Um ciclista pedala em meio ao tráfego, uma jovem caminha na esteira da academia, um casal de namorados encontra-se frente a um pôr do sol belíssimo, um estudante está na sala de aula, uma senhora dirige seu carro, dois amigos partilham uma cerveja num bar. Todos têm uma coisa em comum: não estão lá; usam seus smartphones para receber e mandar mensagens ou fazer fotos, enquanto se ausentam da hora e do lugar em que estão e, pior, até de com quem estão. Algo deve ter acontecido, além dos evidentes avanços em tecnologia digital, para que as pessoas prefiram alhear-se do que em teoria estão vivendo e mergulharem no ciberespaço.
As artes de vanguarda formadas pelo chamado teatro do absurdo, a música dodecafônica, os romances e a poesia herméticos, retratam a solidão e incomunicabilidade do homem nascido entre duas guerras mundiais. Um otimista suporia que, quando estão “teclando” ou falando em seus aparelhos, os usuários estão em contato com outras pessoas e, portanto, se comunicando; mas não é o que se constata com mais frequência, aparentemente o interlocutor só tem existência real através dos smartphones, quando está presente é preterido pela atenção dispensada a outrem, que está no momento na outra extremidade da rede, enquanto ele próprio faz o mesmo.
Neste mundo, todos se sentem conectados e vinculados entre si, embora na verdade cada vez mais isolados, mais sedentários, mais imobilizados, dentro de verdadeiras bolhas. Quanto mais “amigos” neste universo, menos contato pessoal e mais susceptível a falsas notícias e interpretações tendenciosas, pois toda a realidade já vem filtrada pelos grupos amadores e profissionais das “fake news”.
Até já existe um acrônimo para a reunião das plataformas mais utilizadas: o mundo “GAFA”, formado pelas iniciais de Google, Apple, Facebook, Amazon. O poder real e potencial destas Hidras cibernéticas não pode ser superestimado, praticamente tudo o que compramos, lemos, desejamos, tememos, comemos, cantamos, nos orientamos, assistimos, escutamos, dançamos, vestimos, amamos, pensamos(!), é mediado por uma ou mais delas. Se no século dezenove as ferrovias e máquinas a vapor dominaram a economia, no século vinte o petróleo e os motores a explosão o fizeram, em nossos tempos perigosos os aparelhos eletrônicos e suas possibilidades tantalisantes ocupam o centro do palco.
As instituições escolares, em qualquer etapa do ensino, fundamental, médio ou superior não estão fora desta onda avassaladora, e em que pese todos os extremos: aquelas que recusam totalmente as inovações, ao lado daquelas que atribuem às novas ferramentas a total responsabilidade pelo ensino-aprendizagem.
Escolas, como quaisquer outras organizações, podem certamente se beneficiar destes novos recursos, desde que controlem os excessos de ambos os lados. As ferramentas tecnológicas atraem os mais jovens, e constituem ótimos recursos didáticos quando bem utilizados para ilustrar e modernizar os conteúdos previamente selecionados pelo docente, tanto para a demonstração como para propostas de pesquisas a serem desenvolvidas pelos próprios estudantes.
Nada substitui um bom professor, nenhum sistema computacional se iguala na capacidade de perceber exatamente quais são as deficiências dos estudantes e no interesse em elimina-las. Ilustrar suas aulas com cartazes, filmes, debates, fotografias, sempre foi mérito de mestres voltados ao ensino e aprendizagem, e atualmente, entre suas várias qualidades encontramos o empenho na detecção dos melhores softwares ou aplicativos a serem utilizados em suas respectivas disciplinas para melhorar a compreensão e permitir um maior desenvolvimento das habilidades de seus alunos.
Dedicação ao processo educacional, vontade sincera de melhorar a qualidade do ensino e compreensão dos alunos ainda não foi possível implementar em nenhum computador.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.
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