As portas que se abrem na Educação Básica

Celso Hartmann*

A escola é o porto seguro da humanidade, aquele lugar para onde todos olham, independente do credo ou posicionamento político, quando procuram por certezas, por um lugar confiável e estável no seio de uma sociedade que se transforma em ritmo alucinante. A pandemia do novo coronavírus estremeceu este sólido lugar, afastando milhares de crianças e jovens do ambiente escolar e ressignificando a sala de aula. Lembrando que a escola não é um ente isolado da sociedade, mas um espelho dela – e, como tal, precisa se adaptar aos desafios dos nossos tempos de mudanças cada vez mais rápidas e profundas.

Engana-se quem pensa que a pandemia deixará como legado para as escolas apenas novas plataformas para postagem de vídeos e tarefas escolares ou professores aptos a produzirem maravilhosas vídeo-aulas. O coronavírus abriu, para a Educação Básica, as janelas para uma jornada muito mais conectada, na qual alunos poderão ter aulas remotas, ao vivo, com profissionais de todo o planeta. A pandemia também escancarou a necessidade de revisão das propostas pedagógicas e disciplinares das escolas, que precisam abrir mais estradas, não serem limitantes, criarem mais itinerários formativos, ressaltarem as habilidades dos estudantes e darem a eles o poder de escolha sobre os assuntos nos quais querem se aprofundar.

Na pós-pandemia, a escola precisará ser diferente para sustentar uma sociedade que não cansa de se transformar: utilizar as plataformas de ensino remoto para propiciar aos estudantes contato com os melhores professores, não importa onde estejam, e, também, como apoio ao contínuo aprimoramento da equipe docente. Flexibilizar o currículo, eliminando o que ficar obsoleto e incorporando o que crescer em importância, dando poder de escolha ao aluno, sobretudo no Ensino Médio, e estimulando a formação de indivíduos independentes, úteis para a sociedade e responsáveis pelos seus atos.

O período de isolamento social trouxe também um olhar atento à saúde mental de nossas crianças e jovens, chegando a índices nunca alcançados de depressão e ansiedade nessa faixa etária e mostrando o quão importante é a convivência entre eles. A partir daí, pode-se destacar que a escola não é apenas um espaço de aprendizado de Matemática ou Geografia, mas onde se desenvolve a inteligência emocional, a amizade, o respeito pelo próximo, a conversa, o tão falado networking – que será cobrado lá na frente, no mercado de trabalho.

Isso sem falar na valorização da carreira docente. Desde que a pandemia do novo coronavírus começou, muitos olhares se voltaram para a importância que os professores têm na construção da sociedade. Isso se dá porque, com as crianças em casa, os pais conseguiram enxergar quão difícil é o processo de ensinar. Com ou sem tecnologia, com aulas on-line ou presenciais, teóricas ou práticas, o papel do professor nunca foi tão importante – e continuará sendo, com ou sem pandemia.

*Celso Hartmann é diretor-geral do Colégio Positivo.

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