Pai prematuro: ser pai é mais do que ser ajudante da mãe

A ONG Prematuridade.com ressalta a importância da participação paterna para o desenvolvimento do bebê prematuro

Pai prematuro: ser pai é mais do que ser ajudante da mãe
O jornalista Fenando Guifer e sua linda Laís, hoje com cinco anos.

Se agosto é o mês da valorização paterna, é necessário avaliar o momento do nascimento de um pai. Quando isso acontece?  Na descoberta da gravidez? No nascimento? A Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros, a ONG Prematuridade.com, entende que a maternidade e a paternidade são diferentes, inclusive fisicamente, mas acredita que uma nova geração de pais está tentando destruir velhos hábitos e tabus, em busca de uma paternidade mais responsável e, principalmente, mais participativa e afetiva.

Tornar-se pai já é um processo difícil, mas quando ocorre um parto prematuro, os primeiros dias de vida do pré termo trarão momentos de incertezas. Os pais podem e devem passar por tudo isso estreitando os laços com seu filho e com a mamãe prematura, o que é fundamental para a saúde da criança no longo prazo.

A permanência do prematuro na UTI neonatal pode levá-lo a períodos prolongados de separação de seus pais. Portanto, o esforço para estar sempre perto é essencial para que o pequeno e todos ao seu redor fiquem bem. A presença paterna durante o período de internação na UTI neonatal proporciona sensação de acolhimento e segurança para a mãe, além de aumentar as oportunidades de contato com o bebê, fortalecendo vínculos e facilitando o processo de “paternalização”.

Estudos mostram que o Método Canguru, quando possível, estreita os laços no contato pele a pele com o pai e ajuda os prematuros a se desenvolverem melhor, terem menor índice de infecção e ficarem menos tempo internados, além de fortalecer a relação pai-bebê / mãe-bebê. Pais presentes durante o período hospitalar também desenvolvem maior segurança para auxiliar nos cuidados diários com o prematuro após a alta hospitalar.

Denise Suguitani, diretora executiva da ONG Prematuridade.com, acredita que a figura paterna ainda fica em segundo plano no nascimento de um bebê prematuro e se subestima o valor e o poder da presença do pai na melhora da saúde do bebê e no apoio ao emocional da mãe. “Crianças pertencentes a famílias em que o pai participa da rotina diária da casa, da educação, alimentação e higiene dos filhos, crescem com maior autonomia e autoconfiança. A participação do pai também contribui para a saúde da mãe, que passa a sentir-se menos sobrecarregada”, completa.

Fernando Guifer, de 33 anos, é jornalista e escritor, autor do livro “Diamante no acrílico: entre a vida e o melhor dela”, que conta a jornada de luta e superação da filha, Laís, que nasceu prematura de 29 semanas devido trombose seguida de embolia pulmonar da mãe, Fabi.Minha filha passou 80 dias internada após o nascimento e estive ao lado dela 80 dias, cantando, orando, conversando, dando forças e dizendo a ela o quão já era amada e que muitas pessoas a esperavam lá fora para brincar, abraçar e beijar muito seu ‘cucuruto’. Médicos e enfermeiros da UTI neonatal estranhavam o fato de eu, homem, estar lá todos os dias. Era como se fosse um estranho visitando um paciente qualquer. Mas nunca me incomodei com o estranhamento deles, já que, se existe, é porque há fundamento, ou seja, homens geralmente não cumprem sua obrigação em ser pai presente desde o primeiro e mais difícil período de vida dos filhos – o que é lamentável”, comenta.

Um dos primeiros contatos entre Fernando e Laís, que nasceu prematura de 29 semanas e ficou 80 dias internada na UTI neonatal. O pai esteve presente em todos os momentos.

“Os homens subestimam o poder da paternidade por também terem entrado na onda de que ‘a mãe ama mais’. É um pensamento retrógrado, ultrapassado, falho, e por ser histórico e cultural, dificulta a transformação. A partir do instante em que o homem leva como verdade a crença de que a mãe é a pessoa mais importância na vida de um filho e insubstituível, o pai naturalmente se distancia de sua responsabilidade”, explica.

Para Fernando, um filho precisa mais do pai do que se imagina. “O dia em que os homens compreenderem o tamanho de sua influência na formação de caráter, orientação de cidadania, presença efetiva e amor sem tabus na vida do pequeno, diminuiremos de forma significativa a falta de educação (nosso maior problema hoje), o que impactará positivamente nos mais diversos âmbitos da sociedade, com baixa no índice de violência, desemprego, pessoas em situação de rua, preconceitos, entre outros” E finaliza: “Ser pai definitivamente não é ser ajudante da mãe”.

