Estudo publicado em 15 de janeiro deste ano no JAMA Cardiology é o primeiro a mostrar diferenças no envelhecimento dos vasos sanguíneos, incluindo artérias grandes e pequenas, em homens e mulheres.
As mulheres podem ser mais suscetíveis que homens ao desenvolvimento de certos tipos de doenças vasculares e cardiovasculares em diferentes momentos da vida. Essa é uma das conclusões do estudo Sex Differences in Blood Pressure Trajectories Over the Life Course, publicado no JAMA Cardiology em 15 de janeiro deste ano. O artigo ainda destaca que os vasos sanguíneos, incluindo artérias grandes e pequenas, envelhecem mais rápido nas mulheres do que nos homens. “Essa é a primeira vez que um estudo mostra a diferença no envelhecimento dos vasos sanguíneos entre os gêneros. A sabedoria predominante era a de que mulheres e homens correm o mesmo tipo de risco e que a única diferença é que os homens desenvolvem doenças mais cedo. Na meia-idade, as mulheres terão a mesma extensão de doença que os homens”, afirma a cirurgiã vascular e angiologista Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular e do American College of LifeStyle Medicine.
No entanto, o estudo não apenas confirma que as mulheres têm biologia e fisiologia diferentes das dos homens, mas também ilustra por que motivo as mulheres podem ser mais suscetíveis ao desenvolvimento de certos tipos de doenças cardiovasculares e em diferentes momentos da vida. O estudo baseou-se na necessidade de descobrir como as medidas seriais da pressão arterial variam entre homens e mulheres durante um longo período de tempo, a partir das medidas na linha de base.
Segundo a médica, os pesquisadores analisaram dados de diferentes comunidades reunidos em vários sites em todo o país. Isso incluiu as medidas de pressão arterial para homens e mulheres que foram analisadas separadamente, uma vez que é um importante indicador do risco de doença cardiovascular. As medidas que eles procuraram incluem idade, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica, pressão arterial média e pressão de pulso. “O risco de ataque cardíaco, insuficiência cardíaca ou derrame é tipicamente baseado na presença de pressão alta”, diz a médica. Com base nessa premissa, os pesquisadores analisaram esses dados procurando por padrões que indicassem o início de um aumento da pressão arterial e quaisquer causas subjacentes. Eles também compararam grupos de mulheres com características diferentes entre si e grupos de homens entre si, em vez de seguir o caminho tradicional de comparar observações em homens com aquelas feitas em mulheres.
Esta análise específica por sexo mostrou que os vasos sanguíneos funcionam de maneira bastante diferente nos homens em comparação às mulheres, tanto no início quanto mais tarde na vida. “Essas mudanças começam já na terceira década de vida e continuam sendo observadas à medida que a mulher cresce. Eles estabelecem as bases das doenças cardíacas e vasculares que parecem bastante diferentes nas mulheres em comparação aos homens”, diz a médica.
Os cientistas descobriram, por exemplo, que a pressão arterial aumenta muito mais cedo nas mulheres do que nos homens. O aumento da pressão arterial nas mulheres também mostrou uma inclinação muito mais acentuada do que nos homens. Para colocar isso em perspectiva, a hipertensão provavelmente piorará muito mais rapidamente nas mulheres do que nos homens. “Isso significa que, se definirmos o limiar da hipertensão exatamente da mesma maneira, uma mulher de 30 anos com pressão alta provavelmente estará em maior risco de doença cardiovascular do que um homem com pressão alta na mesma idade”, explica. Além das alterações dos vasos sanguíneos ocorrerem mais cedo, a taxa em que elas aumentam também é mais rápida nas mulheres.
O ponto real deste estudo pode ser a descoberta de variações distintas no padrão de hipertensão em homens e mulheres, mas também destaca a necessidade de envolver mais mulheres na pesquisa e procurar diferenças relacionadas ao sexo na maneira como o coração e sistema vascular operar em saúde e doença. “Este estudo é mais um lembrete para os médicos de que muitos aspectos de nossa avaliação e terapia cardiovascular precisam ser adaptados especificamente para mulheres”, finaliza a cirurgiã vascular.
FONTE: Cirurgiã vascular e angiologista, Dra. Aline Lamaita é membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine. Formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, a médica participa, na Universidade de Harvard, de cursos de pós-graduação que ensinam ferramentas para estimular mudanças no estilo de vida nos pacientes em prol da melhora da longevidade e qualidade de vida. A médica possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. http://www.alinelamaita.com.
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