Retomada de cirurgias eletivas durante a pandemia demanda gestão e eficiência de UTIs

A retomada de cirurgias e outros procedimentos eletivos, aqueles que não são de urgência e emergência, foi autorizada na última terça-feira (09) pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), enquanto no SUS os casos dependem de decretos estaduais.

A suspensão dos procedimentos —que começou na segunda quinzena de março— causou impacto na vida das pessoas que interromperam ou precisaram adiar seus tratamentos. A expectativa é que o sistema de saúde passe pela retomada mais preparado para situações de grande demanda de recursos de cuidados intensivos.

 

“Os hospitais e profissionais de saúde devem estar preparados para fazer rigorosas adaptações no fluxo para evitar o cruzamento com pacientes com suspeitas de Covid-19. Além dos cuidados amplamente conhecidos do uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), será recomendável que o paciente faça o teste para coronavírus antes de qualquer procedimento cirúrgico”, afirma o fisioterapeuta e gerente de marketing Marcus Magrin, da Mindray, multinacional provedora de dispositivos e soluções médicas de suporte à vida.

 

“No momento da cirurgia, é importante definir junto a equipe anestésica quem estará presente durante a intubação e extubação. A equipe cirúrgica deve permanecer fora da sala operatória até que a via aérea seja estabelecida e o paciente conectado ao aparelho de anestesia, em sistema fechado. A capacitação de uma equipe multidisciplinar para operar ventiladores mecânicos mostrou-se essencial no decorrer da pandemia e deve ser primordial a partir de agora”, acrescenta.

 

A Covid-19 provocou um rápido aumento na demanda de suporte ventilatório mecânico em quadros de síndrome respiratória aguda, o que levou ao aumento da procura por esses equipamentos. Por essa razão, a expectativa é que 2021 seja o ano da evolução do centro cirúrgico e da arquitetura hospitalar com UTIs mais bem equipadas, mais conectadas e equipes multidisciplinares menos operacionais e mais dedicadas aos cuidados com o paciente.

 

A regulamentação técnica em UTI, RDC 07 de 24/02/2010, recomenda no mínimo um ventilador pulmonar mecânico para cada dois leitos de UTI e prevê uma unidade adicional como reserva operacional a cada cinco leitos. Uma análise realizada pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS/FGV) em março revelou que a região do Rio de Janeiro conta com 39,7 respiradores a cada 100 mil usuários e a cidade de São Paulo conta com 55,5 respiradores a cada 100 mil usuários.

 

Especialistas afirmam que o volume de doentes à espera de cirurgia poderá ser crítico após a primeira onda da pandemia com o risco de colapso do sistema de saúde pela concomitância de tratamento postergado e novos pacientes acometidos por Covid-19. Os tratamentos eletivos têm baixa demanda por UTIs – apenas um em cada dez, e por prazo médio inferior a dois dias, de acordo com a Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde).

 

Segundo o Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC), a demora no início ou na continuidade do tratamento dos pacientes com doenças não emergenciais pode resultar em aumento da morbimortalidade, conceito médico que se refere ao índice de pessoas mortas em decorrência de uma doença específica dentro de determinado grupo populacional.

 

Números do Ministério da Saúde (junho de 2020):

  • 65.411: número total de ventiladores pulmonares no início da pandemia. Desses, 46.663 estavam disponíveis no SUS.
  • 2.651: número de equipamentos distribuídos pelo Ministério da Saúde para 22 estados brasileiros. Desse total, 1.486 são ventiladores de UTI.
  • 16.252: número de ventiladores pulmonares que são aguardados pelo Ministério da Saúde em contrato com fabricantes.

Referências:

Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). ANS restabelece prazos máximos de atendimento da RN nº 259. 09/06/2020. Disponível em:

http://www.ans.gov.br/aans/noticias-ans/coronavirus-covid-19/coronavirus-todas-as-noticias/5576-ans- restabelece-prazos-maximos-de-atendimento-da-rn-n-259

 

Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). AMIB apresenta dados atualizados sobre leitos de UTI no Brasil. Março de 2020. Disponível em: https://www.amib.org.br/fileadmin/user_upload/amib/2020/abril/28/dados_uti_amib.pdf

 

Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC). Orientações para o retorno de cirurgias eletivas durante a pandemia de COVID-19. Maio de 2020. Disponível em:

https://cbc.org.br/wp-content/uploads/2020/05/PROPOSTA-DE-RETOMADA-DAS-CIRURGIAS- ELETIVAS-30.04.2020-REVISTO-CBCAMIBSBASBOT-ABIH-SBI-E-DEMAIS.pdf

 

Instituto de Estudos para Políticas de Saúde – Fundação Getúlio Vargas (IEPS/FGV). Necessidades de Infraestrutura do SUS em Preparo à COVID-19: Leitos de UTI, Respiradores e Ocupação Hospitalar.

Março de 2020. Disponível em:

https://ieps.org.br/pesquisas/necessidades-de-infraestrutura-do-sus-em-preparo-ao-covid-19-leitos-de-uti- respiradores-e-ocupacao-hospitalar/

 

Ministério da Saúde. Mais de 2,6 mil ventiladores pulmonares entregues pelo Governo do Brasil. 02/06/2020. Disponível em:

https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46996-mais-de-2-6-mil-ventiladores-pulmonares- entregues-pelo-governo-do-brasil

<ariane.delgado@comuniquese1.com.br>

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