Molly Everette Gibson quebrou o recorde de embrião congelado por mais tempo, o que é especialmente impressionante visto que a técnica de congelamento utilizada em 1992 dificultava as chances de sobrevivência dos embriões.
No dia 26 de outubro desse ano nasceu nos Estados Unidos a pequena Molly Everette Gibson, que foi gerada a partir de um embrião que estava congelado há 27 anos, assim impressionando profissionais da área, visto que esse período é um novo recorde de maior tempo congelado, que antes era de 24 anos. Hoje em dia, o fato pode parecer ordinário, principalmente devido aos avanços das tecnologias. Mas vale lembrar que a técnica é muito recente e em 1992, quando o embrião que gerou Molly foi congelado, o congelamento de embriões ainda era considerado um procedimento experimental. “Antigamente, os embriões eram realmente difíceis de serem congelados, pois desenvolviam cristais de gelo que danificavam as células, diminuindo suas chances de sobrevivência. Logo, o nascimento de um bebê a partir de um embrião congelado nessa época é realmente um feito impressionante”, explica o ginecologista e obstetra Dr. Rodrigo da Rosa Filho, especialista em reprodução humana e membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH).
Mas a boa notícia é que, atualmente, as técnicas modernas de congelamento de embriões já estão muito mais avançadas e garantem altas taxas de sucesso e sobrevivência, sendo assim fortemente recomendadas para preservar a fertilidade de pacientes com câncer, mulheres solteiras e quem deseja ter filhos em uma idade mais avançada. “Uma das técnicas mais modernas quando o assunto é congelamento de embriões é a vitrifiicação, na qual os embriões, após serem submetidos a um processo de desidratação, são rapidamente congelados a uma temperatura de 196°C negativos. Dessa forma, a qualidade do embrião é preservada, visto que não há formação de cristais de gelo ou danos celulares, o que faz com que sua sobrevivência ao descongelamento seja de 95%”, destaca o especialista.
E a técnica de congelamento de embriões não foi a única que evoluiu nesses 27 anos. De acordo com o especialista, hoje em dia já é possível também que os melhores embriões sejam selecionados para implantação no útero por meio de testes genéticos. Além disso, os embriões podem ser cultivados em laboratório até estágios mais tardios, o que garante maiores chances de sobrevivência dentro do útero. “Através da escolha assertiva, as chances de gravidez são muito maiores e são necessários que menos embriões sejam implantados no útero, o que reduz o risco de múltiplos bebês”, afirma o Dr Rodrigo.
Após o congelamento e a escolha dos embriões, geralmente realiza-se a fertilização in vitro, em que o embrião é reposicionado no interior do útero. E o que poucos sabem é que a implantação de embriões congelados possui taxas de sucesso iguais e até mesmo superiores à fertilização com embriões frescos. “Isso porque, para que os óvulos sejam coletados e fecundados em laboratório, é preciso realizar a indução medicamentosa da ovulação, que é feita por meio do uso de hormônios. E essa estimulação hormonal pode acabar prejudicando a receptividade endometrial e, consequentemente, a implantação do embrião no útero, o que não ocorre na técnica de transferência de embriões congelados, já que o endométrio é preparado isoladamente, não havendo interferência hormonal”, diz o médico.
Mas vale lembrar que cada caso é diferente do outro. Logo, antes de optar pelo congelamento de óvulos, o mais importante é que você consulte um médico especializado em reprodução. “Apenas ele poderá realizar uma avaliação de suas características individuas, levando em consideração fatores como idade e condições pré-existentes que podem interferir na fertilidade, para recomendar os procedimentos e técnicas de reprodução assistida mais adequadas para você”, finaliza o Dr Rodrigo da Rosa Filho.
*DR. RODRIGO DA ROSA FILHO: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana, membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo.