Pesquisas começam a mostrar que existe a possibilidade da transmissão vertical [aquela em que a mãe contamina o bebê antes de nascer]. Ainda são poucos relatos, mas isso não pode ser descartado. Estudo foi publicado na revista acadêmica Journal of the American Medical Association
O novo estudo Neonatal Early-Onset Infection With SARS-CoV-2 in 33 Neonates Born to Mothers With COVID-19 in Wuhan, China publicado recentemente no Journal of The American Medical Association indicou que há possibilidade de contágio vertical da gestante para o bebê durante a gravidez. Até então, os estudos não indicavam esse tipo de contágio. “Como se trata de uma doença nova, muita coisa pode mudar em pouco tempo. O que as pesquisas começam a mostrar é que existe a possibilidade da transmissão vertical [aquela em que a mãe contamina o bebê antes de nascer]. Ainda são poucos relatos, mas isso não pode ser descartado”, afirma Ana Carolina Lúcio Pereira, ginecologista membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). O estudo acompanhou 33 nascimentos de mães com Covid-19, sendo que três bebês foram infectados. No Brasil, o Ministério da Saúde adicionou, recentemente, as gestantes no grupo de risco.
A ginecologista explica que os estudos de casos têm baixa amostragem, então a transmissão vertical ainda não é uma verdade absoluta na comunidade científica. “O aparecimento de crianças com o vírus logo após o nascimento de mães contaminadas pode significar uma possibilidade que deve ser considerada”, afirma a Dra. Ana Carolina Lúcio Pereira.
No entanto, o estudo confirmou as informações de pesquisas anteriores que indicavam que os sintomas clínicos dos bebês são, no geral, leves e evoluem com resultados favoráveis. “Dos 3 recém-nascidos com Covid-19 sintomático, nesse estudo, o mais grave deles pode ter tido complicações por prematuridade, asfixia e sepse, em vez de complicações por infecção por SARS-CoV-2”, afirma o trabalho. “De qualquer forma, é crucial rastrear as gestantes e implementar medidas rigorosas de controle de infecção, quarentena de mães infectadas e monitoramento rigoroso de recém-nascidos com risco de Covid-19”, diz a ginecologista.
Medidas de prevenção – As gestantes e os familiares devem tomar as mesmas medidas de precaução amplamente divulgadas na mídia para redução do contágio da doença. “Então, é necessário evitar contato próximo com pessoas apresentando infecções respiratórias agudas; lavar frequentemente as mãos (pelo menos 20 segundos), especialmente após contato direto com pessoas, superfícies e antes de se alimentar; se não tiver água e sabão, usar álcool em gel 70%, caso as mãos não tenham sujeira visível; evitar colocar a mão no rosto; higienizar as mãos após tossir ou espirrar; usar lenço descartável para higiene nasal; cobrir nariz e boca ao espirrar ou tossir; não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas; manter os ambientes limpos (com detergente, água sanitária e álcool de limpeza) e bem ventilados.”
Atendimento pré-natal – No caso do atendimento de gestante classificada como “caso suspeito”, essa paciente deverá utilizar máscara de proteção e o profissional deverá utilizar equipamentos de proteção individual (EPI) que inclui máscara, luvas, óculos e avental. “Dentro das orientações dos planos de contenção da infecção nos hospitais estes casos deverão ser hospitalizados até a definição diagnóstica. Gestantes com suspeita ou confirmação de infecção pelo Covid-19 devem ser tratadas com terapias de suporte, de acordo com o grau de comprometimento sistêmico”, afirma a médica.
Amamentação – Ainda não há consenso sobre esse ponto, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que as mães que estiverem em bom estado geral, apesar de diagnóstico da doença, devem manter a amamentação utilizando máscaras de proteção e higienização prévia das mãos. “Considerando os benefícios da amamentação e o papel insignificante do leite materno na transmissão de outros vírus respiratórios, a mãe pode amamentar desde que as condições clínicas permitam”. Outros protocolos de entidades representativas como o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists e American College of Obstetricians and Gynecologists também concordam com a indicação de manter a amamentação observando-se os já cuidados referidos. “Mas consulte sempre um médico. Pacientes na fase aguda da doença podem ser orientados a não amamentar, fazendo com que o leite seja ordenhado e ofertado ao bebê”, finaliza a médica.
FONTE: DRA. ANA CAROLINA LÚCIO PEREIRA: Ginecologista, membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), especialista em Ginecologia Obstetrícia pela Associação Médica Brasileira e graduada em Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro em 2005. Especialista em Medicina do Tráfego pela Abramet, a médica realiza consultas ginecológicas, obstétricas e cirurgias, atuando na prevenção e tratamento de doenças gineco-obstétricas com foco em gestação de alto risco. maria.claudia@holdingcomunicacoes.com.br
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