Motivados pela influência das mídias sociais na autopercepção das pessoas, muitos jovens começaram a ingressar mais cedo nos procedimentos estéticos e em cirurgias plásticas. Muitos deles começam na adolescência
Durante o isolamento social, você já parou para pensar quantas fotos você posta por dia no Instagram? Ou quanto tempo você passar diariamente conferindo as fotos de influenciadores no seu feed? Pois é, essa quantidade de horas observando imagens milimetricamente editadas para atingir a “perfeição” já estava influenciando a realização de procedimentos estéticos em todas as idades, inclusive entre os adolescentes, mas agora com o isolamento – e o celular sendo o melhor companheiro de muitos – o perigo é muito maior. “A adolescência é uma fase na qual a autoestima ainda depende muito de uma boa aparência, logo, aparecer bem nas selfies torna-se quase que uma obrigação. Isso leva o jovem a procurar formas de se sentir melhor e a cirurgia é uma delas”, explica o cirurgião plástico Dr. Mário Farinazzo, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e Chefe do Setor de Rinologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). “Entre os jovens, as queixas mais frequentes são: o formato do nariz, orelhas de abano e o tamanho dos seios, no caso das meninas.”
A verdade é que se os jovens millennials estão adiantando procedimentos estéticos para tratar sinais que ainda nem apareceram – e isso foi identificado há alguns anos como Dismorfia Snapchat ou Dismorfia Instagram – os adolescentes parecem ter embarcado na mesma onda, completamente influenciados pelas mídias sociais. Somente para ilustrar, um relatório publicado pela Fortune Business Insights, no começo desse mês, destaca que o tamanho global do mercado de implantes estéticos (mamários, dentários e faciais) deverá chegar a US$ 6,14 bilhões até 2026, exibindo um CAGR (taxa de crescimento anual composta) de 6,6% durante o período de previsão. Você imagina o porquê disso? “Desde o advento da Internet, o mundo mudou rapidamente para as plataformas de mídia social da comunicação cara a cara em busca de influenciadores. Os millennials e a geração Z (nascidos entre 1995 e 2015) são incentivados a seguir certos padrões de beleza em várias plataformas de mídia social como Instagram, Facebook e Twitter, bem como em vários sites de namoro. Há também o desejo de receber ‘likes’ e obter mais ‘seguidores’ nas mídias sociais, especialmente na população adolescente, que pensa nisso como sua posição social. No total, esses fatores motivaram muitos jovens a se submeterem à cirurgia plástica. Vários homens e mulheres solteiros ainda estão passando por uma cirurgia de aprimoramento de beleza para ficar bem em mídias sociais e sites de namoro, o que está alimentando ainda mais a receita global do mercado de implantes estéticos”, diz o relatório da Fortune Business Insights, que ainda destaca que a América Latina deve exibir um crescimento notável no mercado de implantes estéticos e o Brasil tem um enorme potencial de crescimento. “Além disso, os pacientes adolescentes estão cada vez mais informados e seguros daquilo que os incomodam e o que pode ser mudado. Isso é influência de um mundo conectado e com grande disponibilidade de informação. As selfies apenas realçam o objeto do incômodo”, diz o médico.
Segundo o cirurgião plástico Dr. Mário, a geração das selfies tem relação também com a autopercepção estética das pessoas. “O fato de se ter uma câmera nas mãos a todo o momento é um convite para o autorretrato de todos os ângulos e em todas as situações. Isso gera frustração, pois sempre existe um ângulo que desagrada, principalmente porque se compara com fotos de outras pessoas nas redes sociais ignorando o fato de que muitas delas são super produzidas e manipuladas digitalmente”, diz o médico. “E os jovens são mais afetados por este fenômeno”, acrescenta.
Um alerta importante é feito com relação às câmeras dos celulares, que causam um efeito chamado Fish Eye, que distorce a imagem deixando o nariz, por exemplo muito maior do que é na realidade. Principalmente nas selfies, quando o celular fica a uma distância muito curta em relação à face. “Quanto mais paralelos os feixes de luz entram na lente da câmera, mais a imagem formada corresponde à realidade. Acontece que, no caso dos celulares, por conta do tipo de lente e da sua distância em relação à face (selfies), esses feixes entram de forma não paralela. É um fenômeno físico, que é minimizado no caso de fotos mais profissionais”, diz o Dr. Mário.
A iluminação e o ângulo são outros dois pontos importantes para uma boa foto e que podem influenciar na autopercepção. “Tudo é uma questão do contraste entre a luz e a sombra e o ângulo escolhido. Tanto é que nas fotos que tiramos antes e depois das cirurgias, tudo tem de estar padronizado para poder ser comparado. A distância entre a câmera e o paciente, a intensidade e direção da luz e o tipo de lente devem ser sempre os mesmos. Isso é tão importante, que em alguns congressos médicos, uma foto mal executada pode significar o insucesso de toda uma apresentação”, afirma o médico.
Quando um paciente percebe, por conta de sua foto, um nariz maior do que realmente é, o médico diz que a conduta correta é tentar fazer entender que aquilo não corresponde à realidade. “Isso pode ser feito, tirando a mesma foto com a distância e a câmera adequadas”, diz.
Já para o caso em que há uma indicação cirúrgica de fato, o cirurgião plástico argumenta que não existe problema em fazer cirurgia em adolescentes. “A indicação para uma cirurgia está mais ligada ao problema do que à idade do paciente.” Mas é importante uma boa conversa com o médico antes de qualquer procedimento. “As pessoas estão cada vez mais críticas, e isso gera uma expectativa maior em relação aos resultados de uma cirurgia. Procure um cirurgião plástico membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e busque também recomendações. Nesse momento, aproveite a telemedicina para explicar ao médico o que incomoda”, finaliza.
FONTE: DR. MÁRIO FARINAZZO – Cirurgião plástico, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e Chefe do Setor de Rinologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Formado em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), o médico é especialista em Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Professor de Trauma da Face e Rinoplastia da UNIFESP e Cirurgião Instrutor do Dallas Rinoplasthy™ e Dallas Cosmetic Surgery and Medicine™ Annual Meetings. Opera nos Hospitais Sírio, Einstein, São Luiz, Oswaldo Cruz, entre outros. www.mariofarinazzo.com.br
https://www.
paula.amoroso@holdingcomunicacoes.com.br