sexta-feira, 15 novembro 2024
14.8 C
Curitiba

Isolamento e agressividade / Por Wanda Camargo

Mesmo em um tempo que desperta a solidariedade de muitos, como o atual em plena pandemia, com as dificuldades econômicas que todos sabem que se avizinham, ainda não deixamos de ter atos de agressões – mulheres confinadas com maridos agressivos, crianças expostas a violências de todas as ordens, grupos que tentam efetuar roubos fantasiados de agentes de saúde, e todas as mazelas que sempre enfrentamos em épocas ditas “normais”.

Obstáculos como doenças globais, perspectivas de desabastecimentos, ruínas financeiras e famílias sem poder alimentar-se ainda não foram suficientes para criar empatia e generosidade em toda a sociedade, embora estejamos – aparentemente – caminhando para uma melhor compreensão do Outro e suas necessidades. Mas isso depende, infelizmente, de uma questão de educação (no seu sentido mais amplo) a que uma comunidade tenha tido acesso.

Exemplos de dirigentes desnecessariamente agressivos, em eterno confronto, desautorizando auxiliares que dizem verdades – evidentemente nem toda verdade é confortável – com desprezo pela ciência e escolas de forma geral, são também contraproducentes numa sociedade que já não prima pelo acesso a educação de boa qualidade para a maior parte de sua população.

E um dos agravantes atuais está manifesto no fato comprovado de que em todo agrupamento em que a família está desestruturada ou a escola não é corretamente valorizada, a delinquência se torna tutora do desenvolvimento. 

E são as potencialmente melhores crianças, aquelas mais espertas e resilientes que se constituirão mais rapidamente nos “melhores” infratores, ou seja, as mais bagunceiras, violentas, que tenderão a “tomar” o que não é seu, pela agressividade ou mesmo o roubo. Crianças mais doces, mais compreensivas, mais tolerantes no comportamento serão agredidas e perderão espaço de manifestação, e muitas vezes pais e professores assistem a este processo sem uma interferência decisiva.

Ao longo de toda a história humana atos considerados violentos e agressivos foram cometidos, deles temos relatos na Bíblia e em tratados de Filosofia Clássica, tendo Freud tratado do assunto ao discutir a civilização com seus atos considerados mais selvagens.

Como hoje as informações circulam com mais rapidez, o clima é de desorientação e ansiedade, com a consequente decadência da força normativa das instituições e descrédito no poder simbólico da lei. Se dirigentes que deveriam nortear nossas ações e comportamentos parecem, eles mesmos, incapazes de autocontrole, de contenção, de discernimento, são as pessoas com maior fragilidade no processo educativo que se sentirão mais autorizadas ao destempero.

Perdemos, por isso, o sentido de responsabilidade e pertencimento social, descrendo do Estado, da família e das escolas. Valores e relacionamentos se tornam “líquidos”, trazendo insegurança e descrença no futuro, e se desconhecermos o passado, a história da civilização e da construção da cidadania, somos levados a um eterno presente, sem valores ou referências, no qual o prazer imediato é a única norma.

Solidariedade desaparece quando os demais deixam de serem humanos, tendo apenas a função de espelho, que repete todas as minhas opiniões e comportamentos, ou então de oponente, que não compartilha minhas ideias e por isso se torna alvo de destrutividade, ou até um mero objeto, do qual extraio meu prazer, mesmo que isso signifique sua dor.

A transgressão de regras, das leis ou das normas comunitárias leva à violência, aos atos de abuso, mostrando que o mito do brasileiro cordial, isento de preconceitos não existe, e a percepção desta realidade é urgente, caso queiramos melhorar esta realidade. Em um momento em que pessoas estão confinadas com aqueles em situação de fragilidade, cuidar da família é bem mais que simplesmente orientar a cor da roupa que devemos usar.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.

wcmc@mps.com.br

Destaque da Semana

OSUEL apresenta concerto gratuito neste domingo (17)

Na manhã deste domingo, 17 de novembro, às 10h30,...

Black Friday dos Hotéis Deville: descontos de até 30%

Se você já está pensando nas próximas viagens nacionais,...

Bosco Gastronomia lança cardápio especial para encomenda da ceia de Natal

Uma seleção variada para facilitar as celebrações de fim...

Heranças para pets e caridade, uma tendência global

O caso do testamento do magnata indiano Ratan Tata...

Artigos Relacionados

Destaque do Editor

Popular Categories

Mais artigos do autor