Dentre as boas práticas desenvolvidas pelos municípios que compõem o Arranjo de Desenvolvimento da Educação (ADE) Granfpolis, destaca-se o município de São José (SC) como exemplo na formação continuada para professores e na aplicação de simulados e monitoramento do desempenho dos alunos. Os modelos foram apresentados aos secretários municipais de Educação que participam do ADE, no dia início do mês.
“Estamos constantemente apresentando novos modelos de gestão que se destacam no território para que sirvam de exemplo para outros municípios. A troca de experiências e informações é o grande diferencial do ADE e tem transformado a Educação da região. O trabalho em Regime de Colaboração tem feito a diferença nas escolas e na qualidade da Educação dos 21 municípios integrantes”, destaca a secretária Municipal de Educação de São José, Lilian Sandin Boeing.
De acordo com a diretora de ensino do município de São José, Cláudia Macário, os projetos desenvolvidos pela secretaria municipal são interligados. “Precisamos entender o perfil da rede, da escola e da turma. A aplicação dos simulados nos permite isso. A avaliação está atrelada à formação, pois dessa forma conseguimos analisar onde precisamos avançar nos projetos – entre eles, na formação continuada dos nossos profissionais. Não olhamos um projeto isolado e sim pensando no todo, professores e alunos”, explica.
Simulados e monitoramento do desempenho dos alunos
A gestão educacional de São José coloca a avaliação como prioridade no processo de ensino e aprendizagem. As ações foram pensadas em 2014, após a divulgação do Ideb de 2013. “Quando vimos os resultados, saímos da zona de conforto para mudar nossa forma de atuação. A nota final é o que menos vale, é preciso olhar a nota da aprendizagem. Com isso, houve um repensar na prática pedagógica por parte dos professores e um maior comprometimento da comunidade escolar”, comenta o assessor pedagógico da secretaria de Educação de São José, Vilmar Peres Junior.
A aplicação dos simulados no município iniciou em 2015, com o objetivo de acompanhar os estudantes e levantar subsídios pedagógicos ao trabalho das equipes gestoras, especialistas e docentes das unidades, bem como para a assessoria pedagógica da secretaria de Educação. “Inicialmente, aplicamos uma prova diagnóstica em todos os anos do Ensino Fundamental para entender os indicadores e compreender onde era preciso atuar enquanto secretaria de Educação e enquanto escola. Na sequência, passamos a aplicar simulados com relatórios de devolutivas para a equipe pedagógica, com rendimento por turma e erros, além de análise dos distratores e orientações sobre onde o professor precisa atuar para melhorar a capacidade de aprendizagem dos nossos estudantes”, destaca.
Em 2017, o processo foi aperfeiçoado, e, em 2019, quase 2,5 mil alunos do 5º ao 9º ano das 23 escolas municipais realizaram três simulados e mais a etapa final. Também foram realizadas mobilizações em formatos interativos, com “quizzes” e jogos. A avaliação contribuiu para maior integração entre os profissionais da rede e tem feito a diferença para os estudantes. “O que estamos vendo, desde 2015, é que os estudantes estão mais preparados e motivados para fazer a prova, compreendendo que são protagonistas desse processo”, complementa Peres Junior.
Formação continuada
A docência exige constante aperfeiçoamento para a melhoria das práticas pedagógicas e a construção do conhecimento dos estudantes. Várias empresas com profissionais qualificados estão no mercado com serviços de formação continuada. Porém, em São José são os próprios educadores da rede que exercem o trabalho de formadores, socializando seus conhecimentos teóricos e práticos em sala de aula. Desde 2018, o quadro de formadores é composto plenamente por educadores vinculados à rede municipal de ensino, nas diversas áreas do conhecimento. Os encontros são realizados na hora-atividade coletiva de cada área específica, mensalmente, na Casa do Educador, local destinado às formações para a rede de ensino.
