Ao invés de empregar as restrições de embalagem para ditar os comportamentos, precisa-se inovar com o design e a tecnologia para educar as pessoas sobre o consumo responsável, é o que acredita Ron Cregan, fundador da Endangered Species e um dos principais palestrantes da Mas Cartagena, a Conferência Latino-americana de comunicação, criatividade, inovação e marketing.
Na palestra, Ron aborda como uma regulamentação mais restritiva poderia levar para um terreno duvidoso ao submeter os produtos alimentares e as bebidas a uma regulamentação parecida à da indústria tabagista: taxações específicas mais rigorosas ou proibição de inclusão de marcas, com os produtos sendo comercializados em embalagens neutras.
Entretanto, as medidas em voga em toda a América Latina estão cada vez mais duras. Desde 2014, o governo chileno vem travando uma guerra contra os alimentos não saudáveis, a qual começou com a taxação das bebidas açucaradas, antes de inserir uma lista de restrições de marketing, modificação compulsória de embalagens e novas regras de rotulagem em 2016.
Atualmente, o governo exige que as companhias de alimentos exibam de forma destacada nas embalagens sinais de advertência em preto nos itens com alto teor de açúcar, sal, calorias ou gordura saturada. O Uruguai e o Peru aprovaram recentemente etiquetas de advertência similares. Eles também obrigaram as companhias a excluir da embalagem personagens de desenhos icônicos. Além disso, proibiram as vendas de doces como o Kinder Ovo.
Regras similares podem prejudicar seriamente a Brahma do Brasil, a qual foi apontada pela consultoria de avaliação de negócios, Brand Finance, como a terceira marca de cerveja mais forte do mundo, com base em fatores como investimento de marketing, familiaridade, lealdade, satisfação dos funcionários e reputação corporativa.
Na realidade, a Brand Finance estimou uma perda potencial de valor para o negócio global em mais de US$ 430,8 bilhões caso as restrições de embalagem aplicadas para as marcas de cigarro – que devem adotar um estilo neutro –, sejam ampliadas para a indústria de bebidas.
“Em vez de advertências de saúde e censura de marcas, poderíamos usar a tecnologia do smart phone e criar um código QR escaneável que os consumidores poderiam utilizar para acessar informações nutricionais e de saúde relevantes”, afirma Ron.
Ele ainda acrescenta que “os especialistas em design devem fazer parte dos debates com o objetivo de educar as pessoas sobre o consumo responsável. A identidade de marca é um direito fundamental dos proprietários e as medidas propostas pelo governo terão um impacto devastador sobre marcas globais, incluindo as mais amadas. Criar mensagens educacionais positivas que ajudarão a mudar o comportamento dos consumidores e evitar mal-entendidos é algo que a comunidade de design é capaz de propiciar. Os legisladores precisam apenas ser mais criativos na sua abordagem para promover a saúde”.