Um bebê de um ano se prepara para recuperar os movimentos do braço esquerdo, após passar por um procedimento cirúrgico de alta complexidade realizado na última sexta (28) pela equipe da médica Marcela Penna, no Hospital Angelina Caron (HAC). É a primeira vez que esse tipo de microcirurgia é feito no hospital e um dos poucos registros em Curitiba, devido ao alto nível de especialização necessária.
“Realizamos a exploração de plexo braquial da criança (complexa rede de nervos localizada entre a coluna cervical e o ombro), que chegou até nós com 11 meses, depois de fazer tratamento conservador com a ortopedia pediátrica no HAC. O menino Benjamim nasceu com uma paralisia de plexo braquial obstétrica, ocasionada por fatores como trauma em parto difícil, macrossomia fetal (recém-nascido com mais de quatro quilos), diabetes materno, distocia de ombro, e mãe em idade avançada. O paciente teve uma paralisia completa, com melhora parcial durante os meses de tratamento clínico, mas a evolução parou e a única opção para tentar recuperar a mobilidade foi a operação que realizamos”, explica Marcela, que é especializada em microcirurgia e cirurgia da mão.
O procedimento levou cerca de cinco horas e contou com uma equipe de sete profissionais do HAC, entre cirurgiões, médicos residentes e auxiliares. O paciente passa bem e recebeu alta em 24 horas. Todo o procedimento foi realizado pelo SUS.
Alta complexidade
Segundo a cirurgiã, a exploração de plexo braquial é uma microcirurgia rara devido à alta complexidade envolvida. “O conjunto de nervos abrange toda a região do braço, cotovelo, punho e mão da criança. Não é todo cirurgião de mão que possui essa habilidade, especialmente pelo fato de o sistema nervoso ser muito menor, num bebê de um ano recém completado. Com a microneurólise do plexo (liberação de nervos) que fizemos, a criança poderá ainda ter algumas sequelas, mas tem grande chance de recuperar os movimentos que sejam funcionais para ela.”
Tratamento atencioso
Mãe do pequeno Benjamim Victor, que completou um ano no último dia 25, Juliana Ferreira dos Santos, de 38 anos, relembra que, após o parto em Paranaguá, onde a família reside, o bebê já conseguiu ser encaminhado à UTI do Hospital Angelina Caron, onde vem sendo atendido desde então. “A equipe é ótima, o tratamento atencioso, bem como os encaminhamentos que temos recebido desde o início. Já conhecia a doutora Marcela pelo grupo nas redes sociais de mães com crianças de lesão de plexo, e fiquei aliviada quando encaminharam o Benjamim para ser operado com ela. Além disso, foi necessária uma espécie de cola especial para a cirurgia, que o hospital providenciou em menos de três semanas. Só tenho a agradecer”, emociona-se.
Especialização internacional
O HAC conta com corpo clínico altamente especializado. Graduada pela Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, Marcela Penna se especializou em Ortopedia e Traumatologia pela Santa Casa de Curitiba e em Cirurgia da Mão e Microcirurgia pelo HC da UFPR. Em sua trajetória de estágios e especializações, atuou no Instituto de Ortopedia e Traumatologia da Universidade de São Paulo, no grupo de mão e microcirurgia do HC- SP, além de ter passado por grupos internacionais de cirurgia da mão, cirurgia plástica e cirurgia de nervos periféricos em hospitais referenciais como a Cleveland Clinic, o John Hopkins e o Center for Nerve Surgery & Paralysis in Barnes-Jewish Hospital, nos Estados Unidos, e o Chang Gung Memorial Hospital, em Taiwan. Marcela participou também de missões humanitárias nacionais e internacionais com mutirões cirúrgicos em crianças com deformidades congênitas.