“A equipe pedagógica da secretaria teve um papel muito importante no mapeamento dos profissionais com mestrado ou doutorado, que tinham interesse em compor o grupo de formadores, já que são profissionais que trabalham de forma muito próxima da unidade escolar”, explica a assistente pedagógica da secretaria municipal, Carla Cristofolini. Nesses dois últimos anos, a temática geral para a rede foi a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Os professores se reuniram para a organização do currículo da rede de São José, documento que está pronto para ser encaminhado ao Conselho Municipal de Educação. “Entendemos que mudar apenas o currículo no papel não é suficiente. A gente queria realmente colocar em prática a BNCC, estudando as habilidades e as competências dos estudantes. Foi um processo bem trabalhoso e dinâmico, mas muito prazeroso porque vai ser um currículo com a identidade do município.”, enfatiza Carla.
A mudança de modelo da formação continuada reforçou a valorização dos profissionais da própria rede. Existe um reconhecimento pelo trabalho dos professores consultores e dos participantes. Muitos trazem experiências da sala de aula para as formações, o que proporciona uma rica troca de conhecimentos. Tamanha oportunidade para melhorar resultou em ganho no rendimento dos alunos. Consequentemente, a rede foi beneficiada com aumento de qualidade, tanto no processo de ensino, como na aprendizagem.
A Secretaria de Educação de São José é responsável por grande parte do andamento dos projetos. Desde a seleção dos consultores do novo modelo de formação continuada até o acompanhamento das formações. Nos simulados, não é diferente. Todos os processos de elaboração, impressão, aplicação e devolutivas dos resultados são feitos dentro da secretaria. As iniciativa reduzem consideravelmente os custos do município com formação dos profissionais e avaliação dos alunos.
Os projetos desenvolvidos em São José são aplicáveis em qualquer rede. Foi criado um modelo a partir da realidade e do contexto da rede municipal. A secretaria ouviu os anseios dos professores, tomou a decisão de colocar em prática e tem dado certo. Já os simulados são encaminhados como modelo para outros municípios. Justamente o que prega o ADE: compartilhar experiências e trabalhar em colaboração.
Sobre os Arranjos de Desenvolvimento da Educação (ADEs)
Os Arranjos são um modelo de trabalho em rede, no qual um grupo de municípios com proximidade geográfica e características sociais e educacionais semelhantes buscam trocar experiências, planejar e trabalhar em conjunto – e não mais isoladamente, somando esforços, recursos e competências para solucionar conjuntamente as dificuldades na área da Educação. A proposta dos Arranjos foi homologada pelo MEC em 2011, e incluída como uma opção para o alcance das metas e das estratégias previstas no Plano Nacional de Educação, aprovado em 2014 (artigo 7º, parágrafo 7º).
O Brasil possui atualmente 14 ADEs, com 244 municípios trabalhando nesse modelo de colaboração, e alguns já conquistaram avanços consistentes que indicam que estão no caminho certo. Dedicado a estudar e a difundir a metodologia dos ADEs no Brasil, o Instituto Positivo é parceiro da Associação dos Municípios da Região da Grande Florianópolis (Granfpolis), em Santa Catarina, e, em uma articulação pioneira, lançaram em 2015 o primeiro ADE do Sul do país.
Sobre o ADE Granfpolis
Atualmente, 21 secretários de Educação da região e as suas equipes trabalham de forma conjunta, a fim de alcançar as quatro metas territoriais, definidas em comum acordo e que visam melhorar a qualidade do ensino no território. Fazem parte do ADE Granfpolis os municípios de: Águas Mornas, Alfredo Wagner, Angelina, Anitápolis, Antônio Carlos, Biguaçu, Canelinha, Florianópolis, Garopaba, Leoberto Leal, Major Gercino, Nova Trento, Palhoça, Paulo Lopes, Rancho Queimado, Santo Amaro da Imperatriz, São Bonifácio, São João Batista, São José, São Pedro de Alcântara e Tijucas.