Visitante indesejável e quase diário da quarentena, inchaço pode vir de diversos gatilhos

Consultamos médicos para investigar a grande questão com o nosso corpo no isolamento: por que estamos sentindo mais inchaço, no corpo e até no rosto, nessa quarentena?

Visitante indesejável e quase diário da quarentena, inchaço pode vir de diversos gatilhos

Ele vem nos visitar todo dia na quarentena – sem ser convidado e assumindo a postura de algo completamente indesejável. Estamos falando do inchaço, que traz aquela sensação de peso na barriga, nos flancos, nas pernas, nos braços e até no rosto. Temido por todos, ele nos afeta de maneiras diferentes. “Para alguns, a retenção hídrica acontece depois de uma grande refeição ou bebida, enquanto para outros é apenas uma parte desconfortável da vida cotidiana. Hábitos de vida desregulados, como falta de sono e atividade física insuficiente também podem estar relacionados”, afirma a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia. É uma reclamação tão comum que a indústria investe maciçamente em “chás desintoxicantes” – estimativa de cerca de US$ 69,85 bilhões até 2025 – o que sugere que estamos desesperadamente procurando por respostas erradas. “A verdade é que não existe um tratamento único para inchaço. A melhor abordagem é adequar a dieta e principalmente perceber os gatilhos para alterar os hábitos de vida”, diz a cirurgiã vascular e angiologista Dra. Aline Lamaita, membro do Colégio Americano de Medicina do Estilo de Vida.

De acordo com a médica nutróloga, o inchaço ou edema é na verdade sentido por conta do acúmulo de água nas células, a famosa retenção de líquidos, que embora seja pior no calor (quando ocorre uma vasodilatação), também pode acontecer no inverno principalmente por conta da alimentação, problemas hormonais (geralmente na tireoide) e alterações no rim e coração. “Também pode acontecer por uma sensação de aumento da pressão no intestino. A pressão acumulada pode resultar do grande volume de alimentos ou líquidos que você consumiu ou do gás produzido por nossos micróbios intestinais quando ingerimos grandes quantidades de carboidratos fermentáveis. Isso inclui muitos dos alimentos que ingerimos, desde frutas, legumes, grãos, laticínios, feijões e até leguminosas”, diz a nutróloga. “Este aumento no conteúdo estica essencialmente o intestino, dando a sensação de inchaço e flatulência.”

Existe outra situação que pode ser confundida com inchaço, que é a distensão abdominal, algo único para cada um de nós. “A sensibilidade aumentada no intestino tende a ser muito comum em pessoas com Síndrome do Intestino Irritável (SII) ou outros distúrbios intestinais”, diz a nutróloga, que destaca que existem dois tipos principais de distensão abdominal: intermitente e contínua. “A sensação ocasional é totalmente normal, especialmente após uma refeição pesada ou consumo de fibras em excesso. De fato, depois de uma refeição rica em fibras é bom sinal, pois significa que sua comunidade interna de micro-organismos está bem alimentada e fazendo seu trabalho. Mas se a distensão é contínua ou muito acentuada e desconfortável, ela deve ser investigada”, diz.

Você deve ter percebido que está inchando mais do que o normal durante a pandemia do Covid-19, e isso ocorre porque o estresse pode piorar o problema. A médica nutróloga Dra. Marcella Garcez explica que isso tem a ver com o eixo intestino-cérebro – em outras palavras, a comunicação bidirecional que ocorre entre nosso intestino e nosso cérebro. “Quando nos sentimos estressados (porque nosso cérebro está nos dizendo que estamos), nossa função intestinal também fica impactada, o que pode levar a inúmeras disfunções intestinais”, diz a médica.

O edema também pode começar em uma área como os membros inferiores e se disseminar de maneira ascendente. Segundo a angiologista, o inchaço também é um sintoma comum de má circulação sanguínea nas pernas de pessoas que sofrem por causa do fluxo de sangue das pernas de volta ao coração, resultando em edema (nas pernas) ou sensação de peso no corpo todo. “O acúmulo de líquidos pode ser um sinal de doença cardíaca onde o coração não pode circular sangue suficiente ao redor do corpo. Para prevenir a circulação sanguínea e manter um sistema vascular saudável, é importante manter um peso saudável. Quilos extras colocam mais pressão sobre o coração e reduzem o fluxo sanguíneo em todo o corpo”, explica a médica angiologista.

E ele pode atingir regiões superiores do organismo, frequentemente no período das manhãs, chegando ao topo – nosso rosto. Embora muita gente relacione o edema facial com o sono, às vezes, mesmo após uma noite bem dormida, o temível inchaço matinal aparece – e ele tem várias causas. “Durante o sono, o sistema linfático fica mais lento e, sendo ele o responsável pela absorção de líquido das células, há uma predisposição para esse inchaço. Além disso, há uma influência também da alimentação, bebidas alcóolicas, remédios, alterações hormonais, posição de dormir e até causas genéticas”, explica a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Então, que medidas práticas podemos tomar para aliviar o inchaço? As médicas concordam que, na grande maioria dos casos, o edema e a distensão abdominal podem ser reduzidos, ou até eliminados por completo, através de simples mudanças na dieta e no estilo de vida. É importante identificar gatilhos que afetam você especificamente. No entanto, quaisquer problemas em andamento devem ser discutidos com o seu médico.

