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Mitos sobre depressão são frequentes entre os mais velhos, aponta pesquisa

Mais suscetíveis aos transtornos mentais, os brasileiros próximos da terceira idade também têm menos informação sobre o tema, uma situação ainda mais preocupante dentro do contexto atual de isolamento social
Mitos sobre depressão são frequentes entre os mais velhos, aponta pesquisa
Foto de Keenan Constance no Pexels
Em tempos de pandemia e isolamento social, a saúde mental pede mais atenção. Afinal, a solidão é reconhecida pela psiquiatria como um gatilho importante para transtornos de humor em pessoas predispostas¹. E a preocupação é ainda maior nos grupos mais vulneráveis, como os idosos: se na população em geral a prevalência da depressão é de 5,8%² no Brasil, na faixa etária que vai dos 60 aos 64 anos essa taxa sobe para 11,1%³. Como agravante, é justamente entre os mais velhos que os mitos sobre a saúde mental ganham mais força, como apontam os dados inéditos de um levantamento sobre o tema aplicado na capital paulista e em diferentes regiões metropolitanas do País (Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília).
A pesquisa4 “Depressão, suicídio e tabu no Brasil: um novo olhar sobre a Saúde Mental”, realizada com a população de internautas (classe ABC), aponta que os mais velhos que têm a maior dificuldade de identificar a depressão como uma doença: 30% daqueles com 55 anos ou mais de idade não estão convencidos, por exemplo, de que a condição não pode ser resumida à ‘falta de fé’. Os resultados também mostram que os brasileiros com mais de 54 anos são os que menos conseguem associar a depressão a um risco aumentado de suicídio: um em cada quatro entrevistados nessa faixa etária desconhece essa associação. Por outro lado, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 90% dos casos de suicídio estão ligados a distúrbios mentais5 e os transtornos de humor, entre os quais a depressão se destaca, representam o diagnóstico mais frequente nesses casos, presente em 36%6 das vítimas.
“A desinformação sobre a depressão, verificada com mais força justamente dentro de uma faixa etária mais vulnerável, nos coloca diante de um cenário delicado. Afinal, o atual contexto de pandemia traz uma série de elementos que podem impactar profundamente a saúde mental. A distância dos familiares e o rompimento de vínculos, por exemplo, tendem a ser muito impactante para os idosos”, avalia o pesquisador e psiquiatra Michel Haddad, do IAMSPE.
Em um momento de tantas incertezas, os sentimentos de medo e angústia relacionados ao novo coronavírus também podem ser sentidos com mais intensidade pelos mais velhos, uma vez que eles fazem parte dos grupos de maior risco para a covid-19. “Por isso, neste contexto de pandemia, a saúde mental precisa receber mais atenção. É essencial desmistificar os tabus que existem em torno desse tema, para que as pessoas se sintam encorajadas a buscar ajuda”, comenta a psiquiatra Alexandrina Meleiro, coordenadora da Comissão de Estudo e Prevenção de Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria e vice-presidente do Conselho Científico da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA).
A OMS reconhece que um dos grandes entraves à prevenção do suicídio é, justamente, o estigma associado aos transtornos mentais, o que se traduz em vergonha e silêncio por parte do paciente. De fato, a pesquisa IBOPE Conecta também identificou, entre os respondentes com 55 anos ou mais, que mais de 1 a cada 10 entrevistados não iria ao psiquiatra mesmo que recebesse um encaminhamento médico.
“Infelizmente, é comum as pessoas subestimarem a depressão. E isso acaba provocando uma resistência em se consultar com o psiquiatra, que é a especialidade médica habilitada para estabelecer o diagnóstico e o tipo de tratamento mais adequado ao paciente”, afirma o intensivista Luiz Fernando Vieira, gerente médico da Upjohn. “Neste momento ímpar que estamos vivendo, mais que nunca, todos nós precisamos estar atentos às possíveis mudanças de comportamento de nossos familiares para auxiliar na busca por essa ajuda especializada”, completa Alexandrina.
Aplicada pelo IBOPE Conecta, a pesquisa4 que ouviu 2 mil pessoas no segundo semestre de 2019, a pedido da Pfizer e de sua divisão focada em doenças crônicas não-transmissíveis, a Upjohn, e a área de Medicina Interna, também revela que 18% dos entrevistados com mais de 54 anos acreditam que não existem sintomas físicos, pois a depressão é apenas um momento de tristeza e não uma doença.
Desânimo persistente, baixa autoestima, sentimentos de inutilidade, perda de interesse por atividades que antes a pessoa apreciava, mudanças de apetite e dos hábitos de sono, dificuldades de concentração e irritabilidade são alguns dos sintomas que podem estar associados à depressão7. “A doença também pode prejudicar o tratamento de outras enfermidades e, até mesmo, piorar a evolução desses quadros”, complementa Márjori Dulcine, Diretora Médica da Pfizer Brasil.
