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Novos ocupantes de antigos cargos

A vaidade é uma inimiga perigosa dos homens que ocupam cargos públicos ou na iniciativa privada, o desejo de entrar para a História pela porta da frente, a crença de que nada do que foi realizado antes tem a importância do que se realizará – muitas administrações em todos os níveis têm naufragado nestes mares da soberba; o administrador mal é empossado dedica-se a descontruir a imagem de seu antecessor e implantar o seu reinado.

Talvez os ocupantes de cargos de confiança de uma gestão anterior não sejam da confiança da atual e devam ser substituídos, mas uma corporação não se faz apenas com assessores, o corpo técnico é fundamental, aquelas pessoas que são da confiança da agremiação e não de seu dirigente de turno, e que tem o real conhecimento da estrutura e geralmente a ela são devotados. O novo é sempre o velho atualizado, não é necessário reinventar a pólvora, a prensa de tipos móveis, o motor a explosão, e dezenas de outros “inventos” que já existem; a energia dedicada a recria-los do zero seria melhor empregada em conhece-los, definir onde são falhos e passíveis de melhoria.

Um ministério ou um governo, um cargo de chefia ou coordenação são isso, algo a ser conhecido, avaliado, auditado, e ter suas deficiências sanadas ou reduzidas dentro do possível; aí então é o momento de criar, de propor a melhor maneira de que funcionem. A política de terra arrasada é muito custosa para o país em recursos, tempo e paciência dos cidadãos e contribuintes que, afinal, pagarão pelos erros e serão os beneficiários dos acertos.

Quando um dirigente está levando sua pasta ao desastre, e isso for consenso no país, nas escolas, ou no próprio governo ou empresa de que ele faz parte, quando são cometidos erros primários, desconhecimento quase completo do que seja seu afazer, escolha precipitada de auxiliares que são defenestrados com a mesma pressa, promulgação de decretos estapafúrdios de vida breve, delírios ideológicos; mesmo quando seus próximos o descrevem como afável, é hora de mudanças.

O poder é construído e conquistado, poder herdado ou ungido não costuma dar certo. Um cargo de primeiro escalão deveria ser resultado de uma carreira vitoriosa, de amplo conhecimento e interesse na área a ocupar, de vastas relações institucionais; os muitos casos em que estas premissas não foram respeitadas na área pública, com nomeações espúrias ou coisa pior, nos deram grande parte dos escândalos que infelicitam o país.  

O novo dirigente pode acreditar que “autoridade” basta, a crença um tanto ingênua de que uma ordem resultará em imediata obediência em total acordo com a vontade do ordenador. Para que o direcionamento desejado pelo “chefe” seja atingido, principalmente em estruturas complexas, é indispensável que haja liderança e para esta são necessárias qualidades de comprometimento, conhecimento, firmeza de propósitos, alguma paciência, um projeto claro de objetivos e formas de atingi-los. As práticas de terrorismo corporativo, com ordens terminantes, demissões súbitas, gritos e ranger de dentes, podem alimentar por pouco tempo a ilusão de que há comando, mas criarão apenas caos e ressentimentos.

Na área educacional, que deveria se constituir em uma das mais efetivas instâncias de melhora nos valores e atitudes sociais, quando seus dirigentes máximos, responsáveis por gerir e coordenar interesses diversificados são trocados por indicados políticos a cada nova eleição – muitas vezes por critérios que não sobreviveriam à mais superficial análise técnica – sem qualquer compromisso com a continuidade de programas, sejam eles bons ou ruins, e principalmente sem experiência anterior no assunto, a probabilidade de erro sobe exponencialmente.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil. <wcmc@mps.com.br>

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