Cada vez mais a leitura parece estar migrando do papel impresso para os vários meios digitais; evidentemente aqueles de mais idade relutam em abandonar livros e artigos físicos pelos virtuais, porém jovens estão mais e mais aderentes a esses ambientes.
Uma questão que tem mobilizado a área educacional é a possibilidade de alterações cognitivas em função desta migração, pois nem sempre ocorrem interações significativas em torno das temáticas tratadas, e nem sempre o acesso aos hipertextos e recursos multimeios dá conta da complexidade dos processos educacionais.
Simplesmente colocar o estudante diante de informações, situações-problema e alguns objetos de conhecimento muitas vezes não é suficiente para garantir envolvimento e real motivação para aprendizagem, pois para atingir este objetivo é indispensável criar procedimentos pessoais que permitam organizar o próprio tempo, horário ou local para estudar e concentrar-se.
No entanto, é preciso reconhecer que leituras de textos não lineares, denominados hipertextos, em telas de computador, tablets ou celulares estão fundamentadas em indexações, conexões entre ideias e conceitos articulados por meio de links – nós e ligações -, conectam informações representadas em diferentes linguagens e formas tais como vídeos, palavras chaves, imagens, gráficos elucidativos, sons, de forma que, clicando sobre uma palavra, imagem ou frase definida como um nó de um hipertexto, encontra-se uma nova situação, evento ou outros textos relacionados, o que pode facilitar, e muito, a aprendizagem do aluno. Economiza seu tempo, percorrendo um caminho lógico que conecta ideias, cada link funcionando como ponto de partida ou de chegada, originando outras redes e conexões. Um risco a considerar também é a possibilidade real de perda de foco no tema geral, na dispersão da atenção do estudante.
Sempre que informação é representada num hipertexto com o uso de distintas mídias e linguagens, consegue-se eliminar sequências estáticas e lineares de caminho único, onde início, meio e fim são previamente delimitados. A forma de adquirir conhecimento é pessoal e única; um hipertexto disponibiliza um leque de possibilidades que permitem interligar informações segundo diversos interesses e necessidades, com diversas formas de navegar, ou seja, em sequências e rotas próprias.
Ao leitor fica facilitado saltar entre informações, estabelecer associações de forma individual, e, portanto, assumir um papel mais ativo na aprendizagem do que na leitura de textos nos espaços lineares dos materiais impressos.
No entanto, é preciso atenção ao fato de que este fato não substitui toda a complexidade do processo educacional, a interação entre os próprios estudantes entre si, e entre eles e o professor ou tutor. Todo aquele que já tentou aprender absolutamente sozinho percebeu que, sem ser impossível, é bem mais complicado desenvolver leitura e escrita com o uso de hipertextos de forma solitária, pois escolher dentre um leque de ligações preestabelecidas ou percursos possíveis sem experiência prévia em determinados campos pode representar dificuldade a ser transposta sem auxílio.
Um bom professor ou tutor é capaz de criar um ambiente que favoreça a aprendizagem significativa, disponibilizando e ordenando dados, despertando a disposição para aprender, e principalmente favorecendo através de perguntas e debates a interiorização sobre o próprio caminho percorrido.
Autonomia é essencial, e pode ser aprendida junto com a capacidade de atuação em grupo e respeito às diversidades de tempo de aprendizagens.
Ferramentas são apenas ferramentas, promovem algumas vezes revolução metodológica, mas nem sempre reconfiguram o acesso ao conhecimento.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil. <wcmc@mps.com.br>