Escutas às comunidades tradicionais: a realidade dos povos indígenas no litoral do Paraná

Para garantir a participação de representantes de todas as comunidades que habitam o litoral paranaense, o Plano para o Desenvolvimento Sustentável do Litoral do Paraná vem realizando encontros em diferentes localidades. As comunidades tradicionais indígenas, por exemplo, são ouvidas por meio de escutas, visitas em campo e reuniões comunitárias, realizadas por representantes do PDS_Litoral, que também repassam as propostas do Plano de forma acessível e didática e têm como objetivo criar um canal de mediação e troca de conhecimento. 

Até o momento foram realizadas escutas em cinco comunidades indígenas, sendo duas em Guaraqueçaba, duas em Pontal do Paraná e uma localizada em Paranaguá, todos da etnia Guarani.  De acordo com a responsável pelo processo de escutas às comunidades tradicionais, Soraya Sadala, esse processo é importante porque fortalece a identidade e busca o envolvimento da população indígena no Plano. “Desde a articulação para realizar as visitas ficou combinado que um líder de cada aldeia iria compor um grupo para visitação. Assim, durante duas semanas do mês de agosto as lideranças indígenas e a equipe do PDS_Litoral percorreram as cincos aldeias, criando um laço de pertencimento, o que favoreceu a conversa nas localidades entre todos.”

Durante as escutas, a equipe do PDS_Litoral conversou sobre infraestrutura das aldeias, saneamento básico, destinação do lixo, saúde, educação, dentre outros, além dos aspectos culturais, sociais, meio ambiente e desenvolvimento. Tendo sido pontuadas as especificidades de cada uma das aldeias. As questões fundiárias, a partir do processo de demarcação pela Fundação Nacional do Índio – Funai, é uma das preocupações mais evidentes nas aldeias. Segundo Soraya Sadala, “em geral, todas as aldeias visitadas vivem da agricultura de base familiar e da renda do artesanato e têm em comum o fato de enfrentarem problemas fundiários. Também observamos que todas as comunidades sofrem na maioria das vezes dos mesmos problemas, como falta de água, de escolas, de postos de saúde e habitações inadequadas. Contudo, para os guaranis, a questão primordial é sua relação com a Terra”, aponta. 

Crédito da foto: Divulgação PDS_Litoral.

 

O desenvolvimento sustentável para os indígenas

Segundo Soraya Sadala, durante as escutas, os guaranis tiveram dificuldade de entender que o PDS se trata de um planejamento para o futuro das aldeias e comunidades do litoral paranaense, pois culturalmente para eles “se vive o momento presente”. Quando foram questionados sobre o desenvolvimento sustentável, mesmo não sabendo seu significado conceitual, alguns falaram sobre práticas de manejo no plantio e demostraram grande conhecimento na relação com o ambiente em que vivem. É importante entender que o cenário que o guarani idealiza é um território onde possa criar seus filhos em contato com sua cultura, sua visão de respeito com o planeta, florestas, rios, alimento. 

A cultura guarani é muito forte entre os indígenas, sendo mantida pela prática de rituais religiosos, agricultura, idioma e a gastronomia. Embora muitos jovens vivam fora das aldeias, durante algum período, geralmente para comercializar artesanatos ou em busca de estudo e profissionalização, todos eles buscam retornar, agregando os valores e conhecimentos para serem compartilhados com seu povo. Segundo Dionísio Rodrigues, cacique da aldeia T.I. Ilha da Cotinga/Pindoty em Paranaguá, “jovens que se formam professores ou médicos, por exemplo, voltam para cuidar e exercer suas profissões na própria aldeia”. 

Para Soraya, “Localizadas em diferentes partes do território litorâneo, a questão da distância e a falta de mobilidade relacionada à limitação de suas terras, cercadas por propriedades privadas, gera a sensação de opressão e insegurança, o que dificulta a articulação e o fortalecimento da cultura guarani, que há mais de dois mil anos utilizava do processo natural de migração para permitir a renovação dos recursos naturais da terra, o que garantia sua sobrevivência”, expõe a especialista. 

Por fim, o pouco conhecimento da história dos guaranis pelos juruás (como são denominados os não índios), que vivem no entorno das aldeias, foi uma das grandes dificuldades levantadas pelos líderes indígenas durante as reuniões. “Uma forma que os guaranis estão buscando para manter a cultura viva, promovê-la e gerar renda para subsistência é a visitação turística às aldeias; porém essa questão ainda está em fase de implementação, visto que precisam de melhores condições de infraestrutura básica”, finaliza Soraya Sadala.

 

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