram feitas na modalidade de parcerias público-privadas, financiadas na ordem de 90% com recursos colombianos. Os outros 10% vieram de ajudas internacionais. Se levarmos em consideração que a Colômbia é um país mais pobre que o Brasil, a possibilidade real de financiamento de empreendimentos dessa modalidade em cidades brasileiras certamente é possível. Basta vontade política da sociedade e do governo. Nas cidades colombianas, a iniciativa partiu das Câmaras de Comércio. Em Londrina, a iniciativa talvez pudesse ser estimulada pela Associação Comercial.

*Ricardo Vélez é doutor em Filosofia e professor da Faculdade Positivo Londrina.

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