Estudo de caso chinês, que será publicado em junho, acompanhou uma mulher com a nova doença de coronavírus em sua 35ª semana de gravidez. Teste realizado no bebê constatou resultado negativo para coronavírus respiratório agudo grave 2. Caso sugere que a transmissão de mãe para filho é improvável
Reiterando o que dizem as autoridades mundiais de saúde e tranquilizando as gestantes nesse momento em que a pandemia do Novo Coronavírus tomou proporções mundiais, um novo estudo chinês, que será publicado na edição de junho da revista científica Emerging Infectious Diseases, confirma que a transmissão da mãe para o filho, durante a gestação, é improvável. “O estudo acompanhou uma mulher grávida com infecção confirmada por SARS-CoV-2 (Síndrome Respiratória Aguda Grave – Corona Vírus 2), que causa a doença do Novo Coronavírus, e que foi submetida à cesariana de um bebê cujo teste deu negativo na província de Zhejiang, na China. Até então, não foi observado risco de transmissão para o feto. Por esse motivo, elas não fazem parte do grupo de risco”, afirma a Dra. Ana Carolina Lúcio Pereira, ginecologista membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). “Mas as gestantes devem reforçar os cuidados, pois ainda é muito cedo para determinar esses efeitos na gravidez”, pondera a médica.
De acordo com o estudo da Zhejiang University, intitulado Lack of Vertical Transmission of Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2, China, em 6 de fevereiro de 2020, uma gestante de 30 anos de idade com 35 semanas de gestação procurou tratamento em um hospital universitário devido a um histórico de 2 dias de tosse seca sem febre, calafrios e falta de ar. No dia anterior, ela havia sido confirmada positiva para infecção por SARS-CoV-2 em seu hospital local com base em uma amostra de escarro (secreção), segundo o estudo. “Ela relatou contato com os pais, que testaram negativo para a doença, e com o marido que testou positivo”, diz a médica.
No primeiro dia de internação, a gestante apresentou tosse seca e temperatura de 37,2°C. No terceiro dia, ainda estava nas secreções e a frequência cardíaca do feto era de 110 batimentos por minuto, o que fez o obstreta recomendar uma cesariana de emergência. “Ela deu à luz a um menino normal, sem complicações. Uma amostra com swab orofaríngeo, uma espécie de cotonete estéril para exames, obtida imediatamente após a retirada do útero, indicou que ele era negativo para SARS-CoV-2”, explica.
Os pesquisadores relataram que, no dia do parto, embora o escarro da mulher fosse positivo, as amostras de soro, urina, fezes, líquido amniótico, sangue do cordão umbilical e placenta e amostras de leite materno foram negativas. Nos dias 4 e 5 de hospitalização, os exames de escarro da mulher foram negativos para SARS-CoV-2, e ela permaneceu afebril. A mulher só recebeu alta do hospital em 19 de fevereiro e o bebê recebeu alta em 24 de fevereiro.
Outro trabalho científico chinês sobre a evolução materna e perinatal de pacientes infectadas pelo SARS-CoV-2 mostrou a avaliação retrospectiva de nove mulheres que tiveram suas gestações resolvidas em Wuhan-China. “Notou-se que as manifestações clínicas nestas gestantes não foram graves e o prognóstico materno foi considerado bom. Todas as pacientes não apresentavam outras doenças previamente à gravidez, mas referiam história clara de exposição a pessoas com a infecção. A idade variou de 27 a 40 anos e a idade gestacional variou de 36 a 38 semanas”, afirma a médica. As pacientes sofreram com febre e pneumonia, mas com relação à gestação, não houve nenhuma morte fetal, morte neonatal ou asfixia neonatal, além de que não foi detectado nenhum caso de transmissão vertical do vírus, da mãe para o filho.
Também da China, outro trabalho relata o prognóstico neonatal de 10 crianças (dois gêmeos) nascidas de nove mulheres. “O prognóstico materno foi considerado bom, com recuperação de todas elas. Já o prognóstico perinatal não foi tão bom. A taxa de nascimentos pré-termo foi elevada e houve morte de um dos bebês, que sofreu com complicação de hemorragia digestiva. O exame de biologia molecular não confirmou a presença do SARS-CoV-2 em nenhum deles. Os autores fazem a ressalva de que nesta casuística não houve transmissão vertical, mas o pequeno número de casos não permite esta conclusão de forma imperativa”, diz a ginecologista Dra. Ana.
Medidas de prevenção – As gestantes e os familiares devem tomar as mesmas medidas de precaução amplamente divulgadas na mídia para redução do contágio da doença. “Então, é necessário evitar contato próximo com pessoas apresentando infecções respiratórias agudas; lavar frequentemente as mãos (pelo menos 20 segundos), especialmente após contato direto com pessoas, superfícies e antes de se alimentar; se não tiver água e sabão, usar álcool em gel 70%, caso as mãos não tenham sujeira visível; evitar colocar a mão no rosto; higienizar as mãos após tossir ou espirrar; usar lenço descartável para higiene nasal; cobrir nariz e boca ao espirrar ou tossir; não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas; manter os ambientes limpos (com detergente, água sanitária e álcool de limpeza) e bem ventilados.
Atendimento pré-natal – No caso do atendimento de gestante classificada como “caso suspeito”, essa paciente deverá utilizar máscara de proteção e o profissional deverá utilizar equipamentos de proteção individual (EPI) que inclui máscara, luvas, óculos e avental. “Dentro das orientações dos planos de contenção da infecção nos hospitais estes casos deverão ser hospitalizados até a definição diagnóstica. Gestantes com suspeita ou confirmação de infecção pelo COVID–19 devem ser tratadas com terapias de suporte, de acordo com o grau de comprometimento sistêmico”, afirma a médica.
Amamentação – Ainda não há consenso sobre esse ponto, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que as mães que estiverem em bom estado geral, apesar de diagnóstico da doença, devem manter a amamentação utilizando máscaras de proteção e higienização prévia das mãos. “Considerando os benefícios da amamentação e o papel insignificante do leite materno na transmissão de outros vírus respiratórios, a mãe pode amamentar desde que as condições clínicas permitam”. Outros protocolos de entidades representativas como o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists e American College of Obstetricians and Gynecologists também concordam com a indicação de manter a amamentação observando-se os já cuidados referidos. “Mas consulte sempre um médico. Pacientes na fase aguda da doença podem ser orientados a não amamentar, fazendo com que o leite seja ordenhado e ofertado ao bebê”, finaliza a médica.
FONTE: DRA. ANA CAROLINA LÚCIO PEREIRA: Ginecologista, membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), especialista em Ginecologia Obstetrícia pela Associação Médica Brasileira e graduada em Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro em 2005. Especialista em Medicina do Tráfego pela Abramet, a médica realiza consultas ginecológicas, obstétricas e cirurgias, atuando na prevenção e tratamento de doenças gineco-obstétricas com foco em gestação de alto risco.
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