O registro da passagem do tempo sempre teve grande importância, desde traços em tábuas de argila ou nós em cordas até o sofisticado calendário Maia, vários povos procuraram formas de controlar o escoar dos dias e das estações. Saber quando foi e quando será o tempo de plantar e de colher, o tempo das tormentas e o das festas, nascimentos e mortes.
As efemérides, as datas festivas que comemoramos são marcos do tempo que passa e passou, têm papel relevante até mesmo em nosso equilíbrio emocional, organizam um pouco o turbulento caudal da vida. Mesmo quem não gosta de festas, ou a elas acredita ser indiferente, envolve-se de algum modo.
Um ano é o tempo aproximado em que a Terra realiza uma translação ao redor do Sol; como tal movimento não tem começo ou fim definido em nossa concepção de tempo, várias culturas estabelecem datas que marcam o final de um determinado ano e o início do próximo. No calendário gregoriano, usualmente adotado no Ocidente, o ano inicia-se no primeiro dia de janeiro e encerra-se aos trinta e um dias de dezembro. Os chineses usam um calendário lunar e o Ano Novo chinês é comemorado na segunda lua nova após o solstício de inverno no hemisfério Norte, seu próximo ano (4717, chamado Ano do Porco) terá início no dia 5 de fevereiro de 2019. Os judeus adotam um calendário denominado rabínico, e o ano judaico 5780 começará no dia 30 de setembro de 2019.
Para a maioria dos povos, o Ano Novo assume um significado de renovação, encerramento de determinadas etapas e início de outras, anos escolares, civis, contábeis. Talvez, mesmo contrariando a racionalidade, temos o sentimento de que muito do que vivemos e que nos desagradou “passou, ficou para trás”.
Assim, todos os anos, renovamos nossas esperanças – mesmo que sem o menor senso de realidade – ao findar de um ano e inicio de um novo. Fazemos a nós mesmos dezenas de promessas: fazer mais exercícios, começar o regime com o qual finalmente vamos emagrecer aquele excesso acumulado ao longo de vários anos, trabalhar mais (ou menos, em alguns casos), permanecer mais tempo com a família, ou muitos e muitos outros desejos aos quais atribuímos o sucesso e bem estar de nossa vida futura.
Em todo réveillon esperamos renovação, boa fortuna, energia positiva e muitas mudanças, uma série de tradições observadas para que venha amor, dinheiro e, claro, sorte. Por isso, procuramos usar apenas roupas brancas, em princípio pelo significado de paz e pureza espiritual, assim como de homenagem à Iemanjá, soberana dos mares, à qual levamos flores, perfumes e outras oferendas quando estamos próximos ao mar. Outros usam amarelo, que atrairia ouro, dinheiro, sem esquecer as cores das roupas intimas, já que a cromobiologia sugere que estas afetam a vida humana, impulsionando o cérebro às mudanças comportamentais.
Também como saudação, pulamos sete ondas, já que o mar tem a capacidade de renovar energias e garantir a força de “passar por cima” das dificuldades… Em termos alimentares, nossos rituais para garantir felicidade: comer sementes de romã, ou lentilhas, uvas ou avelãs, já que todas estas delícias prometem fartura; evitando o consumo de aves, pois estas ciscam para trás, podendo atrasar a prosperidade, sem esquecer o vinho espumante, identificado com a sabedoria.
Mas o maior de todos os projetos, um dos poucos efetivamente capazes de mudar nossa vida, é o de estudar um pouco mais. Fazer o curso de graduação, seja ele o primeiro ou mesmo o segundo, que nos realizaria antigos sonhos; ou a especialização que faria diferença na nossa vida profissional, a escola de idioma, de artes, que melhoraria nossas viagens e ampliaria a vida cultural.
Realizar este tipo de proposta faz a real diferença, ao nos tornar mais solidários e melhores, aumentando a capacidade de enfrentar tempos difíceis.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil. wcmc@mps.com.br