O Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) realizará no dia 24 de janeiro o lançamento regional do livro “Tentativas de Aniquilamento das Subjetividades LGBTIs”, que foi organizado pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Conselho Federal de Psicologia (CFP), com apoio das Comissões de Direto Humanos de Conselhos Regionais por todo o Brasil.
A obra, disponível gratuitamente ao público em formato digital, traz um mosaico com depoimentos de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais (LGBTIs), com entrevistas que ocorreram entre dezembro de 2017 e março de 2018.
Nas narrativas estão retratados a dor e o sofrimento causados não somente pelo preconceito e discriminação da sociedade, mas também pelo comportamento inadequado de profissionais de saúde que buscam oferecer tentativas de “explicações”, “tratamentos” ou “cura” para as orientações sexuais ou identidades de gênero.
O evento de lançamento em Curitiba faz parte da programação do Janeiro Lilás – que faz alusão ao Dia Nacional da Visibilidade Trans (29/01) –, e contará com a presença da Psicóloga Marina de Pol Poniwas (CRP-08/13821), atual conselheira do CFP e participante da Comissão de Direitos Humanos, além de representantes de diversos movimentos sociais ligados à temática.
Não há cura para o que não é doença
“Ela (a psicóloga) falava que eu tinha que passar por essa fase, que eu tinha que construir família, que eu tinha que sair mais com pessoas evangélicas. Ela chegou a dizer que talvez fosse o meu convívio, as pessoas com quem eu estava convivendo que estavam me trazendo isso, que eu tinha que mudar de amigos”, contou uma mulher cis lésbica de 25 anos.
Um homem cis, gay, de 46 anos, conta em seu depoimento que uma profissional já tentou oferecer “explicações” sem nenhum embasamento científico para a questão da sua orientação afetivo-sexual. “Até um tempo desses – posso até procurar, não sei se tenho mais –, eu tinha uma apostila dela (psicóloga). Na época, ela tinha uma apostila de como a gente se libertar. Então, a intervenção dela era de que aquilo ali tinha sido colocado na minha cabeça, devia ter sido influência do meu pai ausente, da mãe mandona, essas coisas. Primeiro, nem o meu pai era ausente, nem a minha mãe era mandona. Aí, ela colocava coisa na cabeça da gente para a gente chegar à nossa própria conclusão, mas na realidade ela induzia você a chegar àquela conclusão de que aquilo ali era por conta de alguma coisa que aconteceu na família.”
O Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) alerta que nenhum profissional de Psicologia pode oferecer cura ou qualquer método que busque alterar a orientação sexual ou identidade de gênero de seus clientes. A proibição existe desde 1999, determinada pela Resolução CFP 01/99. Recentemente, o entendimento foi confirmado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que extinguiu um processo que visava a questionar judicialmente a proibição.
Da mesma forma, o atendimento a pessoas transexuais e travestis é orientado pela Resolução CFP 01/2018, que reafirma que a transexualidade não pode ser considerada doença – mesma compreensão da Organização Mundial de Saúde (OMS) e amplia o compromisso ético-político das(os) psicólogas(os) em relação ao enfrentamento do preconceito e do ódio à essa população.
Qualquer conduta em desacordo com essas resoluções ou que tragam sofrimento às pessoas atendidas podem e devem ser denunciadas ao CRP-PR. Para os canais de contato para a denúncia é possível acessar o site www.crppr.org.br. Em casos de dúvidas sobre a adequação do atendimento, a população conta ainda com o atendimento da Comissão de Orientação e Fiscalização, o que pode ser realizado pelo email crp08@crppr.org.br, cof@crppr.org.br ou pelo telefone (41) 3013-5766.
Serviço
Data: 24 de janeiro de 2020
Horário: 19h
Local: Sede Curitiba (Av. São José, 699, Cristo Rei)