A depressão e ansiedade, entre outras condições, também aumentam o risco de problemas cardíacos. Por outro lado, a presença das doenças cardiovasculares acentua as chances de manifestação desses fatores psicossociais, o que demonstra uma relação forte e bidirecional8. “Os transtornos mentais podem causar, ativar e agravar danos ao coração. Para prevenção é muito importante, uma vida com dieta equilibrada e exercícios físicos, sempre com assistência psicológica, para manter mente e corpo saudáveis”, finaliza o especialista.
Tratamento na pandemia
Além de ativar possíveis gatilhos para o desenvolvimento de transtornos mentais em pessoas predispostas, os fatores sociais ligados à pandemia também podem agravar sintomas em pacientes já diagnosticados e assistidos. “Por isso, é importante que o paciente não interrompa um tratamento contínuo sem o conhecimento de seu médico”, ressalta Haddad, lembrando que várias medidas foram tomadas nos últimos dois meses para incentivar a manutenção do tratamento durante o isolamento social.
De um lado, o Ministério da Saúde regulamentou a telemedicina9 durante a pandemia, de modo que os pacientes possam buscar ajuda especializada a distância. Paralelamente, outra medida que favorece a adesão aos tratamentos é uma nova resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a RDC 357/2020 , válida até agosto deste ano, determinando que os pacientes possam adquirir seus medicamentos controlados por um período de até seis meses10. A entrega desse tipo de medicação em domicílio, prática anteriormente vetada, também passou a ser permitida9. Além disso, a receita eletrônica também foi aprovada para a venda de medicamentos controlados (a prescrição médica poderá ser dada para até 90 dias de tratamento – anteriormente, só era permitida para até 60 dias).
A psicoterapia e os medicamentos antidepressivos são, em geral, as estratégias adotadas pelos médicos para o tratamento da depressão, ao lado de medidas coadjuvantes, como o estímulo à prática de atividades físicas e outras iniciativas ligadas ao bem-estar. Incentivar a manutenção dessa qualidade de vida em tempos de pandemia é justamente o objetivo principal da campanha Se Cuida! Juntos na Quarentena, uma iniciativa lançada por Pfizer e Upjohn nas redes sociais como forma de reunir dicas práticas de autocuidado com o corpo e a mente por meio de vídeos com especialistas. É possível acessar esses conteúdos no Youtube Facebook Instagram e no site da Pfizer Brasil.
REFERÊNCIAS:
1 National Health System – UK [homepage na internet]. Clinical depression – Causes. Acesso disponível em: http://www.nhs.uk/conditions/clinical-depression/causes/
2 Depression and Other Common Mental Disorders: Global Health Estimates. Geneva: World Health Organization; 2017.
3 IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. – Rio de Janeiro. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2016 / IBGE 146 p. – (Estudos e pesquisas. Informação demográfica e socioeconômica, ISSN 1516-3296; n. 36). Acesso disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98965.pdf
4 Pesquisa Depressão, suicídio e tabu no Brasil: um novo olhar sobre a Saúde Mental. Pesquisa realizada com a população de internautas da classe ABC e residentes da capital paulista e de diferentes regiões metropolitanas do País (Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília). IBOPE Conecta; 2019.
5 Organização Mundial de Saúde – OMS. Prevenção do Suicídio um recurso para conselheiros. Departamento de Saúde Mental e de Abuso de Substâncias Gestão de Perturbações Mentais e de Doenças do Sistema Nervoso. Genebra 2006. Acesso disponível em: http://www.who.int/mental_health/media/counsellors_portuguese.pdf. Acesso em 20.05.2020.
6 Depression and Other Common Mental Disorders: Global Health Estimates. Geneva: World Health Organization; 2017.
7 Organização Pan-Americana da Saúde. Aumenta o número de pessoas com depressão no mundo. Acesso disponível para acesso em: http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5354:aumenta-o-numero-de-pessoas-com-depressao-no-mundo&Itemid=839. Acesso em 20.05.2020.
8 PRECOMA, Dalton Bertolim et al. Atualização da Diretriz de Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Arq. Bras. Cardiol. [online]. 2019, vol.113, n.4 [citado 2020-06-01], pp.787-891. Disponível em: . Epub 04-Nov-2019. ISSN 1678-4170. http://dx.doi.org/10.5935/abc.20190204.
9 Ministério da Saúde. Acesso disponível em: http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-467-de-20-de-marco-de-2020-249312996. Acesso em 19.05.2020.
10Anvisa. Acesso disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/noticias/-/asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/content/medicamentos-controlados-mudanca-de-regras/219201/pop_up?_101_INSTANCE_FXrpx9qY7FbU_viewMode=print&_101_INSTANCE_FXrpx9qY7FbU_languageId=pt_BR. Acesso em 19.05.2020.

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