Com o avançar da idade é muito comum que perda auditiva ocasione no idoso não apenas a dificuldade de ouvir, mas também um declínio cognitivo caracterizado pela perda de memória, falta de atenção e dificuldades relacionadas ao raciocínio lógico. Uma pesquisa englobando onze estudos e artigos científicos, publicada no banco de dados da PubMed e Embase, comprova: existe um risco crescente de declínio cognitivo.
De acordo com o estudo, mesmo com perda auditiva leve, em torno de 25 decibéis, os idosos que fizeram parte da pesquisa já apresentavam disfunção cognitiva de 30% quando comparados às pessoas com audição normal. Quando a perda de audição atingia níveis acima de 40 decibéis, na avaliação de tom puro – o que caracteriza uma deficiência moderada a severa – o risco de disfunção cognitiva aumentava de 29% a 57%. E, ao passarem por avaliações de rotina seis anos depois, o grupo de idosos com perda auditiva leve apresentou um aumento do risco de declínio cognitivo de 60%. Já o grupo com perda de audição severa contava com um risco 320% maior em relação aos que tinham disfunção auditiva normal para a idade.
Esse risco de declínio cognitivo acontece devido à redução das atividades sociais decorrentes da dificuldade de conversar com outras pessoas e de ouvir os sons ao redor. Com isso, os estímulos cerebrais ficam escassos, levando a uma aceleração de perda de memória e da falta de atenção, entre outras dificuldades. O uso de aparelho auditivo, ao fornecer mais sons que antes não estavam sendo ouvidos, impede essa aceleração, quase que eliminando o declínio cognitivo.
“Ao ouvir os sons com o uso de aparelho auditivo ou implante coclear, os efeitos mentais negativos gerados pela perda de audição são minimizados, uma vez que o indivíduo melhora a habilidade de se comunicar e passa a interagir mais em sociedade”, afirma a fonoaudióloga Isabela Papera, da Telex Soluções Auditivas.
Porém, mesmo sendo uma ferramenta imprescindível para proporcionar o acesso às informações sonoras, o aparelho auditivo ainda é visto como tabu por muitos idosos, que ainda não conhecem as atuais próteses auditivas, com tanta tecnologia e, por preconceito ou vergonha, demoram até oito anos para procurar a ajuda de um profissional especializado, seja o médico otorrinolaringologista ou o fonoaudiólogo.
“A falta de tratamento pode agravar o déficit de audição. É preciso agir logo que surgirem os primeiros sintomas de dificuldades para ouvir. Por meio de um teste auditivo simples, chamado audiometria, o médico ou o fonoaudiólogo consegue detectar o grau de perda auditiva e orientar o paciente, a fim de evitar a piora do quadro”, ressalta a fonoaudióloga da Telex.
Entre todas as dificuldades que afetam a vida de um idoso, uma das piores é a falta de audição. Segundo dados do IBGE, o número de idosos ultrapassou os 30 milhões, em 2017, no Brasil; um crescimento de 18% nos últimos cinco anos. Na última década, também aumentou a expectativa de vida média do brasileiro, que hoje já passa de 73 anos.
É preciso estar alerta para ter uma velhice saudável e, para isso, é fundamental ouvir bem!
Conheça dez sintomas que podem ser indicativos de perda auditiva:
– Ouvir as pessoas falando como se elas estivessem sussurrando
– Assistir televisão em volume mais alto do que as outras pessoas da casa, pedindo com frequência para aumentar o som
– Não ouvir quando é chamado por uma pessoa que não está à sua frente ou que se encontra em outro cômodo
– Comunicar-se com dificuldade quando está em grupo ou em uma reunião
– Pedir frequentemente que as pessoas repitam o que foi falado
– Ouvir com dificuldade o toque de campainha ou telefone; ou mesmo ficar embaraçado ao não entender o que o outro diz pelo telefone
– Dificuldade em comunicar-se em ambientes ruidosos, como no carro, no ônibus ou em uma festa
– Fazer uso de leitura labial durante uma conversa.
– Família e amigos comentam que você não está ouvindo bem.
– Se concentrar muito para entender o que as pessoas falam.
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