Coma inteligentemente
“Uma boa estratégia é dividir a ingestão de alimentos em porções menores ao longo do dia”, recomenda a médica nutróloga. Por exemplo, comendo cinco pequenas refeições em um dia com intervalos de algumas horas pode ser mais interessante do que comer duas refeições pesadas durante o dia. Ela também aconselha cuidar de mastigar bem antes de engolir. Também é importante beber água (pelo menos dois litros por dia). “Água de coco e chá verde também são opções”, diz a Dra. Marcella. Mas sempre se lembre de controlar a quantidade de sódio (sal) nas refeições, pois ele colabora na retenção de líquido. “Temos visto que, dentro de casa por conta da pandemia, as pessoas acabam descuidando muito da alimentação e consomem mais produtos enlatados, em conserva, processados e ultraprocessados, ricos em sódio. E fique de olho em sucos de caixinha, que também têm muito sódio na composição”, afirma a Dra. Paola Pomerantzeff. Outro tipo de alimento que piora a questão do inchaço é o açúcar, portanto tome cuidado com o excesso de carboidratos em açúcares, massas, doces e farinhas refinadas.

Ingira fibras dos alimentos
Embora os suplementos possam ser úteis para alguns, a principal recomendação da médica nutróloga é uma dieta rica em fibras com muitos ingredientes à base de plantas. “Tirar proveito dos nutrientes e prebióticos que ocorrem naturalmente nos alimentos é absolutamente a melhor maneira de alimentar sua microbiota intestinal”, diz ela. O farelo de aveia também é uma excelente opção, juntamente com frutas como ameixa, mamão e abacate.

Muito, mas muito cuidado com chicletes e balas
Os adoçantes artificiais polióis (eritritol, lactitol, maltitol, manitol, sorbitol e xilitol), que são comumente encontrados em alimentos sem açúcar, devem ser evitados. “Eles não são digeridos pela parte superior do trato gastrointestinal e uma quantidade excessiva pode levar a formação de gases e provocar distenção abdominal”, diz a médica nutróloga. Aqueles com o hábito de estourar uma goma de mascar devem pensar muito, já que geralmente contém uma variedade de polióis.

Controle o estresse
“É importante atuar no gerenciamento de estresse: pratique meditação, mindfullness. Se estiver trabalhando em home office, a cada uma hora ou uma hora e meia, pare 15 minutos para respirar, tomar um café, ou simplesmente fechar os olhos. O tempo de recuperação é extremamente importante para manejo de estresse”, afirma a Dra Aline Lamaita. “Também é importante ter pelo menos sete horas de sono por dia. Faça uma higiene do sono antes de deitar, desligue os eletrônicos”, diz a médica. “Mas para evitar o inchaço facial, fique de olho na posição de dormir. Deitar de bruços é a opção que mais favorece o inchaço matinal do rosto. Se possível, eleve a cabeça com mais de um travesseiro e durma de barriga para cima. Isso também ajuda a não marcar tanto o rosto, o que favorece o aparecimento de rugas”, diz a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff. Se está com dificuldade para o controle do estresse, aposte em aplicativos de meditação por 15 minutos por dia para “relaxar e reconectar o eixo intestinal-cérebro” ou desfrutar de um longo banho. Enfim, procure maneiras simples de aliviar o estresse no seu dia-a-dia.

Roupas mais largas
Use roupas muito menos apertadas, para evitar uma piora na circulação. “No entanto, podemos indicar o uso de meia de compressão, pois são extremamente benéficas para a circulação”, afirma a Dra. Aline.

Aposte nos exercícios
Segundo a Dra. Aline, mesmo dentro de casa, com exercícios leves e alongamentos, é possível aliviar o inchaço, principalmente melhorando a questão da flatulência. Procure começar e terminar o seu dia com formas lentas e restauradoras de ioga. “Exercícios leves não apenas aumentam a frequência cardíaca, o que aumenta o fluxo sanguíneo para o intestino, mas também estimulam o cólon, o que significa que é mais provável que você vá ao banheiro – um passo útil na sua jornada de redução de inchaço”, diz a médica nutróloga. “Além disso, a própria contração muscular já contribui para a drenagem dos líquidos”, explica a Dra. Paola.

Por fim, ainda pode ser feita uma massagem, com ajuda de óleo hidratante, na região com inchaço. No caso do rosto, o uso de água termal gelada logo ao acordar, ou a lavagem com água fria, pode ajudar a estimular a circulação. A água termal com ativos calmantes pode ser deixada na geladeira à noite. “Logo após lavar o rosto, pela manhã, borrife no rosto. A temperatura fria do produto refresca e descongestiona a pele”, finaliza a dermatologista.

FONTES:
*DRA. ALINE LAMAITA: Cirurgiã vascular e angiologista, Dra. Aline Lamaita é membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine. Formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, a médica participa, na Universidade de Harvard, de cursos de pós-graduação que ensinam ferramentas para estimular mudanças no estilo de vida nos pacientes em prol da melhora da longevidade e qualidade de vida. A médica possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. http://www.alinelamaita.com.br/
*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.
*DRA. PAOLA POMERANTZEFF: Dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), tem mais de 10 anos de atuação em Dermatologia Clínica. Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina Santo Amaro, a médica é especialista em Dermatologia pela Associação Médica Brasileira e pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, e participa periodicamente de Congressos, Jornadas e Simpósios nacionais e internacionais. http://www.drapaola.me/

maria.claudia@holdingcomunicacoes.com.br

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