Doenças impedem crescimento da produção de camarões no Brasil

Pesquisadora da Embrapa abordou formas de manejo indicadas na prevenção de doenças infecciosas

Doenças impedem crescimento da produção de camarões no Brasil
Alitiene: apesar das doenças, é possível manter lucratividade do negócio. Foto: Elisângela Santos

Doenças altamente letais e contagiosas têm prejudicado fortemente a expansão da carcinicultura no Brasil. Mas com o manejo adequado é possível manter a lucratividade do negócio. Para abordar essas técnicas, a pesquisadora da Embrapa Meio Norte Alitiene Moura Lemos Pereira apresentou o tema “Convivendo com as Enfermidades da Carcinicultura no Brasil”, na última quarta-feira (19), durante o AquaCiência 2018, em Natal (RN). O congresso, que reúne alguns dos maiores especialistas em aquicultura do país, permanece no Centro de Convenções até o próximo dia 21 de setembro.

São cinco tipos de vírus presentes no país, sobretudo no Nordeste, nos principais polos produtores. Um dos mais letais é o WSSV, que provoca a mancha branca no camarão. Detectado pela primeira vez na Ásia em 1993, dois anos depois já atingia os Estados Unidos e logo chegou à América do Sul. A doença aniquilou a produção do crustáceo no Ceará em 2017. Em seis meses, 30 mil toneladas de camarão foram perdidas; o equivalente a 60% da produção do período. Além do Ceará, ela tem afetado criações de camarão no Rio Grande do Norte, em Sergipe, no Piauí, na Paraíba, em Pernambuco e na Bahia. Nem Santa Catarina escapou do terrível vírus, que atinge a fase inicial de desenvolvimento dos camarões, causando sua calcificação. Como consequência, os crustáceos morrem e contaminam todo viveiro, o que gera sérios prejuízos ao produtor.

Segundo Alitiene, as doenças têm sido consideradas como um forte fator de restrição ao crescimento, expansão e intensificação da aquicultura no Brasil. “O conhecimento dos problemas sanitários e seus riscos associados fornece subsídios para minimizar seus efeitos e continuar com a atividade de forma sustentável e lucrativa”, destaca ela, lembrando que em ambientes endêmicos com patógenos altamente contagiosos e mortais é necessário mais investimentos financeiros, conhecimento técnico, uso de aditivos e a execução de boas práticas.

Por meio da aplicação de normas e procedimentos adequados, é possível atuar na prevenção de doenças infecciosas do crustáceo. “É quando o produtor deve fazer um ambiente isolado, onde a doença não entra”, diz ela. Solo coberto com lona, cobertura dos tanques e água esterilizada são alguns dos recursos utilizados. “Assim você consegue evitar a entrada de doenças mesmo se a propriedade estiver em local contaminado”, ressalta ela.

Alitiene faz parte do grupo de pesquisadores do BRS Aqua, o maior projeto de pesquisa em aquicultura já desenvolvido no país. Nos próximos dois anos, ela pretende identificar quais são os fatores de risco para o desenvolvimento da mancha branca no camarão.

O BRS Aqua envolve 22 centros de pesquisa, 50 parceiros públicos e 11 empresas privadas – números que ainda devem aumentar ao longo de sua duração. Os investimentos chegam a R$ 57 milhões para quatro anos de trabalho. A maior parte – R$ 45 milhões – será aportada pelo BNDES Funtec – linha de crédito não reembolsável destinada a projetos de pesquisa aplicada, desenvolvimento tecnológico e inovação.

Elisângela Santos (19.500 MTb-RJ)
Embrapa Pesca e Aquicultura

 elisangela.santos@embrapa.br

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