Na novela Segundo Sol, a vilã Rochelle (Giovanna Lancellotti) saberá neste sábado (29) que possui a Síndrome de Guillain-Barré (SBG) – uma condição rara, aguda e grave desencadeada pelo sistema imunológico. As causas da doença ainda não são totalmente conhecidas, mas sabe-se que incluem infecções como influenza e zika vírus, cirurgias ou tumores, que provocam uma resposta imunológica exagerada contra os nervos periféricos e suas raízes espinhais.
A SGB surge quando as defesas do organismo são mais intensas do que o necessário para acabar com uma infecção e passam a atacar os nervos periféricos do próprio corpo, causando sintomas variados. A SGB pode afetar os nervos que controlam o movimento dos músculos. As lesões nervosas levam a complicações progressivas, que podem comprometer a respiração, dificuldade de deglutição e causar complicações como infecções do sangue, trombose venosa profunda, coágulos pulmonares ou paradas cardíacas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de mortalidade está entre 3% e 5% e a incidência varia de 0,6 até 2,4 pessoas a cada 100 mil, sendo maior em regiões em que há mais exposição a infecções.
Segundo o professor assistente do Departamento de Neurologia da Unicamp, Dr. Marcondes França, os principais sintomas da Síndrome de Guillain-Barré são fraqueza progressiva e dormência, sendo estes comuns a todos os pacientes. “No entanto, existem subtipos. Por isso o Guillain-Barré é caracterizado como síndrome, e não doença. Apesar de o fator desencadeante ser uma infecção, os sintomas e as causas variam”, explica.
Avanços no tratamento – A Síndrome de Guillain-Barré foi descrita em 1916, quando o desconhecimento e consequente demora no diagnóstico e tratamento adequado levavam a uma alta mortalidade. Como em cerca de 30% dos pacientes a síndrome se manifesta com fraqueza nas pernas que se espalha até comprometer o sistema respiratório, os avanços que permitiram maior controle da respiração, como a ventilação mecânica, foram decisivos para melhorar a sobrevida dos pacientes. “Outros marcos importantes estão relacionados ao surgimento de tratamentos como a plasmaférese, em 1978, e a imunoglobulina humana, na década de 1990. Estas são terapias de substituição do plasma do sangue e de reposição de anticorpos, respectivamente”, explica.
No Brasil, as pesquisas sobre a síndrome foram intensificadas após associações com a infecção pelo vírus zika. Desde então, laboratórios e universidades em Campinas (SP), Ribeirão Preto (SP), Niterói (RJ), Rio de Janeiro (RJ) e Natal (RN) conduzem estudos diversificados, que buscam principalmente identificar as principais causas e mecanismos envolvidos na síndrome. Além disso, há grande foco no desenvolvimento de exames que agilizem o diagnóstico, já que o tratamento é mais eficaz quando iniciado até 14 dias após o surgimento dos sintomas.
“A SGB pode ser ocasionada por lesão nos axônios – parte do neurônio responsável pela condução dos impulsos nervosos, ou na bainha de mielina – barreira que envolve e protege os axônios que protege o cérebro. O entendimento de como isso ocorre é importante objeto de pesquisas no Brasil, pois as diferenças levam a variações que incluem a resposta aos diferentes tipos de tratamento”, complementa o especialista.
Segundo a OMS, pessoas de todas as idades podem ser afetadas, mas a SBG é mais comum em adultos e em homens. A síndrome tem estágios de progressão que variam entre duas a quatro semanas e quase a metade dos pacientes começam a responder ao tratamento a partir da segunda semana. Entenda como a Síndrome de Guillain-Barré afeta os pacientes.
agoncalves@jeffreygroup.com