Licença-paternidade

No Brasil, todos os pais empregados com carteira assinada têm direito à licença-paternidade de cinco dias. Essa licença pode ser estendida para 20 dias nos casos em que a empresa está inscrita no Programa Empresa Cidadã. Quem paga a licença de cinco dias é a empresa e, no caso da extensão para 20 dias, a empresa pode deduzir o valor dos 15 dias a mais no imposto de renda. Para ter direito à extensão o pai deve fazer a solicitação até dois dias úteis após o parto e comprovar que participou de um programa de orientação sobre paternidade responsável.

Uma das alternativas para buscar um tempo maior de convivência com os filhos recém-nascidos é unir a concessão de férias com a licença-paternidade, sem que o afastamento seja descontado do período aquisitivo de férias, isto é, os 12 meses trabalhados para garantir o direito ao descanso. Vale lembrar que é possível recorrer ao Judiciário para que casos particulares sejam avaliados: em 2017 um servidor público do Hospital de Clínicas do Paraná, pai de gêmeos, garantiu a prorrogação da licença-paternidade de 20 para 180 dias, a partir de uma liminar do Tribunal Regional Federal. São raras, mas ainda sim decisões interessantes que valem a pena ser destacadas.

Para ajudar os papais de prematuros a se adaptarem às diferentes necessidades de um bebê prematuro, a ONG Prematuridade.com listou 7 dicas para os papais de bebês pré-termo:

  1. Seja presente: tire a licença-paternidade e aproveite para se dedicar exclusivamente ao bebê e a relação entre vocês. Esteja com seu bebê na UTI neonatal neste momento importante e único. Crie vínculos e mostre a ele o quanto sua vida é valiosa. Estar presente significa que a mamãe também poderá descansar um pouco. A recomendação dos profissionais de saúde reforça que é importante fazer coisas que lhes façam abstrair um pouco e que lhes deem prazer e não se sintam culpados por não estarem morando 100% do tempo no hospital;
  2. Levante a autoestima da mãe: no pós-parto, é normal que a mamãe se sinta mais sensível e incomodada com o seu próprio corpo, que ainda não voltou a ser o que era antes da gravidez. E não é apenas a variação hormonal que influencia nesse sentimento, mas também a própria alteração da rotina. Portanto, o pai deve estar mais atento e ajudar as mamães a se sentirem mais bonitas novamente; não deixe, também, de reservar alguns momentos a sós – nem que seja para um breve passeio até a lanchonete mais próxima;
  3. Permita-se chorar e dê colo à mamãe: as intercorrências diárias com o cuidado do bebê prematuro podem ser bastante desafiadoras e você tem direito de se sentir sem forças. Procure o colo mais próximo, mas não esqueça de confortar a mamãe com palavras de carinho e esperança.
  4. Participe dos cuidados com o pequeno: deixe claro que você quer pôr a mão na massa para ajudar a cuidar do seu filho: pegar o bebê no colo, dar banho, experimentar a posição “canguru”. A interação com os pais também é extremamente benéfica para o bebê e os profissionais do hospital sabem disso.
  5. Converse com outros pais: os pais que esperam com você no centro de tratamento intensivo sabem exatamente pelo que sua família está passando. Troque ideias, faça amizades. Será bom para todos. Vocês podem, por exemplo, fazer favores uns aos outros como buscar comida, dar uma carona ou passar um recado para alguém. É sempre bom ter aliados no ambiente da UTI. Você também vai acabar conhecendo as crianças internadas e acompanhar as histórias delas – e, tomara, vibrar com cada vitória.
  6. Aceite ajuda: a rotina de ir e vir do hospital é cansativa. Nem sempre há o que comer, e as despesas com condução ou estacionamento começam a se acumular. Fora as tarefas da casa, que ficam muito em segundo plano. Quando alguém demonstrar que quer ajudar, aceite. Você pode até especificar alguma coisa, como pedir para a pessoa trazer um lanche, fazer companhia, dar uma carona ou cuidar dos filhos que ficaram em casa. Você terá inúmeras oportunidades de retribuir todo o apoio quando voltar à rotina.
  7. Acompanhe e incentive a amamentação: você pode estar ao lado da mãe nesse momento e depois da mamada, e pode segurar e ajudar o bebê a arrotar.

 

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