É comum que as pessoas só se preocupem com a saúde quando de fato estão sentindo alguma dor ou desconforto, mas saiba que existem doenças – graves inclusive – que não causam sinais aparentes. A situação é extremamente perigosa, pois a ausência de sintomas pode atrasar o diagnóstico e fazer com que o problema se desenvolva sem o paciente perceber. Quando falamos em doenças transmissíveis – como é o caso da hepatite C –, a situação se torna ainda mais preocupante.
A hepatite C é uma doença viral que causa a inflamação do fígado e geralmente não apresenta sintomas – sobretudo no estágio inicial. “Somente após 20 ou 30 anos, quando a doença já está nos estágios mais avançados, é que a pessoa passa a ter sintomas e, enfim, descobre que possui o vírus”, ressalta o infectologista da Hi Technologies Bernardo Almeida. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem 71 milhões de pessoas com hepatite C ao redor do mundo. O mais alarmante é que menos de 20% delas sabem que possuem a doença e apenas 1,1 milhões recebem tratamento.
Uma vez que o desconhecimento sobre a doença é alto, aumentam as probabilidades de evoluir para complicações ao longo do tempo. De 60 a 80% dos casos de hepatite C evoluem para a forma crônica e, desses, 15 a 30% acabam evoluindo para cirrose ou câncer. “A forma crônica geralmente não apresenta sintomas. A situação se torna mais complicada quando evolui para cirrose, pois a taxa de mortalidade é alta e o tratamento é extremamente complexo, podendo exigir o transplante hepático. Atualmente, a hepatite C mata mais que o HIV e a tuberculose”, alerta o infectologista.
Até os anos 90, a transfusão de sangue não testado era uma via comum de transmissão. Atualmente, destaca-se o compartilhamento de materiais não esterilizados como seringas, agulhas, lâminas de barbear e alicates, além das relações sexuais sem preservativo e da mãe para o bebê durante a gravidez, caso a mãe esteja infectada.
Segundo Almeida, o segredo para não ser pego de surpresa é o rastreamento das hepatites por meio de exames laboratoriais e, assim, descobrir a doença nos estágios iniciais. “A cada dez pessoas com hepatite C, oito possuem mais de 40 anos de idade. Por isso, todos acima dessa faixa etária devem realizar o rastreamento”, completa. Outros grupos de risco também devem ficar alertas, entre eles pessoas portadoras de HIV ou pacientes com diabetes, doenças cardiovasculares, histórico de patologia hepática e doença renal. Consumo de álcool e drogas, além de exposição a materiais potencialmente contaminados estão relacionados a um risco maior da doença.
O diagnóstico é feito em duas etapas, sendo que a primeira – chamada de triagem – consiste em detectar se existe presença de anticorpos contra a doença no sangue e, em caso de positividade, realiza-se uma etapa confirmatória. A triagem pode ser feita por meio de testes rápidos realizados até mesmo fora do ambiente laboratorial, disponíveis em farmácias, consultórios médicos, ou campanhas, permitindo uma ampliação e agilidade no diagnóstico.
O tratamento para a doença evoluiu e se ampliou nos últimos anos, podendo proporcionar uma taxa de cura que chega até 95%. A hepatite C é uma doença reversível e tratável, então promover um movimento de conscientização para aumentar o seu diagnóstico é um meio para reduzir complicações e diminuir mortes que poderiam ser evitadas.
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