Glavio Leal Paura*
Uma decisão da juíza Daiana Wanderley, da 5ª Vara Federal em Brasília, determinou, em decisão liminar, que não haveria a retirada de nenhum radar das rodovias federais. Por outro lado, o presidente Jair Bolsonaro já havia anunciado que cancelaria a instalação de 8 mil radares em rodovias federais. Nesse momento, convido o leitor à seguinte reflexão: quem está certo, o presidente, que é contra os radares, ou a juíza, que tomou uma decisão alegando falta de estudo técnico para tal?
Vamos tentar entender os dois pontos de vista. Por um lado, temos o que acredito ser o pensamento da maioria da população: a sensação de raiva ou mesmo de armadilha que o radar impõe a todos os usuários de nossas vias urbanas e rodovias. Isso acontece por diversos motivos, dos quais posso destacar um: no Brasil, vários órgãos responsáveis por esses radares não o trataram como um instrumento educativo e muito menos como instrumento de controle de tráfego, que é o verdadeiro motivo de ser desses dispositivos. Aqui, o radar é tratado como um instrumento arrecadador. Por outro lado, temos a necessidade de fiscalização de nossas estradas, educação de nossos motoristas e manutenção da segurança de nossas rodovias.
Vamos entender. O radar não “nasceu” para simplesmente arrecadar. Basta olharmos quantos acidentes acontecem todos os anos por imprudências de motoristas. Se temos isso, mesmo com todo o controle eletrônico disponível, já pensou se não tivéssemos isso? Se procurarmos a secretaria de Trânsito de qualquer cidade, verificaremos sempre que um determinado trecho que recebeu a instalação de um dispositivo como o radar teve uma queda drástica no número de acidentes. Portanto, temos a primeira resposta do porquê o radar é importante.
Vou mais além. O limite de velocidade de uma rodovia não é escolhido por acaso. É feito um estudo e estipulada uma velocidade na qual se possa garantir a segurança de todos. Mais um motivo para a fiscalização: quem ultrapassa o limite de velocidade, não somente coloca-se em risco, como ameaça os demais usuários da via. Outro, que possivelmente a maioria desconheça, é o uso do radar como instrumento de controle de tráfego. Se na sua cidade há uma via longa, por exemplo, com vários semáforos sincronizados, e o limite de velocidade é de 60 km/h, se vários carros passarem a 70 km/h, haverá uma retenção maior do que o esperado em alguns dos semáforos. Por último, podemos destacar que, com o radar e por meio de liminares judiciais, é possível rastrear um carro roubado – por exemplo, saber onde ele está naquele momento, uma vez que todos os dispositivos possuem leitor de placa.
Resumindo, todos que tiveram um auto de infração lavrado devido a uma imagem gerada por um dos radares, sem dúvidas, ficaram chateados (ou até indignados) com a situação. Porém, se isso aconteceu é porque você não respeitou os limites daquela via e colocou sua vida e a de terceiros em risco. Portanto, tirar os radares de nossas rodovias aumentaria a irresponsabilidade de nossos motoristas, pois a ocasião fará com que muitos desrespeitem as normas vigentes e, com isso, aumentaria consideravelmente o número de acidentes. Queira ou não queira – e por conta de cada um de nós -, o instrumento em questão nos traz segurança, fiscalização e educação. Se você foi flagrado por um radar e doeu no seu bolso, possivelmente não voltou a cometer o mesmo erro – pelo menos é o que se espera.
*Glavio Leal Paura, especialista em trânsito e mobilidade urbana, é professor dos cursos de Engenharia da Universidade Positivo.