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Aluno não é todo mundo

Rita Schane*

“Você não é todo mundo”. O velho bordão de mães e pais pode parecer apenas uma resposta negativa padrão para pedidos dos pequenos, mas diz muito sobre como precisamos olhar para nossas crianças. A questão da alfabetização no Brasil é um exemplo. O Plano Nacional de Educação (PNE) diz que a criança pode ser alfabetizada até o terceiro ano do Ensino Fundamental, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) até o segundo ano e, recentemente, o Pacto Nacional pela Alfabetização ressalta que esse processo deve ocorrer, preferencialmente, no primeiro ano do Ensino Fundamental.

Como resultado desse desencontro e de outras questões referentes à alfabetização, temos os resultados mais recentes da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), em que encontramos uma taxa de 54% dos alunos concluintes do 3º ano com desempenho insuficiente no exame de proficiência em leitura. Isso nos leva a crer que os professores estão desamparados e necessitando de auxílio, sem saber o que mais pode ser feito, diante da cobrança de toda a comunidade, para que os alunos sejam alfabetizados o mais rápido possível.

Bom, como “você não é todo mundo”, o aluno também não é! Em uma turma de vinte ou trinta alunos, sabemos que eles não serão alfabetizados no mesmo período, a partir da mesma metodologia, em um mesmo ano. Cada um tem seu ritmo e seu tempo. Talvez o professor precise repetir muitas e muitas vezes a mesma coisa para os mesmos alunos, ou tenha que mudar o percurso para que somente um deles aprenda daquele jeito e naquele momento. Ou seja, é necessário conhecer cada aluno e a forma como ele, em especial, aprende. Esse aluno pode ser auditivo, visual, cinestésico… e, por isso, a escola apresenta tantas dificuldades nesse sentido, precisando conhecer a forma como cada um se conecta com o conhecimento e, ainda, o seu percurso educacional individual.

Relato aqui uma das observações que tenho feito ao longo da minha carreira – nada científico, mas recorrente. Anos atrás, tínhamos cinco ou seis alunos por turma que chegavam ao terceiro ano e não liam ou não escreviam; hoje, em uma turma de trinta, às vezes, quinze, dezesseis, dezessete não têm sucesso na alfabetização. O que se percebe é que as crianças são diferentes e estão, cada vez mais, exigindo da escola novas e diferentes formas de ensinar. A educação é movimento, porque a vida é movimento, estamos em evolução e não podemos ensinar como ensinávamos antes – porque essas crianças não são as mesmas. Elas têm necessidades e especificidades que fazem parte de um contexto específico: o do século XXI.

Digo isso porque há mais de dez anos trabalho com a formação de professores e venho constatando, também, que o que se ensina no Ensino Superior atualmente não está dando conta da realidade encontrada nas salas de aula. A maioria dos professores não sai pronta para trabalhar com esses alunos. E são inúmeros os fatores que contribuem para tal situação, que vão desde questões familiares, interesses individuais dos alunos, questões que envolvem a inclusão, papel e finalidade da escola nos dias atuais, enfim… assuntos, esses, para uma outra conversa.

Assim, devemos parar de nos preocupar com o momento “ideal” para a alfabetização, mas sim, que ela ocorra verdadeiramente, de forma justa e com encantamento, seja no primeiro, segundo ou terceiro ano – tempo esse convencionado pelas políticas públicas educacionais. Paremos de tentar enquadrar nossas crianças em caixas e passemos a enxergá-las como realmente são: seres humanos únicos e que têm necessidades, desejos e particularidades, além de tempos e ritmos diferentes para o “aprender”. Necessitam de acolhimento, empatia, atenção e o nosso comprometimento, afinal, elas não são “todo mundo” e muito menos, as vilãs dessa história!

 

*Rita Schane é especialista em pareceres pedagógicos do Sistema de Ensino Aprende Brasil. 

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