CFM divulga primeiro levantamento com denúncias de médicos da linha de frente contra a pandemia

Falta de EPIs, exames, medicamentos, material de higienização e recursos humanos estão entre os principais problemas enfrentados pelos profissionais

Médicos que atuam em unidades de saúde que prestam assistência a casos confirmados e suspeitos de COVID-19 denunciaram ao Conselho Federal de Medicina (CFM) quase 17 mil inconformidades na infraestrutura de trabalho oferecida por gestores (públicos e privados) de todo o País. Entre as principais ‘faltas’ identificadas em 2.166 serviços de saúde, estão a falta de máscaras N95 (ou equivalente), assim como de outros equipamentos de proteção individual (EPIs); a insuficiência ou completa ausência de kits de álcool gel ou 70%, de exames para covid-19; e a carência de equipes de enfermagem (enfermeiros e técnicos). Outro ponto preocupante para os médicos é a dificuldade no acesso a leitos de UTI e de internação.

Os dados fazem parte do primeiro levantamento feito pelo CFM após o lançamento de plataforma online exclusiva aos médicos com inscrição nos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs). Desde o lançamento da ferramenta, entre 30 de março e 6 de maio, um total de 1.563 profissionais acessaram a base.

Principais falhas – De acordo com o levantamento do CFM, a queixa recorrente – cerca de 38,2% dos casos – está relacionada à falta de equipamentos de proteção individual (EPIs), considerados obrigatórios para o enfrentamento de epidemias. Apesar da recomendação das autoridades sanitárias, como o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo menos 1.585 formulários denunciaram falta de máscara N95 ou equipamento equivalente. Também foi notificada falha na oferta de aventais (1.417 relatos), óculos ou protetor facial (1.215), máscara cirúrgica (1.038), gorro (697) e luvas (496).

Falta de EPI (n=6.448 – 38,2%)

N

%

Máscara n95, EPPP ou equivalente

1585

24,6

Avental

1417

22,0

Óculos ou protetor facial

1215

18,8

Máscara cirúrgica

1038

16,1

Gorro

697

10,8

Luvas

259

4,0

Luvas cirúrgicas

237

3,7

No quesito insumos, exames e medicamentos, os relatos de fragilidades no processo de assistência pesaram sobre a ausência de kits de exame para Covid-19, relatada em 937 denúncias. Também foi registrada a falta de medicamentos (697), de material educativo de prevenção contra o vírus (592), acesso a exames de imagem (439), material para uso em UTI (326) e material para curativo (193).

Falta de insumos, exames e medicamentos (n=3.184 – 18,9%)

N

%

Kits de exame para covid-19

937

29,4

Medicamentos

697

21,9

Material educativo (cartazes e folders)

592

18,6

Acesso a exames de imagem

439

13,8

Material para uso em UTI

326

10,2

Material para curativo

193

6,1

A falta de equipes de enfermagem (enfermeiros e técnicos de enfermagem) foi também uma das queixas mais frequentes: 974 formulários destacaram o problema, que representa 42,1% das ‘faltas’ no eixo dos recursos humanos. Outros 590 notificaram carência de médicos, 349 indicavam fragilidade em equipes de apoio – limpeza e cozinha, e 310 denunciaram falta de fisioterapeutas, entre outros.

Falta de Recursos Humanos (n=2.314 – 13,7%)

N

%

Equipe de enfermagem (enfermeiros e técnicos)

974

42,1

Médicos

590

25,5

Equipes de apoio (limpeza e cozinha)

349

15,1

Fisioterapeuta

310

13,4

Outros

91

3,9

Também há falta de material para correta higienização, conforme relatada grande parte dos denunciantes. Pelo menos 702 (30,8%) indicaram a falta de álcool gel ou de álcool 70% (502 relatos). Outros itens básicos de higienização também faltam nas unidades de saúde, como papel toalha (441), sabonete líquido (396) e desinfetante ou outro insumo recomendado (240).

Falta de material para higienização (n=2.281 – 13,5%)

N

%

Álcool gel

702

30,8

Álcool 70%

502

22,0

Papel toalha

441

19,3

Sabonete líquido

396

17,4

Desinfetante ou outro insumo recomendado

240

10,5

Foram alvo de queixas dos médicos, ainda, as falhas no processo de triagem, com destaque para a falta de orientação aos pacientes e acompanhantes (706) e de informação para os profissionais (704). Dificuldades em ter acesso a leitos também foram reportadas. Denunciantes relataram problemas em encontrar leito de UTI adulto (315) e de internação hospitalar (257).

Falha no processo de triagem (n=1.850 – 11,0%)

N

%

Orientação aos pacientes e acompanhantes

706

38,2

Informação para os profissionais

704

38,1

Equipe para atender demanda

440

23,8

Dificuldade em acesso a leito (n=802 – 4,8%)

N

%

Leito de UTI adulto

315

39,3

Leito de internação adulto

257

32,0

Leito de UTI pediátrico

141

17,6

Leito de internação pediátrico

89

11,1

 

Localização – A maioria dos denunciantes relatou problemas em hospitais (930), serviços de Atenção Primária (650) ou pronto atendimento (393). Em menor proporção, também figuram no painel de denunciados os serviços de atenção pré-hospitalar (41); assistência médica ambulatorial, ambulatório médico de especialidades e centros de atenção psicossocial (78); entre outros (tipos de unidades (68). Segundo os médicos denunciantes, quase 85% das unidades em que atuavam prestam serviço ao Sistema Único de Saúde (SUS), 10% eram privados, 3,4% eram filantrópicos e 1,7% não foi identificada a natureza do serviço.

“Para enfrentar a pandemia, nos adaptamos ao contexto de excepcionalidade da pandemia – com a autorização do uso da telemedicina e mudança nos critérios para funcionamento de UTIs –, mas nunca abrimos mão de uma coisa: os gestores, em todos as esferas, devem estar comprometidos com a proteção e a segurança dos médicos e demais profissionais da saúde, que precisam contar com EPIs e a infraestrutura adequada para salvar vidas”, destacou o presidente do CFM, Mauro Luiz de Britto Ribeiro.

Segundo ele, os Conselhos de Medicina estão ao lado da população, dos médicos e das equipes que atuam na linha de frente. Por isso, todos os relatos recebidos estão sendo automaticamente direcionados aos Departamentos de Fiscalização dos CRMs dos estados onde estão as unidades indicadas pelos denunciantes. Com base nessas informações, os CRMs tentarão solucionar os problemas junto aos gestores locais e poderão realizar fiscalizações.

 

Para registrar uma denúncia, o médico deve preencher alguns dados básicos de identificação (número do CRM, CPF e Estado onde mora). Superada essa etapa, ele terá acesso a um questionário simplificado que lhe permitirá indicar, de modo objetivo, as carências que encontra e que dificultam sua atuação no atendimento de casos suspeitos e confirmados de COVID-19.

 

O levantamento do CFM avaliou ainda o perfil dos 1.563 médicos que apresentaram seus relatos na plataforma de denúncia. É possível verificar, por exemplo, que muitos são profissionais experientes, com tempo médio de 11 anos de graduação, sendo que mais de 60% possuem título de especialista. Na distribuição por idade, 69% dos denunciantes têm até 39 anos, 29% entre 40 e 69 anos e o restante mais de 70 anos. Outra constatação: 56% dos médicos que apresentaram queixa eram do sexo feminino e 44% masculino.

imprensa@portalmedico.org.br

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