[OPINIÃO PESSOAL] Isenção política é possível ou desejável?

Imersos em discursos e divisões de todos os tipos, num país conflagrado pela política partidária que tem adotado posições antagônicas e muitas vezes extremadas, pais e mesmo professores tem dúvidas sobre o quanto esta pode (ou deve) influir sobre a administração escolar.

Iniciativas como o Escola Sem Partido dividem também as opiniões, e muitas delas se radicalizam, levando a ódios, cortes de amizades e mesmo rupturas familiares. Cada conta em rede social tende a se tornar uma trincheira, onde apenas aqueles que pensam como nós, votam nos mesmos candidatos, acreditam ou desacreditam nas mesmas notícias podem ter acesso, tornando-se cada vez mais o território do pensamento único.

E, lamentavelmente, trazemos este tipo de comportamento para dentro das instituições escolares, que se tornam também terrenos minados, onde discordâncias transformam-se rapidamente em agressões e violências. Escolas não estão à parte de uma determinada comunidade, portanto refletem e reproduzem os sintomas apresentados por ela, e ultimamente não temos conseguido que ela seja exatamente o fio condutor de uma efetiva melhora nos valores e atitudes sociais, embora a vinculação entre o político no seu sentido mais amplo – arte de gerir e coordenar interesses diversificados, intermediando as propensões particulares àquelas mais globais – e as instituições escolares sejam de certa forma inevitáveis. Principalmente quando a administração é pública, o fenômeno se torna mais evidente, pois partidos mudam gestores a cada nova eleição, e muitas vezes por critérios que não sobreviveriam à mais superficial análise técnica.

O Estado deveria ser o gerente e o melhor árbitro do bem comum, embora o partidarismo, o gerenciamento da coisa pública, e de escolas em particular, costumem ser misturas explosivas que eventualmente não atendem minimamente as tendências e requerimentos das pessoas. O poder em cada sociedade costuma ser difuso, repartido entre muitos protagonistas, e o Estado, representando a organização política predominante, deveria ser um árbitro, mediador dos conflitos entre cidadãos, mas principalmente entre o público e o privado.

No entanto, muitas vezes sabemos de espetáculos deprimentes, atos de radicalizações – de um lado do espectro correligionário ou de outro, nisso somos democráticos – que confundem e desmoralizam o processo educacional como um todo, e levam ao descrédito generalizado, prejudicando pessoas sérias e que tentam fazer um bom trabalho.

Quando tratamos de administradores escolares, em particular, sempre esperamos um excelente espírito público, voltado verdadeiramente ao bem de uma coletividade, e que embora como cidadãos não sejam – nem devam ser – apolíticos, sejam, porém, capazes de atitudes objetivas, imparciais e voltadas aos mais legítimos valores sociais.

Não somos isentos de paixões e crenças, nem devemos escondê-las quando queremos o melhor para nossa comunidade, o que implica inclusive no mecanismo eleitoral, com as preferências de modos de condução econômica ou organização governamental. Porém, entre não esconder e fazer proselitismo é imensa a distância, e algumas vezes os conceitos se misturam no fazer pedagógico.

Normalmente as consequências destas atitudes recaem sobre os alunos, que tem prejudicados os conhecimentos que poderiam adquirir enquanto são apenas “catequisados” durante o tempo de aulas, para que assumam posicionamentos idênticos aos de seus professores, tanto à direita quanto à esquerda, o que tem ainda um outro efeito maléfico, que é o de se julgarem meros fantoches das opiniões alheias.

Manifestar opinião e posicionamento é saudável e parte do processo republicano, insistir no assunto em detrimento do tempo de aprendizagem dos vários conteúdos possivelmente será visto como tirania sobre uma plateia cativa e impossibilitada de reagir.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil. 

 wcmc@mps.com.br

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