Pandemia exige esforço redobrado de professores e estudantes que concorrem à tão sonhada vaga no Ensino Superior
A determinação de cada vestibulando em prosseguir com a rotina de estudos durante a pandemia deverá ser um fator ainda mais decisivo nos resultados do Enem e dos vestibulares do final do ano. Tal atributo não escolhe condição econômica e é capaz de compensar uma série de dificuldades enfrentadas durante a quarentena. Prova disso são os exemplos de adaptabilidade vindos do Cursinho Solidário, da ONG Formação Solidária, que desde o projeto piloto, realizado há 18 anos, transforma a vida de estudantes de baixa renda, oferecendo um cursinho pré-vestibular de alto nível para estudantes de Curitiba e Região Metropolitana.
A atual rotina de estudos da vestibulanda Giseli Ramos, de 19 anos, serve de inspiração para quem está desmotivado – e ilustra bem o quanto a determinação poderá influenciar positivamente nos resultados futuros dos concursos mais concorridos. Ciente de que a qualidade do tempo dedicado ao estudo é mais importante que a quantidade, Giseli estabeleceu como meta para cada dia de preparação conseguir resolver todos os exercícios das seis aulas on-line disponibilizadas pelo cursinho e produzir resumos de cada conteúdo apresentado.
Ela reconhece que nem todo dia consegue terminar os seis resumos, por conta dos inúmeros desafios, além de administrar um nível de ansiedade ainda maior do que nos anos anteriores. “É mais difícil estudar em casa, tem muita distração e o ambiente não foi preparado para todos ficarem o dia inteiro. É a internet que trava, o cachorro latindo, a mãe que pede ajuda e por aí vai, mas é preciso se adaptar e seguir buscando realizar o sonho”, explica.
A determinação de Giseli faz com que ela consiga perceber aspectos positivos na preparação durante a quarentena. “Trabalho como Jovem Aprendiz, mas a empresa só voltou em junho, o que me garantiu mais tempo de estudo. Além disso, as lives das aulas ficam gravadas, o que me permite retomar alguns conteúdos, quando me distraio ou fico em dúvida”, conta. Ela também se considera privilegiada na comparação com outros estudantes que não têm um computador em casa. “Tenho uma amiga que está indo à casa da tia para poder assistir às aulas, acho muito triste essa diferença, porque alguns vão acabar desistindo de tentar uma vaga este ano. Daí a importância de adiar o Enem, opina.
Giseli revela uma tática para fazer o tempo render: assistir às aulas gravadas para não se distrair com o chat e não perder tempo com as interrupções por conta da conexão. “Perceber isso me ajudou muito para fazer render o estudo. Até porque os professores disponibilizaram e-mail, redes sociais e até o WhatApp para tirar nossas dúvidas e nos ajudarem”, elogia.
Adaptações
Assim como os alunos, professores e coordenadores envolvidos com o Cursinho Solidário também precisaram fazer adaptações para seguir com a missão de oferecer a melhor preparação possível para os estudantes de baixa renda. O coordenador geral Elias Bonfim explica que as aulas estão sendo transmitidas via Youtube (https://www.youtube.com/user/formacaosolidaria) e plataforma de aprendizagem virtual Positivo On, do Sistema Positivo de Ensino, que liberou todo o conteúdo gratuitamente a todos os alunos e professores do Brasil, durante a pandemia.
Segundo o coordenador, por conta da mudança na data de vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o Cursinho Solidário reformulou a programação e ainda trabalha com a possibilidade de realizar um “intensivão” se as aulas presenciais forem retomadas em setembro. “Realizamos sempre dois processos seletivos, para o extensivo e para o super intensivo. Se retornarmos em setembro, dará tempo de fazer um intensivão até dezembro, já que a prova da UFPR será em janeiro, mas estamos no aguardo do Ministério da Saúde”, explica. O coordenador também cogita realizar de duas a três semanas de revisão de conteúdo na sede Batel do Curso Positivo, onde ocorrem as aulas presenciais do Cursinho Solidário, para os alunos do curso extensivo que tiveram dificuldades de acompanhar as aulas remotas.
Na visão do professor de Química do Curso Positivo, Tadeu Cardoso, que há 13 anos é voluntário e participa da coordenação do Cursinho Solidário, tanto do lado de quem leciona, quanto de quem estuda, o esforço é grande. “O momento exigiu uma grande adaptação de todos. Na minha disciplina, por exemplo, estava habituado a tirar dúvidas desenhando no quadro negro e acabei pedindo ajuda para os alunos a fim de conseguir fazer isso de forma on-line”, explica. Além disso, o tempo usado para tirar dúvidas aumentou. “Considero fundamental que os alunos sintam que não estão sozinhos. Sei de inúmeros exemplos de superação, pessoas que estão madrugando para usar o computador porque de dia os pais trabalham em home office. Por isso, minha recomendação é que cada vestibulando siga fazendo o que é preciso para se preparar com o que tem nas mãos”, sugere. “Não gaste nem 10 segundos pensando quando será a prova ou no fim da pandemia. O que está dentro do possível é seguir acordando no mesmo horário de antes, tirar o pijama e continuar a rotina de estudos para estar preparado quando tudo passar”, aconselha.