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Sociedade Brasileira de Hansenologia lança documento com orientações para pacientes durante a pandemia

As orientações para pacientes em tratamento para a hanseníase foram lançadas nesta segunda-feira, 6. O trabalho foi feito por um grupo de hansenologistas da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) em versões em português e inglês e mostra como os médicos acreditam que a doença de Hansen e a COVID-19 podem interagir. O trabalho já estão sendo compartilhado por entidades de dermatologia e hansenologia estrangeiras.

Alice Cruz, relatora especial das Nações Unidas para a Eliminação da Discriminação contra Pessoas Afetadas pela Hanseníase e seus Familiares, informou que fará uma divulgação muito ampla nas redes de comunicação. “Este é um instrumento que pode auxiliar as pessoas a saberem o que podem exigir e o que podem esperar dos governos e estruturas que as atendem”.  E ressaltou que este é um documento muito oportuno. “Que eu saiba, a SBH foi a primeira comunidade científica a ter esta preocupação e produzir um documento deste tipo. Neste momento é muito importante que as pessoas mais vulneráveis não fiquem para traz”.

A relatora das Nações Unidas disse ainda que as pessoas afetadas pela hanseníase, muitas vezes, já estão em uma posição de vulnerabilidade social, com muitas barreiras para acesso a sistemas de saúde, moradia digna e bens fundamentais, como água e outros, e que, neste momento, têm um peso acrescido sobre eles. “É importante que profissionais e instituições que atuam neste cenário deem indicações claras para que essa população possa se prevenir”. Alice Cruz é a primeira pessoa relatora da ONU para a questão da hanseníase. Portuguesa, ela concedeu a entrevista do Equador.

O Brasil figura no segundo lugar no ranking mundial da hanseníase – só perde para a Índia em número de casos. São diagnosticados, anualmente, cerca de 30 mil novos casos, mas a SBH alerta, em estudos publicados em revistas científicas brasileiras e estrangeiras de prestígio que a hanseníase ainda é subdiagnosticada no Brasil. “Como não são avaliados os contatos dos pacientes, não há mais ensino sobre a hanseníase nas universidades e falta capacitação dos profissionais da atenção básica à saúde no país, a SBH estima que cerca de 120 mil doentes estejam sem diagnóstico para a hanseníase no Brasil”, alerta Claudio Salgado, presidente da SBH, dermatologista, hansenólogo e doutor em Imunologia da Pele pela Universidade de Tóquio. A hanseníase é uma doença causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, que entra nos nervos periféricos, causando inflamação, com perda da sensibilidade e das suas funções.

Por isso, a sociedade médica, que completa 72 anos em 2020, decidiu editar o documento. “Trata-se de um material com linguagem acessível e direta para o paciente e seus familiares sobre direitos da pessoa em tratamento e orientações sobre os direitos desses pacientes e com objetivo de prevenir complicações de saúde para este público que, em sua maioria, vive em condições de vulnerabilidade social”, explica Salgado.

O documento da SBH alerta que uma doença pode interagir com a outra e os sintomas podem vir de qualquer uma delas e pede para que a pessoa que tem hanseníase informe o médico e relate se está usando medicamento relacionado à hanseníase, sejam antibióticos, como os da poliquimioterapia (PQT) ou medicamentos para tratar reações.

Takahiro Nanri, diretor executivo da Sasakawa Memorial Health Foundation, no Japão, informou na manhã desta quarta, 8, que já iniciou a divulgação do documento da SBH com a rede de relacionamentos da instituição. A fundação sediada no Japão é referência e atua fomentando ações de combate à hanseníase no mundo. O texto da SBH já se encontra no sítio oficial da fundação na internet: https://www.shf.or.jp/information/8020?lang=en .

O blog Leprosy Mailing List, que reúne os maiores hansenologistas de todo o mundo também compartihou o documeto: http://leprosymailinglist.blogspot.com/ .

DAPSONA
A Dapsona, medicamento utilizado para tratar a hanseníase, pode causar falta de ar grave e cansaço porque pode causar anemia em alguns pacientes. A preocupação dos especialistas é que essa reação pode confundir o médico com os sintomas da COVID-19.

Coinfecção
Outro alerta é que são desconhecidas as consequências da coinfecção da hanseníase com tuberculose ou HIV e COVID-19, assim como a superposição da hanseníase, gravidez e COVID-19. E avisam que as pessoas nessas condições devem estar mais alertas a novos sintomas e solicitar ajuda médica, quando necessário.

Reações
Sobre as reações da hanseníase, outra grande preocupação dos hansenólogos, o documento alerta que elas devem ser tratadas como situações de emergência e descreve:

“Dependendo do tipo de reação, você pode precisar de medicamentos ou mesmo de cirurgia para controlar a dor e a degeneração dos nervos. Os serviços de saúde especializados devem fornecer seus tratamentos no tempo adequado. Os principais medicamentos utilizados são corticosteroides e a talidomida que agem no seu sistema de defesa (sistema imunológico), e isso pode ser importante no curso da COVID-19. O seu médico talvez precise trocar esses medicamentos ou alterar as suas dosagens, conforme sua situação específica, com a possibilidade de você também poder se infectar pelo coronavírus e desenvolver a COVID-19, pois você poderá ser considerado como um paciente imunossuprimido e do grupo de risco para COVID-19. Lembre-se de que a talidomida não pode ser usada durante a gravidez”.

Direito a cirurgias

O texto da SBH diz que se a cirurgia for necessária, a fim de evitar mais incapacidade ou sofrimento, o serviço de saúde poderá ter que realizá-la. E orienta o paciente: “Você deve discutir isso com a equipe médica e garantir que seus direitos sejam salvaguardados. A produção e entrega de órteses e próteses devem ser mantidas, dependendo da situação do sistema de saúde nesta crise. Materiais de curativos podem ser dados ao paciente para cuidar de suas feridas em casa”, ressaltando o papel das ONGs que já atuam colaborando para que a reabilitação e o fornecimento de dispositivos auxiliares, como órteses e próteses, sejam mantidos.

A SBH ressalta a importância dos determinantes sociais da hanseníase na saúde da população brasileira e mundial. “A crise da COVID-19 evidencia a importância da promoção da saúde, através da melhoria das condições de vida da população, que inclui o acesso de todos aos serviços de saúde, como proposto pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”.

O texto na íntegra está no sítio da SBH na itnernet; http://www.sbhansenologia.org.br/release/orientacoes-para-pessoas-atingidas-pela-hanseniase-durante-a-pandemia-covid-19

 blanche@textocomunicacao.com.br

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